Um olhar sobre a dislexia: educação infantil e primeira fase do Ensino Fundamental na escola pública

UM OLHAR SOBRE A DISLEXIA:

EDUCAÇÃO INFANTIL E PRIMEIRA FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA PÚBLICA

Jandira Aparecida Souza

Rede municipal de ensino de Santa Vitória - MG

Alessandra Regina Auad

CEPAE - UFG

INTRODUÇÃO

O que justifica este estudo é o interesse pelas dificuldades de aprendizagem, em especial a dislexia e a necessidade de um diagnóstico das crianças com problemas de leitura e escrita no cotidiano escolar para verificar se são disléxicas e encontrar formas de trabalhar com elas para que tenham sucesso em sua aprendizagem.

A dislexia é uma incapacidade parcial de a criança ler compreendendo o que se lê mesmo com inteligência normal como as outras crianças, sem problemas de audição ou visão, vindas de lares sem privação tanto de ordem doméstica quanto cultural. (MARTINS, 2001).

Sabendo que o objetivo principal de todo sistema de educação consiste nas competências da leitura e da escrita, já que elas são as bases para as demais aprendizagens, (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]) é mister que toda equipe escolar se sinta responsável para que todos os alunos alcancem estas competências.

O professor convive com seus alunos durante os momentos de aprendizagem, sendo, pois o mediador entre a identificação de uma criança que apresenta indícios em dislexia e o encaminhamento à equipe médica, como também os profissionais especializados que irão fazer o diagnóstico preciso desta dificuldade.

O ideal é que a partir do momento em que seja detectado algum indício de dislexia, desde a educação infantil ou na primeira fase do ensino fundamental, seja feita uma avaliação para comprovar se a criança é disléxica.

O discurso dos gestores da educação é uma educação com qualidade, todas as crianças alfabetizadas a partir dos seis anos de idade, no entanto, as crianças que apresentam dificuldades em leitura não conseguirão aprender a ler, a escrever, produzir um texto, colocar suas idéias no papel, ler com fluência como as outras crianças.

Por isso é importante diagnosticar, avaliar e tratar a dislexia, conhecer seu tipo, sua natureza; é um dever do Estado, como atesta a LDB 9.394/96, no artigo 4º, sendo, um direito de todas as famílias com crianças disléxicas em idade escolar (MARTINS, 2001).

Não podemos mais fechar os olhos, continuar contribuindo para que a sociedade padeça com as consequências que a falta de informação sobre os problemas escolares traz. Precisamos urgentemente lutar para que as informações sobre novas formas para aprender cheguem às escolas e todos os interessados tenham acesso (DINIZ, 2007).

OBJETIVO

Este estudo objetiva buscar caminhos para que seja feita a identificação precoce da dislexia, a partir do momento em que seja detectado algum problema de leitura desde a educação infantil e início do ensino fundamental, pois um dos grandes problemas enfrentados pela escola é a dificuldade na leitura e escrita, o que tem levado muitas crianças a abandonar os estudos por não conseguir superar essa dificuldade.

TENTANDO ENTENDER A DISLEXIA.

Segundo Martins (2001), cerca de 15 milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de necessidade especial, as quais podem ser: mental, auditiva, visual, física, conduta ou deficiências múltiplas. Para o mesmo autor noventa por cento das crianças que frequentam a educação básica possuem algum tipo de dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem.

De acordo com Martins (2001), a dislexia é uma incapacidade parcial de a criança ler compreendendo o que se lê mesmo tendo inteligência como as outras crianças, sem problemas de audição ou visão, vindas de lares sem privação tanto de ordem doméstica quanto cultural. Para ele, dentre as dificuldades em aprendizagem a dislexia é a de maior incidência, merecendo como tal uma atenção especial por parte dos gestores das políticas educacionais, especialmente da educação especial.

O autor coloca a questão da escola pública e da criança pobre que, por falta de condições não é diagnostica na infância e o problema persiste na fase adulta. Em contrapartida a criança cuja família possui melhor poder aquisitivo é levada ao psicólogo, neurologista ou psicopedagogo mais cedo, sendo diagnosticada a dificuldade, a partir de intervenções médicas ou psicopedagógicas consegue progredir nos estudos (MARTINS, 2001).

Para Martins (2007), não é fácil conhecer o cérebro dos disléxicos, é necessário aprofundar nos fundamentos psicolinguísticos da lectoescrita . Mas os disléxicos são diferentes dos colegas da sala de aula, suas dificuldades lectoescritoras são específicas e individuais. Ele faz um questionamento que também serve para nós professores que lidamos com dificuldades de leitura em nossas salas de aula. Os métodos de alfabetização em leitura levam em contas diferenças individuais? Martins (2007) também questiona que os métodos pedagógicos, quase sempre, são eficientes em salas de crianças ditas normais, mas ineficientes em crianças especiais. Ele ainda considera importante o acompanhamento dos docentes e principalmente dos pais de crianças disléxicas para entender melhor os métodos de estudos adotados em instituições de ensino.

Para Shaywitz (2006), um grande número de meninos e meninas que deseja aprender, alguns muito inteligentes, passa por sérias dificuldades quando aprendem a ler, mas não por culpa deles. Essa dificuldade em aprender a ler se chama dislexia.

