CONGRESSO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM BRASÍLIA

Sérgio Martins Pandolfo*

“A língua é a mais viva expressão da nacionalidade. Como havemos de querer que respeitem a nossa nacionalidade, se somos os primeiros a descuidar daquilo que a exprime e representa o idioma pátrio?”

Sebastião Mendes de Almeida, gramático.

Na condição de Titular da Academia Brasileira de Médicos Escritores - ABRAMES e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores-SOBRAMES (Regional do Pará) participamos do CONGRESSO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM BRASÍLIA (19 a 21 de novembro de 2009), auspiciado pela Academia de Letras de Brasília, cujo Tema Oficial foi “A Língua Portuguesa do futuro” e cujo assunto predominante foi o Acordo Ortográfico da LP.

O congresso inaugurou oficialmente as festividades do cinquentenário da capital, a transcorrer em 2010, e teve como objetivos principais estreitar laços culturais e linguísticos, discutir o idioma, sua importância internacional e as mudanças promovidas pelo acordo ortográfico, além do papel da Internet e suas relações com a linguagem.

A solenidade de abertura, realizada no auditório do Museu Nacional da República, na Esplanada dos Ministérios foi magnífica, entremeada com números de música e dança eruditos de alto nível, e contou com a presença do Ministro da Educação, o Professor Fernando Haddad. Nos dias 20 e 21, os debates e palestras do evento ocorreram no campus da Universidade Católica de Brasília (UCB), em Taguatinga.

Ao conclave compareceram representantes de todos os países lusófonos integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), incluindo o caçula Timor-Leste. Mais de 600 acadêmicos, professores e autoridades dos oito países lusófonos se dispuseram a discutir na capital brasileira, o futuro da língua portuguesa no evento promovido pela Academia de Letras de Brasília.

"O objetivo do evento não é apenas discutir o acordo ortográfico, que já está sacramentado, mas a futuridade da língua portuguesa", disse o presidente da Academia de Letras de Brasília, José Carlos Gentili, na sessão de abertura. E defendeu seu ponto de vista:

"Na Organização das Nações Unidas, o português é o único idioma que tem duas versões. Isso é um disparate. Precisamos criar mecanismos para um procedimento único para grafar a língua portuguesa e promovê-la".

"A língua não tem dono. É de seus usuários. Há 250 milhões de falantes da língua portuguesa no mundo, dos quais 200 milhões estão no Brasil, 17 milhões em Moçambique, 13 milhões em Angola e 10 milhões em Portugal, cuja população, portanto, é menor que a da cidade de São Paulo", citou o presidente da Academia de Letras de Brasília.

Convidados ilustres figuraram entre os palestrantes, como o presidente da Academia das Ciências de Lisboa (homóloga da nossa Academia Brasileira de Letras, guardiãs, ambas, de nossa “linda lusa língua” e responsáveis por sua normatização), Adriano Moreira, um dos homens respeitados na literatura e presidente daquela casa de cultura centenária da Europa. João Malaca Casteleiro (v. Fotos no Site do Escritor - abaixo), que é um dos regedores da ortografia em Portugal, e seu companheiro na Academia das Ciências de Lisboa, filólogo e lexicólogo respeitável, autor do principal Dicionário da LP daquele país irmão.

Entre os nacionais destaque para os Professores Cícero Sandroni, atual Presidente da ABL e Evanildo Bechara, igualmente da ABL, filólogo e lexicólogo renomado e principal responsável atual pela normatização e adequação do Acordo Ortográfico subscrito pelos oito países de expressão oficial portuguesa. Esse Acordo é de importância capital para a elevação e valorização do idioma camoniano, hoje, sem ponta de dúvida, um dos mais importantes “deste rotundo globo”, e foi defendido ardorosamente por todos os participantes do conclave. Outras personalidades presentes incluíam o Prof. Cristóvão Buarque, o presidente da Academia de Letras de Brasília, Prof. José Carlos Gentile (anfitrião oficial do encontro), o Prof. Wamireh Chacon, Emérito da Universidade de Brasília e o “global” Alexandre Garcia, que falou sobre “O papel da mídia na difusão da língua” (muito aplaudido). Inscritos havia participantes de praticamente todas as unidades federativas.

Assuntos como o fortalecimento da CPLP, a LP e a cibernética, capacitação da docência, a proteção constitucional da LP e paralelos como: ensino à distância, LIBRAS, o ensino da LP em Braile e outros prenderam a atenção e garantiram o sucesso e alto nível do congresso.

O povo brasileiro desconhece, ou ainda não se deu conta, da importância e do alcance do português que adotamos como língua nacional, hoje guindado à posição de uma pátria imensa do tamanho do Mundo. Desconhece ser o nosso idioma um dos mais ricos, sonorosos e difundidos do mundo atual, proeminando como o quinto mais falado em números absolutos, o terceiro em números relativos e na banda ocidental do planeta, do qual se utilizam cerca de trezentos milhões de viventes como língua materna ou segunda forma de expressão, e reconhecido como uma das “línguas universais de cultura”, ao lado do inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e árabe.

Eis razão por que se vale tão amiudada e afoitamente de estrangeirismos, máxime de anglicismos, e, o que é pior e mais deplorável ainda, sem sequer saber a exata significação e/ou adequação das palavras e expressões de que faz uso –às vezes abuso - nessas línguas alienígenas.

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(*) Médico e Escritor. SOBRAMES/ABRAMES

serpan@amazon.com.br - www.sergiopandolfo.com

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 24/12/2009
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T1994624
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