GORDURAS VILÃS OU SALVADORAS DA PÁTRIA DAS DIETAS?

GORDURAS

Cresci ouvindo dizer que as gorduras sempre foram as grandes vilãs da boa forma física e da boa saúde. Responsáveis pela abertura das portas de entrada para diversas patologias no interior do corpo físico. Existem diversas pesquisas que associam o excesso de concentração de gordura corporal com o aparecimento de doenças cardiovasculares (arteriosclerose, pressão alta, distúrbios circulatórios) e outras tantas que podem ser relacionadas direta e indiretamente com esta concentração, que são as de caracteres articulares e reumáticas.

Por outro lado, os atletas de endurance que costumam visitar a zona de fronteira da resistência física, sabem que é preciso muita disposição e energia para suportar as asperezas dos treinamentos extenuantes quando se têm objetivos de alcançar uma boa performance nas competições de alto nível . As gorduras neste caso podem ser uma excelente fonte de energia e mais ainda, ajudam na prevenção de lesões.

O fato é que cada vez mais cresce no meio acadêmico da nutrição esportiva a discussão, quanto ao uso de gorduras nas dietas dos atletas, sobretudo como forma de aporte de energia durante os longos períodos de treinamentos em que são submetidos. Muitos nutricionistas advogam que a utilização de fontes de gorduras contribui para redução da fadiga muscular, e como estão sendo disponibilizadas diretamente para exercício físico acabam por reduzir o próprio percentual de gordura corporal. Todavia, enquanto que na pesquisa de vanguarda ainda não se chegou a nada de conclusivo, o melhor mesmo é trilhar o caminho que a ciência vem ratificando já algum tempo, ou seja, quando se fala em fornecimento de energia para realização de atividade física, o melhor mesmo é o consumo dos bons e velhos carboidratos, pelo menos esta é a opinião de consenso dentro do meio científico da nutrição esportiva.

De fato anos de pesquisas vem demonstrando que os carboidratos são a fonte principal de energia, acumulam-se nos músculos e fígado sob a forma de glicogênio, de maneira que possam ser disponibilizados de imediato para o músculo no momento que demanda por energia ao entrar em atividade.

Segundo estudos, as células do tecido adiposo ao longo do processo evolutivo adquiriram capacidade de otimizar acumulação de gorduras. Havia a necessidade, nos primórdios da civilização de se economizar ao máximo o alimento capaz de sustentar a vida. O metabolismo interno do corpo, em sintonia com o princípio desta economia, adaptava-se ao máximo para manter as reservas de gorduras em períodos de escassez, dentro de uma margem de segurança capaz de garantir a sobrevivência do organismo por longos períodos de jejum. Outrossim, baseados nesta capacidade que o metabolismo adquiriu, ao longo de seu processo evolutivo, os cientistas da nutrição acreditam que, no caso particular dos atletas em áreas limítrofes da resistência física, esta reserva de gordura pode ser disponibilizada como fonte de energia para os músculos, poupando como conseqüência a preciosa fonte de glicogênio para o sprinter final, uma vez que depleção desta fonte de energia ocorre muito facilmente. Todavia, é preciso que as enzimas responsáveis pela quebra e pelo transporte da molécula de gordura aos músculos estejam bem condicionadas para realização deste trabalho. Condicionamento este que só se obtém com treinamento orientado para resistência de longos períodos em atividade física constante, que acaba criando alterações fisiológicas para que esta adaptação ocorra. Porém o assunto está longe de um consenso, os resultados encontrados nas poucas pesquisas ainda não são suficientes para delinear no horizonte da nutrição nenhuma estrela guia. E, além do mais a maioria dos estudos foram realizados com a utilização de cobaias animais ou com atletas de alta performance, cujo método é bastante questionável do ponto vista de adaptação da dieta na realidade prática do dia a dia. E o resultado prático no campo real da rotina de treinamento vai depender muito também da filosofia empregada no método de trabalho com atleta.

Além do mais o processo de queima de gorduras utilizado como fonte de energia não é menos complexo. Aliás, quase toda reserva de gordura utilizada neste processo vem das chamadas “gorduras intramusculares” existentes no interior dos músculos. Desta forma, pouca ou quase nenhuma é a contribuição das gorduras depositadas no tecido adiposo, ou seja, aquelas gorduras que são vistas na forma de dobras na região abdominal do corpo o chamado “pneu” e os indesejados e tão execrados “culote” do mulherio. É de se presumir que após um longo período de intensa atividade física todas essas reservas, tanto as de glicogênio como as da gordura intramusculares precisem ser recompostas. Por conseguinte, tanto a gordura da dieta como a gordura depositada na pele pode se prestar ao papel de repositório dessas reservas. Se utilizarmos a gordura contida na dieta como forma de reposição energética, não haverá a quebra metabólica da gordura subcutânea, esta permanecerá intacta sob a forma de poupança. Daí vem a noção de que o corpo continua queimando caloria mesmo após ter encerrado o período de atividade física. Uma vez que o corpo precisa recompor as reservas que foram esgotadas durante o exercício, e na ausência da dieta ele lança mão das reservas subcutâneas. Presumi-se que o ideal é manter-se em jejum por pelos menos até uma hora após o término do exercício apenas se hidratando, para que haja tempo do corpo metabolizar a quebra das gorduras contidas no tecido adiposo, tendo em vista a relativa lentidão com que este processo ocorre em pessoas comuns.

Portanto, galera antes de cair no modismo bom mesmo é esperar o que de concreto vem se realizando nesta área. Outrossim, por hora todas essas pesquisas científicas também não autorizam a ninguém sair por ai atacando desesperadamente as fontes de alimentos gordurosos. Todavia, devemos ter uma relação de moderação com o consumo dos alimentos de origem animal, como carnes, leite e os seus derivados e etc..., tudo isto são fontes de gorduras saturadas que contribui para o aumento do LDL (o colesterol ruim)., e devem ser evitadas sobre qualquer hipótese as suas ingestões em grande quantidade. Quando se fala aqui a respeito de gorduras referem-se, basicamente àquelas que são fontes de gorduras monos e polinsaturadas (HDL). As gorduras monoinsaturadas, não podem como não devem faltar nas dietas, uma vez que combate o colesterol ruim e tem ação antioxidante, o que diminui consideravelmente o risco de doenças cardíacas. Podemos citar como exemplos algumas das suas principais fontes: azeite extra virgem, abacate, óleo de canola , amendoim, milho e avelã. Já as polinsaturadas que são fontes de ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, podem ser encontradas nos peixes de carne vermelha e nos de águas frias (salmão, atum, sardinha, trutas e etc...), e além do mais as gorduras polinsaturadas tem a propriedade de diminuir os triglicerídeos no sangue e as placas de gorduras no interior das artérias. Vale notar ainda que ômega-3 exerce sobre as articulações importante papel antiinflamatório, bem como influencia o ganho e o aumento da massa muscular.

Então galera, nem tudo o que se fala de gordura é inferno como nem tudo é céu. A onda é moderação, e vamos esperar que os vanguardistas da matéria nos traga as últimas a respeito do assunto.

Fábio Omena

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 05/01/2010
Código do texto: T2012793