Para a mesma autora, a maior parte das crianças deseja aprender a ler como todo ser humano, grande parte consegue até rapidamente. Mas para a criança disléxica a experiência é diferente, o que parece ser algo fácil para as outras crianças, é algo inatingível. (SHAYWITZ, 2006)

As novas descobertas científicas sobre a leitura e a frustração pela falta de disseminação e aplicação prática desses avanços levaram a doutora Sally Shaywitz, no ano de 2006, a escrever e publicar o livro Entendendo a Dislexia para pais de crianças disléxicas. Segundo a autora, de acordo com esses avanços da ciência agora é possível identificar precocemente as crianças que têm dislexia para tratar as suas dificuldades, ajudando-as a aprender a ler e ajudar adolescentes, jovens ou adultos com o problema.

Tão nocivo quanto qualquer vírus que ameaça os tecidos e órgãos, a dislexia pode infiltrar-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa, sendo frequentemente descrita como uma incapacidade oculta, porque se pensava que não apresentava sinais visíveis. A dislexia, porém, só se oculta àqueles que não têm de viver com ela e sofrer seus efeitos.

(...) Antigamente, as dificuldades de leitura podiam ser explicadas de várias maneiras. Hoje, contudo, é possível apontar para uma imagem do funcionamento interno do cérebro, o que se faz por meio da nova tecnologia de imagem cerebral, e dizer: “Veja isto aqui. É aqui que está a raiz do meu problema”. Sabemos exatamente onde e como a dislexia se manifesta no cérebro. (SHAYWITZ, 2006, p.19)

Segundo Shaywitz (2006), hoje, o campo da neurociência está explodindo de tantas novidades. As descobertas sobre a compreensão dos mecanismos cerebrais ligados à leitura são revolucionárias. Essas informações pareciam ser um segredo bem guardado. Estamos vivendo em uma era em que, pelas imagens cerebrais, através da ressonância magnética, podemos ver a imagem do cérebro de um indivíduo que lê e literalmente observar seu cérebro em ação, por isso é inaceitável que adultos e crianças ainda passem por dificuldades de leitura sem poder se beneficiar da neurociência moderna.

Em 7 de novembro de 1896, o Dr. W. Pringle Morgan, de Seaford, escreveu que um adolescente de 14 anos, menino brilhante e inteligente, rápido nos jogos e em nenhum aspecto inferior aos colegas, tinha uma incapacidade de ler (SHAYWITZ, 2006).

O referido médico captou elementos subjacentes ao que hoje chamamos de dislexia do desenvolvimento. Ao analisar as dificuldades do adolescente ele percebeu que o déficit parecia envolver a leitura de letras e palavras, o adolescente se dava muito bem em matemática. O Dr. W. Pringle Morgan, em 1896, foi o primeiro médico a considerar a “cegueira verbal” (o termo dislexia ainda não era usado de maneira corrente) como uma disfunção de desenvolvimento que ocorre em crianças saudáveis (SHAYWITZ, 2006).

Muitas vezes lidamos com problemas parecidos, crianças que não conseguem resolver operações matemáticas porque não conseguem ler o enunciado, mas se for feita a leitura oral, resolvem as operações sem dificuldades.

A citação acima nos mostra que houve grande preocupação com o problema da dificuldade de leitura desde o século XIX. E mais uma vez notamos o quanto os problemas de aprendizagem, tudo que se relaciona à educação é moroso e desperta pouco interesse por parte dos gestores das políticas educacionais.

Para Martins (2002), a linguagem é fundamental para o sucesso escolar, estando presente em todas as disciplinas e todos os professores são professores de linguagem, pois utilizam a língua materna para transmitir informações.

No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia como "a-o", "e-d", "h-n" e "e-d", por exemplo.

(...) As crianças disléxicas apresentam uma caligrafia muito defeituosa, verificando-se irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de concentração e de fluidez de raciocínio.

(...) As crianças disléxicas apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço como " b-d". "d-p", "b-q", "d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: "d-t" e "c-q", por exemplo.

(...) Na lista de dificuldades dos disléxicos, para o diagnóstico precoce dos distúrbios de letras, educadores, professores e pais devem ter atenção para as inversões de sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos" bem como a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras (MARTINS, 2001, p.4).

Por isso, faz-se necessário um diagnóstico precoce já nos primeiros anos da educação infantil, com crianças de quatro a cinco anos de idade, pois se isto não acontecer, os distúrbios de letras podem levar crianças de oito a nove anos, no ensino fundamental, a apresentar perturbações de ordem emocional, afetiva e linguística. (MARTINS, 2002).

Para o diagnóstico precoce da dislexia, pais e professores precisam atentar para dois importantes indicadores que é a história pessoal do aluno e as manifestações linguísticas nas aulas de leitura e escrita. Quando pais e professores encontram crianças inteligentes e saudáveis, mas que não conseguem ler entendendo o que lê, devem fazer uma investigação da história da criança para verificar se existem casos de dislexia na família. Geralmente a história pessoal de um disléxico possui traços comuns como atraso na aquisição da linguagem, na locomoção e problemas na lateralidade (MARTINS, 2002).

