CACHAÇA, PROSTITUTA & HOMOSSEXUAL

O artigo em foco não traz, em si, intenções e/ou conotações preconceituosas. Isto, absolutamente, não. Qualquer pupilo que se meta a tratar a Linguagem como ponto de estudo sabe que as palavras existem como tais, e o preconceito nem deve ancorar em seu mar de pesquisa. A minha escolha vocabular, aqui, que até poderia registrar-se em dimensão bem mais ampla, quanto ao número de outros termos, dá-se unicamente em função da riqueza polissêmica que inunda e transborda a caudal semântica dos três elementos selecionados.

Desta maneira, ao modo de glossário, os verbetes – se é que assim posso chamá-los – foram colhidos à messe de autores devidamente abonados por uma bibliografia, que apresento infra. A simples diversidade da terminologia, no que pese a fidedignidade da busca proposta, no entanto, mormente nos dois primeiros casos, já demonstra com clareza o pouco caso com que o populário linguístico trata determinados termos e os batizam sem dó nem piedade com uma chuva de gírias e apelidos em geral chistosos.

Note-se o altíssimo teor de vocabulário para designar “cachaça”, no Brasil, ou só “aguardente”, em Portugal, “prostituta” e “homossexual”, tanto aqui como além-mares. São palavras que se originaram, estabeleceram-se e se desenvolveram sob os auspícios da nossa fecunda Língua Portuguesa, evidente que arrecadando inúmeros brasileirismos, com muita abundância, em sua maioria vocabulário de cunho popular e regional, contendo gírias, em geral uma fraseologia à sombra de farta discriminação. É só correr o olho no arsenal das infindáveis listas a seguir.

Pensando tão-somente, através deste veículo de pesquisa, em contribuir com um mínimo ensaio analógico, ao se confrontarem linguisticamente Portugal e Brasil, entrego aos caríssimos amigos deste hospitaleiro sítio do “Recanto das Letras” esta modesta relação de uma curiosa tríade vocabular. Agora mãos à obra, portanto, e olho bem atento às nossas semelhanças e diferenças lingüístico-continentais.

I – C A C H A Ç A:

1. 1. No Brasil:

Aguardente que se obtém mediante a fermentação e destilação do mel, ou borras do melaço. [Sinônimos (populares ou de gíria., e brasileirismos, na maioria, muitos deles regionais): abre, abrideira, aca, aço, a-do-ó, água-benta, água-bruta, água-de-briga, água-de-cana, água-que-gato-não-bebe, água-que-passarinho-não-bebe, aguardente, aguardente de cana, aguarrás, águas-de-setembro, alpista, aninha, arrebenta-peito, assovio-de-cobra, azougue, azuladinha, azulzinha, bagaceira, baronesa, bicha, bico, birita, boa, borbulhante, boresca, branca, branquinha, brasa, brasileira, cachichi (sic, MA), café branco (MA), caiana, calibrina, cambraia, cana, cândida, canguara, canha, caninha, canjebrina, canjica, capote-de-pobre, catuta, caxaramba, caxiri, caxirim, cobreira, corta-bainha, cotréia, cu-de-jegue, cumbe, cumulaia, danada, delas-frias, dengosa, desmancha-samba, dindinha, dona-branca, ela, elixir, engasga-gato, espírito, esquenta-por-dentro, filha-de-senhor-de-engenho, fruta, gás, girgolina, goró, gororoba, gramática, guampa, homeopatia, imaculada, já-começa, januária, jeribita / jurubita, jinjibirra, junça, jura, legume, limpa, lindinha, lisa, maçangana / massagana, malunga, malvada, mamãe-de-aluana ou mamãe-de-aruana, mamãe-de-luana, mamãe-de-luanda, mamãe-luanda, mamãe-sacode, mandureba / mundureba, marafo, maria-branca, mata-bicho, meu-consolo, minduba, miscorete, moça-branca, monjopina, montuava, morrão, morretiana, munin (aguardente feita da mandioca, como a tiquira), não-sei-quê, óleo, orotanje, otim, panete, parati, patrícia, perigosa, peru, perua, pevide, pilóia, pinga, piribita, prego, porongo, pura, purinha, quebra-goela, quebra-munheca, rama, remédio, restilo, retrós, roxo-forte, samba, sete-virtudes, sinhaninha, sinhazinha, sipia, siúba, sumo-da-cana, suor-de-alambique, supupara, tafiá, teimosa, terebintina, tiquira, tira-teima, tiúba, tome-juízo, três-martelos, uca (MA), veneno, xinapre, zuninga.]

1. 2. Em Portugal:

Aguardente.

