Ouvir: uma virtude das relações Humanas.

Ouvir: uma virtude das relações humanas

Existe um provérbio Árabe que diz: “Temos dois ouvidos e uma boca justamente para ouvir mais e falar menos”.

Nos dias atuais, as pessoas estão envolvidas em tantos projetos, tantos ruídos, tantas necessidades materiais de um mundo competitivo e rápido, que não se tem dado a importância para a questão do ouvir. Nossos ouvidos tem capitado diversos sons, mas são poucas as pessoas que desfrutam dessa arte de saber ouvir.

Todos nós, desde a mais tenra idade, somos incentivados a aprender a falar, escrever, ler, mas nunca vi algum curso que nos ensinasse a ouvir. Temos cursos de oratória, porém nunca vi algum de escutatória. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Então nós, que não somos cegos, abrimos os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. Nós não somos cegos. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de ideias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia.

Em um dos meus treinamentos pedi que cada participante fizesse uma breve apresentação e dissesse as razões que os levaram a participar daquela seleção. Quando chegou à oitava pessoa do grupo, pedi que ela dissesse o que o colega havia dito anteriormente. Para nossa surpresa, ela pediu desculpas, pois não sabia se quer uma palavra do que o amigo tinha dito anteriormente.

Desejei saber o que havia interferido naquele rapaz que não havia ouvido com atenção.

Estudiosos do assunto falam que o meio – fatores como fome, sede, cansaço, zanga - pode ser um fator influenciador na questão de escutar. Mas, afinal, porque nos tornamos tão maus ouvintes? A grande falha ocorreu também no sistema escolar, dando muita ênfase ao ensinar, ler e escrever. Posteriormente a isso, o treinamento de ouvir vinha por meio de uma advertência: “Prestem atenção!”; “Ouçam!”; “Abram os ouvidos!”.

Chegamos ao mercado de trabalho com uma necessidade enorme de saber ouvir. O que fazer para superar essa nossa deficiência? Estejam atentos e demonstrem isso, mantenham um bom contato visual, saibam entender o que o emissor deseja falar, não interpretem a sua maneira, certifiquem-se se o que ele está dizendo realmente é aquilo mesmo que você entendeu. Para aprender essa nobre arte se faz necessário paciência, meditação, disciplina. Aquietar-se, saber ouvir a si mesmo para depois ouvir o outro.

Ao ler esse pequeno artigo que você, leitor, faça uma reflexão sobre a mais nobre arte das comunicações e que sejamos despertados para ela: saber ouvir.

Dr. J.F.Alvarez 8/2/2010

jafjaf
Enviado por jafjaf em 09/02/2010
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