Segundo Shaywitz (2006), a dislexia é uma disfunção oculta e como não se pode ver como se vê um osso quebrado através do raio X, os céticos tentaram explicá-la. “Depois de muito tempo, graças às imagens funcionais, os leitores disléxicos apresentam provas concretas da realidade física de sua dificuldade de leitura” (SHAYWITZ, 2006, p.77). Para a mesma autora, no futuro poderá ser feita uma detecção mais precoce e uma possível intervenção da dislexia por meio de imagens funcionais mesmo antes de a criança aprender a ler, além da detecção em adultos para terem um bom desempenho.

Shaywitz ainda coloca que a aplicação de imagens funcionais, por meio da ressonância magnética, poderá nos guiar no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e mais precisos, mas “enquanto isso não ocorre, é possível usar o que aprendemos em pontos fracos fonológicos e sobre os pontos fortes substanciais do leitor disléxico para oferecermos a ele melhores soluções em todos os níveis” (SHAYWITZ, 2006, p.77).

DESCOBRINDO A CRIANÇA DISLÉXICA

Segundo Shaywitz (2006), o primeiro sinal indicativo da dislexia pode ser um atraso na fala. Geralmente as crianças falam suas primeiras palavras por volta de um ano e as primeiras frases por volta de um ano e seis meses. Pode acontecer de crianças vulneráveis à dislexia não começar a pronunciar as primeiras palavras antes de um e as frases antes de dois. É um atraso modesto que os pais podem considerar como um histórico familiar. A mesma autora diz que o avô de seu paciente deu de ombros quando constatou a demora em falar do neto, aos dois anos, dizendo que o pai do mesmo demorara. E durante a avaliação se constatou que o pai era um disléxico que nunca fora diagnosticado.

Muitas são as situações parecidas em nossas escolas, pessoas que desistiram dos estudos pelas dificuldades encontradas na leitura e não souberam ser disléxicas.

Quando a criança começa a falar, as dificuldades na pronúncia – às vezes chamada de “conversa de bebê” – que continuam além do tempo normal podem ser outro sinal precoce. Por volta dos 5 ou 6 anos, a criança deve ter poucos problemas para pronunciar a maioria das palavras corretamente (SHAYWITZ, 2006, p.84).

Frank (2003) mostra que, embora os pais não percebam, a criança que sofre de dislexia pode viver com medo, ela vivencia sua vida secreta de maneira singular, tem consciência de que não é como as outras, mas permanece calada. Os pais podem perceber que o filho não está acompanhando o ritmo dos outros por alguns indícios: baixa autoestima; dificuldade para soletrar; dificuldade para ler em voz alta; confusão entre esquerda e direita; problema para seguir direções; demora para terminar exercícios de escrita; dificuldades com matemática; relutância em ir à escola. A dislexia é um transtorno invisível, mas a criança pode achar que todos veem o seu problema.

Para Shaywitz (2006), a maior parte dos alunos da pré-escola gosta muito de brincar com sons e rimas. Muito do humor dos livros para essa faixa etária explora a fascinação das crianças por rimas. Alunos de três e quatro anos se divertem muito ao ouvir e repetir sons e rimas. As crianças disléxicas têm dificuldade para penetrar na estrutura sonora das palavras e são menos sensíveis às rimas. A sensibilidade à rima implica uma conscientização da divisão das palavras em segmentos menores de som e palavras diferentes podem ter um som comum. Essa habilidade indica que a criança está pronta para a leitura. A habilidade com rimas é um forte indicativo do sucesso na leitura.

Para Frank (2003), os indícios de que uma criança é disléxica não se cristalizam até que a dislexia possa ser diagnosticada claramente, embora estes possam ser detectados antes de começar a vida escolar, como o atraso na fala. Até os cinco ou seis anos é comum crianças inverterem palavras quando lêem ou escrevem, mas ao completar oito anos, esses sinais indicam um problema mais sério. Na 3ª série (4º ano) exames específicos podem revelar que a criança tem dislexia.

A criança disléxica desde a pré-escola apresenta dificuldades para decorar cantigas de rodas, tem dificuldades para amarrar cadarços dos sapatos ou calçá-los, para se vestir sozinho, abotoar a roupa é quase impossível para ela. Confunde também tempo e espaço, hoje, amanhã, ontem, direita, esquerda, para cima e para baixo. Apresenta dificuldade com a seqüência, nunca sabe o dia, mês ou ano em que está. Não consegue se expressar com clareza, se perde no meio do discurso. (LOPES e OLIVEIRA, 2007).

Na literatura brasileira atual, dentre as dificuldades apresentadas por disléxicos em idade escolar, se destacam inabilidade para a aprendizagem da leitura e como consequência para a escrita, dificuldades para fixar o alfabeto, tabuadas e sequência de eventos, falta de atenção e concentração, dificuldades com rimas e aliteração e dificuldade de memória a curto prazo (SANTOS, JORGE, 2007).

Para FRANK, esta “dificuldade com a memória – tanto a curto como em longo prazo – é um dos aspectos da dislexia mais dolorosos” (FRANK, 2003, p. 11). Silveira (2004) também considera que a dificuldade que permeia a dislexia é a memória, além de problemas no processo fonológico e problemas na linguagem oral.

Frank (2003) diz que a criança disléxica vive sob pressão, se sente envergonhada com seu problema, tem medo que descubram, então tenta evitar situações em que possa ser descoberta. Isso pode acontecer em nossas escolas, em nossas salas de aula e talvez nem percebamos que um aluno possa estar reagindo assim porque tem um problema de aprendizagem e às vezes os tachamos de indisciplinados, desinteressados, etc.

