A grande "arte" de ser político

A grande "arte" de ser político

Arlania Menezes

Mestranda – UEFS

A política pode ser vista como ciência, como uma filosofia, e até mesmo como arte. Esse é para mim o melhor conceito, política como arte, pois o cenário político que nos é apresentado na atualidade não deixa de ser uma encenação de grandes artistas políticos, capazes de dissimular tão verdadeiramente o amor ao próximo, que o próximo ingenuamente acredita.

A política-drama atual requer dos protagonistas um talento especial e uma sensibilidade igualmente especial que os faz parecer verdadeiros. Esses artistas profissionais da política procuram por todos os meios influenciar, de diversas formas, e continuamente, o destino da sociedade onde estão inseridos. É “isso” a política vergonhosa do Brasil: uma grande encenação, com um grande elenco, cujos objetivos é despertar os sentimentos de veneração e medo, ao mesmo tempo; despertar a piedade daqueles espectadores que são indignamente enganados, e levados pela ingenuidade e natural ilusão.

Para Sócrates, o sentimento de piedade era o que se esperava despertar através das tragédias encenadas nos palcos; na ótica socratiana, esse sentimento possibilitava a catarse, que é a purificação, a purgação nos espectadores. Trazendo essa idéia para os nossos tempos, podemos dizer que através da tragédia-cômica apresentada pelos nossos artistas políticos, os espectadores – o povo – que assiste passivamente à encenação, será atingindo intensamente por essas narrativas falaciosas encenadas pelos nossos mais caros artistas, pelas nossas grandes estrelas da política. Entretanto, essa catarse, hoje, é muito nociva, pois transforma em vergonha a crença na justiça, em decepção o desejo de viver num país honesto, de ações positivas e éticas. Para reafirmar essa idéia, cito o grande Rui Barbosa que já há muito tempo perdera a crença na política e nos políticos brasileiros quando disse que “de tanto ver crescer a injustiça, de tanto agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto”.

Rui Barbosa foi um homem de grande sabedoria e comprometimento, assistia às encenações políticas de seu tempo e antevia o caos daquele e desse tempo. É isso que se vive hoje no Brasil, um grande caos político que envergonha aos brasileiros honestos e justos, aos trabalhadores, aos homens e mulheres que vivem a labuta diária do viver com dignidade e continua apostando, de quatro em quatro anos, numa pessoa que “parece” ser melhor. Nossa política envergonha aos espectadores dessa grande farsa em que vive o Brasil, os Estado, e as cidades, como a pequena e infeliz Entre Rios, sempre usada e condenada a viver nesse cenário político cinzento e triste, que tenta viver um “novo tempo”, mas continua sendo explorada nas mãos dos “maus”, como diz Rui Barbosa.

A cada quatro anos o povo se ilude e acredita em mudanças, mas mudam-se apenas os slogans, os artistas políticos, porém a sujeira e o vergonhoso descaso com o povo e com a cidade continuam. A cada dia que passa, Entre Rios mergulha mais profundamente na escuridão, perde um pouco mais do seu antigo brilho; deixou de ser colorida, passou um tempo “vermelha” e agora está ficando dia a dia mais “cinzenta” e triste. Hoje, quem está na “situação” acha que está tudo muito certo, e aplaude os “erros”, a corrupção, os apadrinhamentos a que condenavam nas gestões anteriores.

Esse cenário nos faz ver como é fácil ser corrompido quando não se tem firmeza de caráter, quando não se é ético de verdade, e essa idéia gravita em torno da fala do já citado filósofo Sócrates que diz “que é mais fácil corromper que persuadir”. Trocando “em miúdos”, o poder corrompe e compra favores, compra interesses, compra amigos.

É triste ver a tristeza e a decepção que imerge das ruas da cidade de Entre Rios, uma decepção que se intensifica mais a cada dia que passa, tão profunda que parece que nunca vai acabar. Mas não podemos perder a esperança, pois o fim desta pode ser a morte dos nossos sonhos de ver a nossa cidade ser levada à sério, ser governada por quem realmente a ama e deseja ver o seu povo vivendo bem, sem falsidades e dissimulações, sem promessas hiperbólicas que jamais serão cumpridas. É necessário que tiremos esses políticos corruptos e incompetentes de nosso cenário, esses que obedecem a apenas uma ideologia: a de autorrecompensa, que compensa apenas a seus próprios bolsos. Esses, na verdade, não são políticos, são “politiqueiros” e desrespeitam a confiança que o eleitor lhes confere através do voto. Esses “artistas” falam mentiras com tanta verdade que ate parecem verdades e, assim, enganam ao povo, e são tão verdadeiros ao mentir que até eles mesmos acreditam que são honestos.

Se em uma cidade tão pequena quanto Entre Rios a justiça parece injusta por não se efetivar de verdade, e possui tantos “artistas políticos’ interessados apenas em sua própria situação financeira, imagine nessa imensidão que é o Brasil. Às vezes, “bate” uma sensação muito forte de desesperança, e a decepção dá lugar ao medo, medo de que não haja mais jeito e que a verdade passe a se chamar corrupção.