O olhar dissimulado no Reality Show

O reality show é caracterizado por personagens e histórias ou situações “reais” ou corriqueiras. Dentro do “elenco” de participantes, há os que representam a classe média, sendo esses os protagonistas do jogo. Eles são a representação do ideal: a estrutura de mente e corpo idealizados à mídia. Paralelamente, há uma espécie de formato informativo dentro dos seus programas, com algumas notícias ou mesmo atualizações de fatos e constantes conexões com o “mundo exterior”.

Ao se tratar de convivência compartilhada em meio a comportamentos diversos, as características naturais – temperamento de cada um – desse confinamento são afloradas (talvez forçadamente) e tornam-se marcas das diferenças existentes no jogo, possibilitando futuras conjecturas na escolha para uma possível e futura eliminação. Pensa-se que as classes sociais – sua cultura, sua economia – são aproximadas e socializadas, forjando uma “humanização midiática”, em que o objetivo está em ensinar a como se adaptar ao lugar comum.

Dentro desse tipo de programa é construído um universo calcado na instrumentalidade racional, que confina os participantes e os fazem admitirem estar provando do sucesso, julgado merecido, uma vez que sabem ser perfeitos aprendizes e proclamadores dos desdobramentos financeiros e poderosos dentro jogo. É através dessa aprendizagem e obediência que os participantes são celebrados instantaneamente por terem seus comportamentos íntimos, em absoluto, enveredados para o agrado publicitário.

Os Reality Shows são encontrados nos seguintes aspectos: Busca de Empregos – nestes programas os participantes cumprem regras ditadas por um empresário, a fim de que possam chegar a trabalhar para o mesmo; Solteiros- geralmente uma celebridade solteira escolhe seus pretendentes e, durante o programa, apenas um deles é escolhido; Academia Artística- para quem deseja ser cantor, ator, artista; Survivor- programa em que seus participantes vivem em lugares remotos, sempre a prova para sobrevivência; e Big Brother.

Um ponto primordial ao se falar do gênero dos Reality shows, como Big Brother (Big Brother Brasil e A Fazenda, por exemplo) é a indiferença com a realidade; quem quer que seja – tenha ou não princípios tradicionais e crenças, pacifista ou não – acaba sendo o alvo ou a personagem principal daquela vida real.

O comportamento dos bigbrothers é altamente predestinado, em se tratando do reflexo de outras edições do Reality Show. Tudo o que pode ser explorado do íntimo humano, dentro de uma perspectiva televisiva, é posto em destaque para o público (que é o senhor das acusações). Ficam à mostra, na mídia, os signos da perversidade, da curtição ilimitada - sinônimos de vida descompromissada e, ao mesmo tempo, túrgida de ambições. Acima de tudo, o que não deve faltar é a cópia fiel do caráter sedutor. A sedução é produto midiático. Ela persiste com espontaneidade e desenvoltura. É envolvente. É exatamente assim que um bigbrother se acha, mergulhado em condições pré-estabelecidas, discursos e ações já concebidas, independente de sua cultura. Excepcionalmente, clones de si, segundo o sociólogo francês Jean Baudrillard.

A imagem pessoal retratada nesse meio é edificada por um tipo omisso, o qual reconhece estar numa sociedade, quase que em absoluto, com a personalidade apagada e, portanto, impossibilitada para críticas; contentando-se em reverenciar a mais primitiva atitude humana (em ser flaneur ou simples observador), para apenas “vegetar” por puro prazer. O indivíduo, portanto, não quer se envolver para ser contrariado ou condenado pelo outro, que também é o seu observador. Ele quer agir, tornar-se presença, pura presença sobre sua essência verossímil.