A criança com dislexia vive com seus medos secretos de modo que as outras nunca vão saber. É impossível para ela não invejar as outras crianças e desejar poder ser como elas. Essas diferenças podem não ser tão visíveis na pré-escola ou no 1º ano da vida escolar, mas a partir do 3º ano, ela vai ter uma forte sensação de que não é como as outras crianças (FRANK, 2003).

Geralmente a criança disléxica é triste e deprimida devido aos seus fracassos na tentativa de superar suas dificuldades, outras vezes se mostra agressiva e angustiada. Todos esses sentimentos de inferioridade provocam frustrações como a reprovação e a evasão. Podem ocorrer consequências mais profundas como diminuição do auto conceito, reações rebeldes e até delinquências (KAPPES et al., 2006).

Segundo Frank (2003), quase sempre é o professor quem percebe primeiro os sinais da dislexia. As suspeitas costumam aparecer quando uma criança brilhante demonstra problemas de leitura.

Mas Frank (2003) acredita que os pais são quem mais conhecem o filho e podem perceber os primeiros sinais visíveis de baixa auto-estima como comentário tipo “sou tão burro” ou notar que o filho não quer mais ir à escola como antes. Os pais podem perceber as dificuldades de ortografia do filho ou em seguir instruções ou em lembrar fórmulas matemáticas. Também podem perceber se ele tem mais problemas de lateralidade em relação aos irmãos quando tinham sua idade. Os pais também devem estar atentos se tem casos de dislexia na família (FRANK, 2003).

Para Kappes et al. (2006), os pais conhecem os filhos mais do que ninguém e por isso precisam ficar atentos a frustrações, tensões, ansiedades, baixo desempenho, pois é deles a responsabilidade de ajudar a criança a ter resultados melhores e deve partir deles a procura de profissionais para a realização de um diagnóstico multidisciplinar, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico e intervenção, maiores são as oportunidades de sucesso.

Para Frank (2003), a partir do momento que os pais suspeitarem que o filho possa ter dislexia, se ele já estiver na 3ª série (4º ano), deve pedir uma avaliação à escola. Quanto mais rápido conseguir os profissionais adequados trabalhando em benefício do filho, melhor. Segundo Frank (2003), é melhor procurar ajuda e descobrir que o filho não precisa, do que descobrir que ele precisava e nada foi feito.

Segundo Kappes et al (2006, p.3), a neurologista inglesa Guinevere Éden, do Centro de Investigação Neurológica de Georgetown fez uma pesquisa com cérebros de disléxicos a qual constatou que uma das características comuns às crianças disléxicas é a dificuldade em que direção os objetos se movem. Esta pesquisa tornou possível verificar, por meio da ressonância magnética funcional, que o cérebro de um disléxico é anatômico e fisiologicamente diferente de um não disléxico. Pelos exames foi possível constatar que o hemisfério direito, não relacionado à linguagem apresenta maior atividade que o esquerdo.

Segundo Frank (2003), a criança com dislexia frequentemente inverte ou mistura as letras, aro se torna ora, a palavra é inteligível porque as letras estão muito confusas. “Pense como seria incrível se as palavras de fato dançassem em uma página; imagine que você abriu seu romance preferido e descobriu que as palavras estão lá, mas algumas no lugar errado” (FRANK, 2003, p. 29).

Quando se trata de escola e notas, há muitos fatores trabalhando contra a criança com dislexia. Um deles pode ser o ponto de vista do professor, suas expectativas ou a falta de conhecimento ou o conhecimento errado da dislexia. Muitos professores não conseguem deixar passar os erros de ortografia ou a letra malfeita (FRANK, 2003).

Crianças que não têm dislexia podem ter notas baixas por muitos motivos, poucas horas de sono, excesso de atividades, falta de disciplina para estudar, mas a criança com dislexia pode se esforçar bastante, estudar muito, passar horas fazendo as tarefas e mesmo assim tirar notas apenas na média (FRANK, 2003).

A dislexia frequentemente não é percebida. Shaywitz fala sobre a preocupação da mãe de uma criança:

Todas as pessoas parecem dizer que não há problema, apesar de isso não conferir com o que vemos no dia a dia. Será que é tudo imaginação? Eu acho que não. No fundo, eu sei que deve haver algum tipo de problema. Apesar de todo esforço de Ashley e de sua boa atitude, apesar de todo o tipo de apoio que recebe de sua escola e de nós, ela não está aprendendo a ler (SHAYWITZ, 2006, p.109).

Essa história não é incomum. Inúmeras crianças que sofrem muito para aprender a ler não passam por nenhum diagnóstico. Essa criança tem um fator que a torna disléxica, embora não tenha sido feito nenhum diagnóstico, um histórico familiar de problema de leitura.

Segundo Shaywitz, “a avaliação de hoje em dia coloca em prática tudo o que aprendemos sobre a leitura e os problemas de leitura. É uma avaliação focada, segue uma determinada estrutura e reflete um raciocínio científico” (SHAYWITZ, 2006, p.109).

