Suicídio

Tenho percebido que minha semana está numa agitação quase ativista [quase].

De segunda a sexta a faculdade me toma a manhã e a tarde. A noite, sempre tenho de ir a auto-escola para refazer as aulas que o Detran não reconhece por causa desse maldito sistema de digital. Aos sábados estudo musica em Paracambi, e morando no "interior" de Nova Iguaçu, isso me toma quase todo o sábado. Domingo era meu dia de descanso. Só ia a igreja a noite por não mais estar no ministério de louvor.

Aí me apareceu a proposta indecente e irrecusável.

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Desde que comecei a divergir nas opiniões e não me conformar com as mentiras pregadas na comunidade cristã que frequento [não precisa pensar muito para saber quais são as tais mentiras. Elas estão na moda. É tudo que se prega em qualquer igreja neo-pentecostal por aí. Todos filhos de Keneth Haggin e Benny Hinn] sinto um desejo ardente de ir ao púlpito e de algum jeito começar a desensinar tudo o que está sendo ensinado. Levando a simplicidade do Reino e do ensinamento de Cristo.

Mas não havia jeito. Como a comunidade tem como liderança grande parte de minha família e, por ulteriores debates e relato desses, eles sabem em que penso e acredito. Por isso, pensei, nunca vão me deixar falar.

Mas parece que, ou não sabem o que realmente penso, ou não levam fé nas minhas convicções. Seja como for...

Fui informado que seria o novo professor da escola bíblica [que na comunidade tem o nome de escola de discípulos]. Tive um misto de medo e alegria. Alegria por poder ter um espaço para ensinar e compartilhar a Palavra a quem queira. E medo por saber que teria uma escolha a fazer: ou diria o que os pastores querem que eu diga [a apostila é editada por eles] e ficaria numa boa com todo mundo ou seria sincero em minhas opiniões e causaria problemas aos meus ouvidos.

Na verdade, não é só pela escola bíblica, esse tem sido meu dilema interior em tudo o que diz respeito às minhas crenças. Estou entre a perseguição e a paz.

O não se conformar com esse mundo, para mim tem sido muito mais uma questão a se vigiar dentro da igreja do que fora dela. E tenho experimentado o que significa lutar pelo que se acredita nisso.

Talvez alguém pense que exagero ao usar a palavra "perseguição". Você pode ter razão. Em relação aos sofrimentos sofridos pelos apóstolos e pelos mártires, meus parentes chatos não são nada. E na verdade, o que fazia Paulo se alegrar em meio ao seu cárcere era saber que aqueles que estavam para o matar não eram nada.

São dias tenebrosos esses que vivemos.

A cada dia que passa vejo se multiplicar a aceitação das pessoas a doutrinas enganosas e idiotas.

Gostaria que todos mudassem de mentalidade agora mesmo. Mas estaria incorrendo no mesmo erro que os atuais lideres religiosos incorrem, manipularam a mente de muitos. Fizeram deles um negócio muito rentável. E esses muitos não querem sair, ou pelo menos não ouviram que há outro Caminho. Um Caminho de beleza paradoxal, ao mesmo tempo que se mostra um fardo leve e um julgo suave de se carregar mostra quão estreito o é.

E pensar como Cristo pensou e agiu é loucura. Em todos os sentidos possíveis. O projeto de levar uma vida que imite a Cristo requer a vida do sujeito que se submete a esse projeto louco, como diria o impagável Paulo Brabo.

Mas enquanto tenho voz estou feliz. E temo, de coração confesso que ainda temo o viver. Temo perder quem amo, mas acho que temo ainda mais que quem me ama - quem me ama de um jeito único, quem me ama com cada poro de seu corpo - me perca. Pois, tirando uma covardia e sensibilidade pederasta em relação a dor, sei que se acordo pela manhã, Deus está comigo, e se não acordo sou eu que estou com Deus, como diria o tenro Ariovaldo Ramos.

Estou feliz por estar dando aula pra essa turma. Estou feliz por poder comunicar as palavras de Cristo e desejo e oro para que de minha boca saia a Palavra de Deus. Que não venha falar por uma retórica bem elaborada mas do Verbo Eterno.

Creio que eu vá sair. Assim que descobrirem o que falo dentro daquela sala. Ou não. Oxalá!

Estou aprendendo a viver nessa Graça e nesse Amor que lança fora todo o medo.