Davi, Golias e o reaparelhamento das Forças Armadas

O ano era 1063 a.C. Os filisteus estavam decididos a dominar o povo hebreu; e no campo de batalha, encontrava-se todo o exército daqueles homens que desafiava o povo de Deus para um mortal duelo entre um hebreu e o guerreiro filisteu, Golias, gigante e armado, que amedrontou os mais bravos soldados de Saul, o rei de Israel.

Mesmo oferecendo riquezas e sua própria filha como recompensa, o rei Saul não conseguira convencer um só soldado a enfrentar o gigante filisteu. Mas havia um jovem, Davi, um apascentador de ovelhas, encorajado pelo Espírito de Deus, que tomou para si as dores de seu povo e apresentou-se ao rei pronto para lutar com o incircunciso filisteu, que insultara o povo do único Deus. Saul não conseguiu dissuadir o jovem pastor e o preparou para a batalha com armadura, espada e capacete, tão fortes aparatos que Davi não conseguia se mover. Retirou, então, toda a armadura e partiu para o combate com apenas uma funda e algumas pedras. O final da história já todos conhecemos; que, apenas com um artefato rudimentar e uma pedra, mas cheio do Espírito de Deus, Davi derrotou o gigante Golias.

Alguns milênios depois, o Estado brasileiro se encontra prestes a fechar um acordo de compra de aeronaves militares, de cifras exorbitantes, e outras compras para reaparelhamento das forças armadas estão previstas, tudo muito criticado pela oposição, é claro, e por alguns setores da sociedade, que clamam por investimentos em saúde, geração de empregos, entre outros, problemas distintos em rótulos, mas não em dimensões, daqueles por que passavam os hebreus, que tinham uma guerra à porta. E o fato de termos problemas emergenciais é uma das bandeiras levantadas pelos opositores; e mais argumentam: o Brasil, ao contrário do reino de Saul, é um país pacífico, amigo de seus vizinhos e com bom relacionamento na alta sociedade mundial.

Pois bem: o tráfico fronteiriço de drogas é uma realidade, assim como as bases estadunidenses na Colômbia e, também, o nocivo relacionamento ente o rei da Venezuela e seus vizinhos de Bogotá. Ressalta-se que a boa vizinhança e o relacionamento amigável com o velho mundo diminuirão com a velocidade de um Rafale, ou de um F18, ou quem sabe de um Gripen, na medida em que a fome e a sede aumentarem. O planeta agoniza na sala de emergência e o diagnóstico não é nada satisfatório: temperaturas extremas, escassez de combustível fóssil, e a estimativa é que água potável e alimentos não demorarão a escassear.

O Brasil, como todos sabem, possui uma imensa bacia hidrográfica, ainda um vasto e fértil território para pastagens e agricultura, e os neofilisteus estarão à porta para dominar e usufruir da terra em que, longe de abundar leite e mel, sobejam água e pão; mas também teremos bravos jovens para combater os gigantes e os não tão gigantes. Mas, como o Brasil é um Estado laico, não poderão esses jovens lutar com rotas fundas ou outros artefatos tão rudimentares quanto, já que não somos uma nação guiada pelas leis de Deus, por homens cheios do seu Espírito; a maravilha operada pelo Espírito divino em 1063 a.C. não se repetirá aqui.

Então, como defenderíamos nossa nação sem o devido aparato tecnológico ou bélico? Será que o não reaparelhamento é a solução para todos os demais problemas por que passamos hoje? O Brasil não precisa se preocupar com a defesa de suas riquezas? O que possuímos é suficiente para isso?

Sem a armadura, e sem a espada, e sem o capacete, somos o pequeno Davi, sem o Espírito divino, desafiando Golias.

Rogerio Bandeira
Enviado por Rogerio Bandeira em 11/11/2009
Reeditado em 23/06/2010
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