Para a autora, a triagem realizada na pré-escola deve ser utilizada pela escola para determinar quais crianças parecem estar preparadas para a leitura e quais podem estar em situação de risco. Essas triagens, segundo ela, podem ser realizadas pelo professor na sala de aula, de forma simples (SHAYWITZ, 2006).

Em meados de 1925, foi realizada uma pesquisa em unidades de saúde mental, nos Estados Unidos, mostrando a dificuldade de ler, escrever e soletrar. A partir daí, outros autores começaram a estudar descrevendo o distúrbio (KAPPES et al., 2006). “Oftalmologistas norte-americanos ajudaram a identificar o distúrbio, dizendo: “Não são os olhos que lêem, mas o cérebro”” (KAPPES et al., 2006, p.1).

Conforme atesta Kappes et al (2006), no Brasil, foi criada a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), em 1983, em São Paulo, capital, tendo como objetivo esclarecer, divulgar, ampliar conhecimentos e ajudar as crianças com dislexia em sua dificuldade específica de linguagem. A criança com dislexia quando diagnosticada e tratada de forma adequada pode ter melhora de até 80% (KAPPES et al, 2006).

“Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas inteligentes e até mesmo geniais experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, é desafio que a Ciência vem deslindando paulatinamente” (DINIZ, 2007, p. 62) O avanço tecnológico trouxe nos últimos dez anos, com a técnica da ressonância magnética funcional, respostas significativas sobre o que é Dislexia (DINIZ, 2007).

Entender o que é dislexia é entender o ser humano: quem somos; o que é Memória e Pensamento – Pensamento e Linguagem; como aprendemos, por quê podemos encontrar facilidades que se entrelaçam com dificuldades até básicas em nosso processo individual de aprendizagem. A dificuldade em entender isso se baseia no conceito arcaico de que quem é bom é bom em tudo, quem é inteligente tem que saber tudo. Howard Gardner, um dos maiores educadores de todos os tempos, aprofundou essa questão em suas pesquisas e estudos registrados, transformados em pesquisa cientificamente comprovada em sua obra, Inteligências Múltiplas (DINIZ, 2007). A referida obra comprova que as pessoas possuem diferentes inteligências, podendo ser brilhantes em determinada inteligência, mas com dificuldades em outra. Portanto, quem é bom não é bom em tudo e nem tampouco tem que saber tudo.

Dislexia tem base neurológica, portanto “existe uma incidência expressiva de fator genético em suas causas, transmitido por um gene de uma pequena ramificação do cromossomo seis que por ser dominante torna a Dislexia altamente hereditária, o que justifica que se repita nas mesmas famílias” (DINIZ, 2007, p. 62).

No disléxico, a área específica de seu hemisfério cerebral lateral direito é mais desenvolvida do que os leitores normais. Isso justifica segundo alguns estudiosos, seus dons relacionados à sensibilidade, as artes, atletismo, mecânica, visualização em três dimensões, criatividade na solução de problemas e habilidades intuitivas (DINIZ, 2007).

Devido à falta de conhecimento, de definição do que é Dislexia, foi criado um mundo diversificado de informações que além de confundir, desinforma. No Brasil, a mídia nas poucas vezes que abordou o problema, o fez de maneira parcial, de forma inadequada ou fora do contexto global das descobertas atuais da Ciência (DINIZ, 2007).

O que se espera é a criação de estruturas mais adequadas para atender às necessidades destas pessoas, evitando o risco de serem reconhecidas apenas pelas dificuldades, sem levar em conta seus talentos, os quais poderiam contribuir para o desenvolvimento da sociedade em que vivem (DINIZ, 2007).

Devido ao seu comprometimento neurológico, a Dislexia gera polêmica, no entanto é preciso compreender que apenas a causa e a diagnose pertencem à área da Saúde, reconhecer as características precocemente, as consequências, as soluções como também as adaptações pertencem à Educação. Precisamos ter em mente que não existem disléxicos entre os analfabetos, pois é na sala de aula que a Dislexia se faz presente, infelizmente de forma catastrófica, às vezes até irreparável (DINIZ, 2007).

Gostaria de encerrar este tópico com a fala de Sally Shaywitz:

... a identificação precoce, quando conectada a programas eficazes de intervenção, podem fazer a diferença. Tal intervenção pode garantir que a maior parte das crianças de hoje jamais tenha de passar por problemas de leitura. O auxílio para a realização desse procedimento está disponível hoje como nunca esteve antes (SHAYWITZ, 2006, p.122).

Nós podemos lutar para que sejam feitas as intervenções quando detectarmos crianças com problemas de leitura que pode ser dislexia. Os procedimentos estão disponíveis, talvez o que esteja faltando seja a busca dos mesmos.

A DISLEXIA NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM

José Esteves em sua obra A Terceira Revolução Educacional (2004), afirma que “estamos vivendo um período singular no processo educacional no mundo onde a educação passou a ser vista não só como um direito a todos de ingresso, mas também de permanência e que esta seja sinônimo de sucesso escolar” (GONÇALVES, [entre 2001 e 2007], p. 2).

Para Gonçalves [entre 2001 e 2007], o novo olhar acerca deste sujeito portador de singularidades orgânicas, funcionais ou sintomáticas na sala de aula é que dará á educação condições de construir um novo caminho frente aos desafios de olhar cada aluno com suas diferenças possibilitando a todos a igualdade de oportunidades de aprendizagem.