II – P R O S T I T U T A:

2. 1. No Brasil:

Bacante, biscaia (N. E.) bundeira, chibateira (AL), casseteira (sic, MA), devassa, égua (chulo), fubana (N., N. E.), fuampa (CE), libertina, marafaia, mênade, meretriz, mulher-da-rótula, mulher-da-rua, mulher-da-vida, mulher-da-zona, mulher-dama (N. E., MG), mulher-de-amor, mulher-de-ponta-de-rua, mulher-de-má-nota, mulher devassa, mulher dissoluta (fig.), mulher-do-fandango, mulher-do-mundo, mulher-do-pala-aberto, mulher-errada, mulher-perdida, mulher-solteira (CE, MG), mulher-vadia, penica, peniqueira (N. E.), penosa, professora (prostituta com que adolescentes se iniciam na vida sexual, N. E.), puta, quenga (chulo), rameira, rapariga (N., N. E., MG, GO), reboque, sacerdotisa de Baco, tíade.

2. 2. Em Portugal:

Acrena, alcoeira, afombreda, aliagada, alugada, ambulatriz; andar ao fanico, andar ao ataque, andar ao ponto, andar na má vida, andar na navalha, andar na vida (expressões verbais, com atividades afins); andejo, andorinha, ao do Bandarra, arvota, armoreira, arvela; bagageira, bagoça, bagaxa, barbana, barbaroa, barça, borboleta, barregã, borreira, barroeca, besena, bela da noite, bengue, biraia, biralha, biscaia, bisca, biscato, boneja, brebeia, bruaca, bucharote, bucho, busca-amante; cabaneira, cabroila, cação, cadela, cadelona, calatra (Trás-os-Montes*), calhandreira, cangão, camareira, cangrena, cantoneira, carcaio, caterina, catraia, coia, coira, coirão, colatra, cocote, chiborra, china, coldre, camborça, concubina, concubitata, colundrina, cortesã, croia, costeleira, congria, crouja, croque, cruaca, culatrona, cuia, curta; dadeira, decaída, dama, dama da noite, dissoluta; égua, ervoeira, ervondra, espécia, estardalho, executora da mais velha profissão do mundo; fadista, famecas, fandelírio, faniqueira, fêmea, fenjelça, femeaço, findinga, frete, frega, franjosca, frincha, fornicária, forniqueira, froncária, fubana, fusa; gá, gaitona, gabela, galtéria, galdrana, galdrapinha, ganapa, gança / gansa; hervoeira, hetera, horizontal; iça; jaipeira, jereba, juco (Trás-os-Montes); leona, loba, loureira, lumia, lumira; madama, malandra, mamita, manceta, manesa, marafaia, mantuana, marca, marafona, mariposa, maranfantona, morota, marreta, matriculada, má-vida, magana, meretriz, merina, messalina, mentrícola (prostituta não adulta), miraia, militriz, michela, minestra, moça do fado, molote, mundana, mundanária, má, mulher-à-toa, mulher-corrida, mulher corriqueira, mulher devassa, mulher-dama, mulher de porta de rua, mulher de rua, mulher da trama, mulher do fado, mulher da vida, mulher de má nota, mulher de mau porte, mulher de partido, mulher perdida, mulher pública, mulher suspeita, mulher terceira, mulher vadia; panacha, parrameira, pataqueira, patrona, patuno, pecatriz, pega, peleja, pencha, penta, pepia, perdida, perna, picou, pinoia, pinta, pitada, peripatética, porca, potassa, puta, putória; queiró; ostra; quenga, rameira, rapariga, rascoa, rascoeira, rateira, reboque, registrada, remiga, rongô; sabina, samarrão, siscula, solteira, súcula, surrão, sutrão; tapada, testo (Açores), tolerada, tonha, tronga, troquilheira; víraga, vadia, vaqueta, vasa, vasculho; xandra, xumberga; zabaneira, zoina, zola, zorra, zanfeira (Trás-os-Montes).

III – H O M O S S E X U A L:

3. 1. No Brasil:

Afeminado, aqualhirado (sic, MA), aviadado; baitinga, baitola, bicha; frango / frangão (PE), frufru (gír.), fruita / fruta; gobira (MA); invertido; jeitoso; locró (MA); meio-rádio-meio-televisão; papista (MA), pederasta, perobo / pirobo; qualira; rodinha (CE, MA); veado / viado; xibungo / chibungo (BA).

3. 2. Em Portugal:

Bicha; efeminado; fanchono; invertido; maricas; o querido; paneleiro, pederasta; uramista, urningo.

- - - - - - -

(*) Trás-os-Montes (Portugal) pode designar:

- Trás-os-Montes - uma antiga província portuguesa, criada no século XV;

- Trás-os-Montes - comunidade urbana em Portugal.

- Trás-os-Montes e Alto Douro- uma antiga província portuguesa, criada em 1936;

- Alto Trás-os-Montes - subregião estatística portuguesa, parte da Região Norte.

B I B L I O G R A F I A & W E B

- FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio – Século XXI. Rio de Janeiro / São Paulo: Nova Fronteira / Lexikon, s/d.

- NAVARRO, Fred. Assim falava Lampião: 2500 palavras e expressões nordestinas. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

- SIMÕES, Guilherme Augusto da Costa. Dicionário de expressões populares portuguesas. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993.

- WIKIPEDIA. http://pt.wikipedia.org/

Fort., 16/12/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 16/12/2009
Reeditado em 18/12/2009
Código do texto: T1981211
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.