O  ARCEBISPO  DO  POVO

 


Décimo primeiro filho de João Torres Câmara Filho e Adelaide Pessoa Câmara, desde cedo manifestou sua vocação para o sacerdócio. Ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza em 1923 então sob a direção dos padres Lazaristas. Nesta Instituição, cursou e concluiu seus estudos de Filosofia e Teologia. Foi ordenado padre no dia 15 de 1931, em Fortaleza, aos 22 anos de idade  com autorização especial da Santa Sé por não possuir a idade mínima exigida. No mesmo ano fundou a Legião Cearense do Trabalho e em 1933, a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congregava lavadeiras e empregadas domésticas. Foi transferido para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Foi ordenado Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro no dia 20 de abril de 1952 aos 43  anos.

“Quando dou pão  aos pobres , chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de Comunista “ (Dom Helder Câmara).

Da forma acima Dom Helder  resumiu suas dificuldades com as autoridades políticas e religiosas, quando era contestado a propósito de sua obra social e profética em favor de uma maior igualdade e justiça no País e dentro da Igreja. Não era raro se referirem a ele  como o “BISPO VERMELHO”, especialmente nos duros tempos da Ditadura nos chamados anos de chumbo.

Ele desejava uma Igreja mais participativa, orientada para a defesa dos pobres e a favor dos movimentos sociais. D Helder, foi sem dúvida, um marco na Igreja Brasileira, um exemplo para os mais jovens e para o mundo. Quando foi substituído em 1985 por atingir a idade limite e pela pressão do governo de então junto ao Vaticano, era Arcebispo de Olinda e Recife. Retirou-se e foi viver de maneira simples como  foi a sua vida.

Da mesma forma que teve seu posicionamento  pelos pobres, era normal ver Dom Helder  com sua batina surrada seu chapéu na cabeça ou na mão e seu tradicional guarda-chuva no braço. Suas celebrações era sem nenhuma pompa como foi toda sua vida. Sua obra o apresenta  pura e simplesmente  como pastor no sentido total que esta palavra representa e sempre preocupado  com o bem estar do povo que ele tanto amava. O povo menos aventurado - os mais pobres.
Depois do golpe militar, após um período de convivência pacífica com os militares, ao ver a violação brutal de direitos humanos com a caça  aos chamados comunistas, Dom Helder passou a lutar em defesa dos presos políticos contra a tortura QUE ERA SEMPRE NEGADA PELAS AUTORIDADES.

Foi o período em que enfrentou as maiores dificuldades, mas isto lhe deu uma  grande projeção no exterior, tendo sido acusado pelas autoridades e pelo Clero direitista de ser um padre com tendências  comunistas e de promover atividades subversivas pelo País. O religioso passou a ser visto como simpatizante da esquerda e seu trabalho em defesa de uma Igreja mais aberta incomodavam ao regime da época. Foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz, mas o governo Médici organizou  uma campanha contra a indicação do religioso.

Sua enorme dedicação não condizia com sua figura franzina e humilde. Ele agia desta forma, porque tinha em seu interior o dever cristão. Não agia para ser louvado como exemplo de cristão, mas por uma ética profundamente arraigada em seu espírito não lhe mostrava outro caminho, senão o que ele tão heroicamente  seguiu. Não tentou ser herói, mas apenas um cristão consciente de suas responsabilidades  com a Igreja e com a humanidade, mas este desprendimento o fez ainda mais heróico e exemplar. É certamente um dos melhores exemplos que se pode ter de uma figura humana rara, para a qual até a omissão era um pecado terrível.

Dentre os inúmeros  fatos de sua vida constam, que ao ganhar um carro como prêmio  por sua  obra social foi receber o carro. Ao chegar a Olinda, subiu a ladeira andando e com uma pasta. O povo o esperava na Praça fronteira a Igreja. Ele deu a pasta ao secretário e disse: vendi o carro  o dinheiro está  aqui. Distribua-o entre os que mais necessitem  agora mesmo, benzeu a todos e entrou na Igreja e foi descansar.

Talvez tudo isto explique porque a figura dele é tão querida até para quem não compartilha da crença cristã. Afinal ele se tornou um símbolo daquela dedicação ao próximo que todos os verdadeiros crentes de qualquer fé podem admirar, como um sinal da Misericórdia de Deus para com os homens.

Este ano comemora-se o CENTENARIO  deste homem inigualável que foi Dom Helder Câmara. Assim se referiu a ele Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus:

“Dom Helder é um modelo que a história da humanidade precisa conservar. Sua história e sua memória fazem ponte com a História do Brasil. Seus escritos são espetaculares, sua eloquência fabulosa. Foi um homem de muita fé possuidor de uma espiritualidade que preservava um amor a Deus e ao próximo. Enfim, ele foi alguém que acreditou numa causa e lutou por ela até o fim”.
 
 
                                                          
Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 05/01/2010
Reeditado em 05/01/2010
Código do texto: T2012063
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