Diniz (2007), ainda coloca que uma das grandes frustrações dos pais é saber que o filho tem problemas escolares, ficam sem saber o que fazer. O ideal seria procurar apoio nas escolas, com os professores, no entanto estes também não sabem o que fazer porque não foram instruídos. As universidades não capacitam os educadores para lidar com os sérios problemas de aprendizagem. Todos apontam o dedo para o aluno. Uma criança com dificuldades escolares carrega a pesada cruz de não saber como vencer suas dificuldades, é como ter uma bomba nas mãos.

Todos os educadores, sejam pais ou professores, devem ter como base ética o compromisso de acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem da criança, buscando novas formas de aprendizagem e novos programas e processos de ensino que possam colaborar para a inclusão dessa criança no mundo das letras, ajudando-a a sobreviver dentro deste único modelo de escola que existe (DINIZ, 2007).

“Não podemos mais continuar contribuindo para que nossa sociedade padeça com as conseqüências que a desinformação dos problemas escolares promove, não podemos mais fechar os olhos e calar” (DINIZ, 2007, p. 5). Para a autora, todos nós precisamos urgentemente lutar para que as informações sobre novas formas de aprender cheguem até as escolas para que educadores e pais tenham acesso a elas (DINIZ, 2007).

Para Kappes et al (2006), os professores precisam estar atentos para esta realidade e para as particularidades do seu grupo de trabalho. Ao detectar os sintomas devem sugerir um encaminhamento clínico para a criança e, após diagnosticado o quadro, faz-se necessária uma grande dedicação ao aluno em sala de aula e ao longo do tratamento que deve envolver em partes iguais a escola, a família e os profissionais de saúde.

Para a mesma autora, o professor que deseja ajudar seu aluno sabe que é preciso encaminhá-lo para tratamento, colaborando com ele, sabendo que o atendimento gratuito é sujeito a grande espera e que pelo nível econômico da maioria de seus alunos não se consegue um tratamento particular. É preciso um trabalho paciente e constante.

Os sintomas que podem indicar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem, não confirmam a dislexia (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007], p.11). De acordo com a proposta de Mabel Condemarin (1989, p.55 apud SILVA, SOUZA, CRUVINEL [entre 2001 e 2007, p.11], p.11), a dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem (leitura, escrita e ortografia), no início pode ser diagnosticada informalmente pelo professor de língua materna, com formação em Letras ou Pedagogia, por intermédio da medição da velocidade da leitura da criança. Quando for identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, percebido tanto na escola como em casa, deve-se procurar ajuda especializada. Uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo clínico, neurologista, etc. deve dar início a uma investigação minuciosa. Para um diagnóstico mais preciso esta equipe deve procurar o parecer de outros profissionais como neurologista, oftalmologista e outros. Antes de confirmar o diagnóstico de dislexia ou descartar, a equipe deve verificar todas as possibilidades, ou seja, Avaliação Multidisciplinar e de exclusão (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007], p.11).

Os métodos de alfabetização mais recentes, onde a criança aprende a identificar as palavras como um todo tem conduzido a uma identificação mais rápida do disléxico. O método fônico que não impõe tanta carga ao disléxico permite que alguns casos passem mais tempo despercebidos (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007], p.13).

É preciso melhorar a auto-estima dessa criança, valorizando o que gosta e faz bem feito, ressaltando os acertos ainda que pequenos, não enfatizando os erros. É importante valorizar o esforço e interesse do aluno, atribuir-lhe tarefas para que ele se sinta útil; não usar a expressão tente esforçar-se ou algo semelhante, pois ele está fazendo o melhor que pode. Respeitar o seu ritmo, pois esta criança tem problemas de processamento de informação, demorando mais tempo para pensar e dar sentido àquilo que foi ouvido. Para que o professor consiga elevar a auto-estima de um aluno, ele precisa estar interessado nele como pessoa (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]).

Para estas autoras, ao monitorar as atividades destes alunos, faz-se necessário certificar de que as tarefas de casa foram compreendidas, anotadas corretamente, que o aluno compreendeu o enunciado ou a questão, ao verificar que ele não compreendeu é preciso ler as instruções para ele, levando em conta as dificuldades específicas de cada um. É importante estimular a expressão verbal, dar instruções, orientações curtas e simples, orientando o aluno sobre como se organizar no tempo e no espaço. É importante também não insistir em exercícios de fixação repetitivos ou numerosos, pois isso não diminui a dificuldade, é preciso explicar como fazer se posicionando ao lado do aluno e nunca insistir para que o aluno leia em voz alta perante a turma, já que ele tem consciência do erro. O uso frequente de materiais concretos é também muito importante, como relógio digital, calculadora, gravador, material dourado, folhas quadriculadas para matemática, máscara para leitura de texto, letras de texturas diversas, gravuras, fotografias, confecção do próprio material para alfabetização como desenhar e montar uma cartilha (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]).

