Travessia espiritual

Sempre que ocorrem tragédias com mortes coletivas, como recentemente no Reveillon em Angra dos Reis ou como em atentados terroristas nos moldes do 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, penso em como deve ser a travessia dos espíritos que desencarnam. Aterroriza-me a simples hipótese (muito provável) da extrema dor sentida pelos que deixam esta vida de forma tão súbita e violenta.

Sem recorrer a qualquer visão religiosa que possa sustentar meus argumentos, intuo apenas que do outro lado certamente chegam muitos espíritos fragmentados, que sequer tiveram tempo de entender o que aconteceu durante sua passagem. Parece uma discussão sobre o sexo dos anjos cogitar o que possam ter sentido todos aqueles que se foram abruptamente nessas e noutras tragédias similares. Afinal, a dor dos que ficaram – ainda que não sejam parentes – é aguda em igual proporção. O tema suscita, no entanto, um velho tabu da humanidade (principalmente para os ocidentais), que é o medo e o despreparo para lidar com a morte.

Em sua quinta temporada, Ghost Whisperer ( “Fantasma confidente ou sussurrante”, numa livre tradução) aborda esse assunto de uma forma bem interessante. Exibida no Brasil pela Sony Entertainment Television, esta série é referendada pelos trabalhos do médium norte-americano James Van Praagh e protagonizada pela atriz Jennifer Love Hewitt. Ela é Melinda Gordon, uma dona de antiquário que desde pequena lida com o dom de ver e conversar com os mortos.

Em cada episódio de Ghost Whisperer Melinda vive uma história diferente em que precisa conversar com espíritos que ainda estão apegados ao plano terrestre devido a questões mal resolvidas que os impedem de seguir em paz. Ela se propõe a ajudá-los a resolver o que ainda os prende a esta vida, normalmente cumprindo o difícil papel de transmitir mensagens às pessoas com quem estes seres espirituais ainda possuem pendências.

Deixando de lado os aspectos gerais e específicos que norteiam as doutrinas religiosas nesse que é o maior mistério a ser desvendado pelo ser humano, é quase um consenso de que temos um espírito atrelado ao corpo físico. Se o aniquilamento deste corpo não produz o mesmo efeito no espírito, é natural imaginarmos que este último seja projetado para outro plano. Esta é a travessia espiritual que abordo aqui e que também é o mote da série mencionada.

Indo mais adiante, se tomarmos do cinema outro modelo para entender essa passagem – no caso, o filme “Amor além da vida” (com Robin Williams e Cuba Gooding Jr.), dá para buscar conforto na hipótese da imortalidade e atemporalidade do espírito. Assim, do outro lado teremos a oportunidade de reencontrar entes queridos (no meu caso, meu saudoso pai) ou mesmo conhecer antepassados (avós, bisavós...). Mais até: é possível imaginar ainda que, da mesma forma que ao longo desta existência temos pessoas que são preparadas para nos conduzir em contínuas travessias educativas, do outro lado é bem possível que haja espíritos incumbidos de nos dar as mãos até completarmos a caminhada. Em minhas orações é este alento que peço a Deus para todas as pessoas que desencarnam (em especial para as que se vão de forma trágica).

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 08/01/2010
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