MÁRIO CABRAL

Certo dia entrei no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Para dizer a verdade, nem me lembro mesmo qual o objetivo dessa minha visita. Saí olhando o que estava mais próximo, revistas, jornais, alguns livros. Depois senti que a poesia era o meu interesse, como sempre. Imediatamente pula à frente dos meus olhos um livro onde um nome se destacava: Mário Cabral. Não era um nome estranho, pois bailava no ar de Aracaju, principalmente no ambiente frequentado pelos poetas. De qualquer forma, cumpre notar que, nós, sergipanos, não temos uma boa fama de conhecedores dos nossos valores culturais.

Fiquei ali, no salão de leitura e não conseguia parar de ler os sonetos daquele poeta. Li o livro inteiro, acredito que até repeti alguns poemas da suave lira desse homem. Como gostei de ler Mário! Amei! Fiquei com Mário Cabral falando em meus ouvidos até aprender um pouco mais sobre ele, um sergipano apaixonado por Aracaju, principalmente, mas que já vivia em Salvador há muitos anos. Aprendi mais ainda quando comecei a frequentar e a fazer parte do Grupo de Apoio Cultural Dr. Antonio Garcia Filho (MAC), da Academia Sergipana de Letras. Inclusive faço questão de relembrar o imortal sergipano, o inesquecível amigo Dr. Manoel Cabral Machado, primo de Mário.

Não conseguia tirar Mário Cabral de minha mente. Que poesia maravilhosa! Sonetista reconhecido nacionalmente, mas também advogado, crítico, jornalista, professor e ex-prefeito da capital sergipana.

O tempo segue sua implacável caminhada e eis Mário em meus braços. O intelectual sergipano faleceu em 2 de abril de 2009, em Salvador, mas cuidou de vir para o meu colo pelas mãos de Ana Maria Fonseca Medina, sua biógrafa e de quem tenho o privilégio de revisar o exuberante texto. Em breve a biografia do poeta será publicada e outros poderão aprender mais sobre Mário Cabral, como acontece comigo.

Para fazer mimo, demonstrar carinho pelo poeta, e presentear leitores deste texto, incluo duas de suas composições:

VELHICE

Quando o octogenário

Chegou a Varig.

Notou, na recepção,

A mesma moça que já vira antes.

Uma pintura! Uma lindeza!

E o velho ficou parado,

Embevecido, contemplando-a,

Cheio de ternura e emoção.

Sentindo a sua presença

Ela ergueu os olhos azuis:

_ Deseja alguma coisa, senhor?

E ele disse apenas:

_ Não! Nada não! Desculpe...

E saiu triste e trôpego,

Deixando, ali, no balcão da Varig,

A imagem do seu último sonho...

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E mais este soneto dedicado à praia de Atalaia:

Essa praia... esse mar... esse céu que me enleia...

Essas dunas, sonhando, à carícia da aragem...

Essas ondas, rolando, em franjas pela areia...

Essas nuvens, passando, em rebanho selvagem...

Em seu quimão de prata a lua é uma sereia

Que me traz, pelo azul, a mais linda mensagem...

Uma vela perdida, alvacenta vagueia,

Como um lenço do adeus decorando a paisagem...

Coqueiros a acenar... Canções em murmúrio...

A beleza da vida em tudo exuberando

No suave esplendor dessa noite de estio...

A dúvida, porém, de súbito me invade...

E mudo triste, quedo, eu fico palpitando,

Entre o ser e o não ser, entre o amor e a saudade.

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