Com relação à avaliação das crianças com dislexia, as mesmas autoras colocam que elas têm problemas com testes ou provas, pois em geral não conseguem ler todas as palavras das questões dos testes como também não têm certeza do que está sendo solicitado, elas tem dificuldades de escrever as respostas, sua escrita é lenta, elas não conseguem terminar dentro do tempo, por isso o professor precisa ler as questões/problemas junto com o aluno, de forma que ele possa entender o que está sendo solicitado. É preciso explicar que o professor está à disposição para esclarecer as dúvidas sobre o que está sendo perguntado, dando o tempo necessário para fazer a prova com calma, quando recolhê-la deve verificar as respostas e caso haja necessidade, confirmar com o aluno o que quis dizer com o que escreveu, anotando sua resposta. Quando for corrigir a prova, valorizar ao máximo a produção do aluno. Procurar realizar avaliações orais (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]).

Segundo Shaywitz (2006), a prevenção eficaz e os programas de intervenção precoce já são uma realidade e foram feitos para crianças de cinco e seis anos, que frequentam a educação infantil ou o 1º ano do ensino fundamental. As crianças em situação de risco são as que desenvolvem problemas de leitura devido a um histórico familiar de dificuldades de leitura, de seus próprios problemas de linguagem ou de escores baixos nos testes de triagem da educação infantil.

Shaywitz (2006) diz que todos os professores querem que seus alunos aprendam a ler, mas muitos não têm acesso a informações confiáveis ou boas sobre programas eficazes e com embasamento científico.

É urgente para a criança disléxica que já atingiu certo grau de precisão de leitura, mas que ainda lê devagar e hesitante, receba um treinamento contínuo de fluência para que se torne um leitor fluente (SHAYWITZ, 2006).

Quando o aluno for capaz de ler um grupo de palavras com precisão, haverá várias maneiras eficazes para melhorar sua fluência. O fundamental é encontrar maneiras prazerosas de estimular a leitura em voz alta. Fazer com que a criança pratique a leitura de poesia é um método excelente para melhorar sua fluência. Os poemas são em geral curtos, rimam e são perfeitos para ler rapidamente e com expressividade (SHAYWITZ, 2007, p. 202).

Shaywitz (2006) coloca a importância dos livros e revistas em CD-ROM, os quais permitem que uma criança disléxica acompanhe tarefas em sala de aula que não poderia ler com facilidade. Ela poderão também assistir vídeos ou DVDs de romances ou dramas antes de ler a história, pois isso firma um esquema ou estrutura vinculando detalhes da história para a criança. Se a criança já tiver visto o vídeo e entendido a essência da história, em geral será capaz de ler o livro que antes consideraria difícil demais.

A mesma autora ainda coloca que enquanto a criança estiver se esforçando para ler, ler 15 ou 20 minutos lendo para ela em voz alta muito a ajudará, podendo ser um capítulo de um livro ou uma história.

“A estratégia geral que mais ajuda é aquela que ensina a criança o que fazer quando se deparar com uma palavra difícil ou desconhecida. Ensina-se a criança a olhar as letras que formam uma palavra” (SHAYWITZ, 2006, p. 211). Para a autora, na prática, incentiva-se a criança a ler quantas vezes conseguir e mais tarde se ensina a ela a encontrar uma palavra que tenha um som parecido com a que foi lida e que faça sentido na frase. O professor orienta o leitor a ler por meio de agrupamento e dos sons ou pela analogia com uma palavra já conhecida, verificando se o significado está correto. Ao retirar esse apoio, é importante verificar se a criança continua a usar as estratégias aprendidas (SHAYWITZ, 2006).

“Os pesquisadores notaram melhorias em outras áreas depois que as crianças passaram por programas de leitura eficazes” (SHAYWITZ, 2006, p.212). Segundo a autora, além de melhora da leitura, houve uma riqueza de intercâmbios verbais entre o professor e o aluno nos momentos em que em que foi solicitado à criança falar sobre o que leram, esclarecendo como também justificando suas respostas.

Segundo Gonçalves [entre 2001 e 2007], ao refletir acerca dos principais sintomas da Dislexia, podem ser estruturadas algumas adaptações curriculares de pequeno porte, sustentadas nas orientações ou legislações do Ministério da Educação, que podem ser: materiais de leituras curtos, claros e objetivos acompanhados sempre que possível de recursos visuais e auditivos. É preciso auxiliar este aluno a iniciar o uso da organização de esquemas de conteúdos, em especial em matérias com muitas informações conceitos como também em um texto narrativo ou descritivo. A partir do momento em que perceber que foram construídos os conceitos das operações básicas, é importante possibilitar ao aluno a utilização de recursos como calculadora a fim de evitar erros devido as limitações da atenção e organização espacial (GONÇALVES, [entre 2001 e 2007]).

Para Gonçalves [entre 2001 e 2007], as adaptações curriculares de pequeno porte possibilitam avaliações claras e objetivas, dando preferência para as orais ou respostas por meio de esquemas, pois o aluno possui limitações na organização tanto sintática quanto semântica; também permitir a execução das provas em duas etapas ou tempo extra, um local tranqüilo para as provas que necessitam de maior atenção; outra questão é valorizar mais o conteúdo de suas produções, não só questões ortográficas, pois a criança com dislexia as comete frequentemente. O professor deve apontar e mostras a forma correta da grafia das palavras, mas não valorizá-las tanto.

A Constituição Federal de 1988, ao tratar sobre a educação especial diz: “O dever do estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (Art. 208, III, CF, p.138). O aluno disléxico que tem dificuldade para ler ou escrever, é portador de deficiência? Não. A Lei 9.394/96, a nova LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, melhorou bastante a redação sobre a mesma matéria, quando diz: “O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (Art. 4º, LDB 9394/96). E agora? Se a dislexia é uma necessidade especial, então a criança disléxica tem garantido por lei um atendimento especializado e gratuito.

MÉTODOS

O método adotado neste estudo foi uma revisão de literatura acerca do tema Dislexia, publicados entre os períodos de 2001 a 2008, em livros da literatura internacional de autores especializados relacionados ao tema, artigos, monografias e dissertações disponíveis em sítios confiáveis da Internet e revistas online, com a finalidade de extrair os elementos necessários para análise conforme o proposto nesta pesquisa.

Após o levantamento foram utilizadas 16 obras entre livros, artigos, monografias, e dissertações na literatura bibliográfica e webgráfica, as quais atendiam ao objetivo deste estudo.

Apesar da escassez de literatura sobre o tema, houve grande avanço nas últimas décadas, pois até bem pouco tempo o termo nem era conhecido.

Todos os autores pesquisados tiveram uma preocupação com essa dificuldade, isso já é um bom começo. Que em um futuro bem próximo, todas as crianças que apresentam essa dificuldade possam se beneficiar da neurociência moderna e não tenham que abandonar a escola por não conseguir superar essa dificuldade.

DISCUSSÃO

Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo sobre a identificação da dislexia na educação infantil e início do Ensino Fundamental na escola pública a fim de facilitar a aprendizagem infantil, fazendo uma revisão bibliográfica e webgráfica da literatura existente sobre o tema.

O professor Vicente Martins, em suas pesquisas a respeito do tema coloca a dislexia como a maior dificuldade relacionada à leitura e escrita, merecendo atenção por parte dos gestores em política educacional, especialmente os da educação especial.

Como mencionado na revisão da literatura, pela fala de Shaywitz (2006), a identificação precoce da dislexia pode fazer a diferença, pois vai garantir que a maior parte das crianças não tenha que passar por problemas de leitura. O auxílio para esse procedimento está disponível como nunca esteve antes.

Então, por que as escolas públicas não contam com uma equipe especializada para diagnosticar a dislexia quando tantas são as crianças que apresentam problemas de leitura desde a alfabetização? O discurso dos gestores das políticas educacionais é de uma educação de qualidade, todas as crianças alfabetizadas a partir dos seis anos de idade, mas e as crianças que apresentam dificuldades de leitura, as que não conseguem aprender a ler e a escrever, a produzir um texto, colocar suas idéias em um papel? Ficarão retidas ou seguirão com o problema? Até quando conseguirão ir?

Portanto, cabe aos educadores lutar junto à equipe pedagógica, para que a avaliação seja feita quando for detectado algum indício de problemas de leitura desde a educação infantil, os recursos estão disponíveis, vale a pena buscar por eles.

Ao término desta pesquisa, tem-se a esperança de que ela sirva de subsídio para encontrar formas que venham ajudar as inúmeras crianças disléxicas que estão presentes no cotidiano escolar das escolas públicas do Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desta pesquisa chega-se à conclusão de que os disléxicos possuem dificuldades que podem ser observadas precocemente por meio de testes de leitura. Entretanto, mesmo observando toda uma mobilização mundial com relação ao aparecimento desta dificuldade como da identificação precoce, ainda é muito limitado o entendimento dos setores educacionais, em especial do próprio educador.

A dislexia é um distúrbio na leitura que afeta a escrita, mas apesar de ser possível observá-la precocemente antes de a criança aprender a ler, normalmente ela é detectada durante a alfabetização.

A falta de informação quanto a esta dificuldade que pode ser a causa do insucesso escolar e em outras áreas da vida, pode levar tanto os professores como a família a confundirem a dislexia com a falta de atenção ou a preguiça.

É muito importante a identificação precoce para evitar as dificuldades futuras quando a criança já passou por diversas experiências e diferentes métodos, já desenvolveu uma sensação de fracasso e baixa auto-estima ou perdeu o interesse pela escola ou gerou um quadro de fobia quando solicitada a fazer uma leitura ou produzir um texto.

A dislexia ainda é vista como um fantasma horrível, mas se for descoberta e compreendida verão que o fantasma não é tão horrível, depende da maneira como se olha.

A Neurociência Moderna tem se empenhado em pesquisas que possam clarear as disfunções cerebrais que acontecem no cérebro do disléxico. As descobertas sobre a compreensão dos mecanismos cerebrais ligados à leitura são revolucionárias. Hoje é possível ver literalmente a imagem do cérebro de uma pessoa que lê e observar o seu cérebro em ação. Então, como aceitar que tantas crianças e até adultos se privem dos benefícios da neurociência moderna?

No Brasil a LDB 9394/96, de 23 de dezembro de 1996, traz em seu artigo 4º que é dever do Estado com a educação escolar pública que seja efetivada a garantia de atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. Portanto a dislexia é uma necessidade especial, que dá à criança disléxica o direito de um atendimento especializado e gratuito.

Neste momento, faz-se mister que os professores pesquisem, conheçam mais sobre a dislexia, sendo capazes de fazer a identificação, para então buscar os encaminhamentos necessários, de direito das inúmeras crianças com dificuldades de leitura que podem ser disléxicas e fazem parte do contexto escolar das escolas públicas brasileiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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