A Sociedade em Chamas

Para aqueles que conseguem abrir os olhos em meio a esse “lamaçal social”, a indignação e a angústia tomam proporções insuportáveis. É de tamanha infelicidade que tenho de tratar sobre os rumos que a sociedade atual vem tomando. E por que preciso compartilhar estas impressões? Por que acredito que nós devemos ter responsabilidades com o espaço no qual habitamos, visto que outras gerações estão por vir. A discussão pode se desmembrar em outras diversas, extensas e cansativas discussões estabelecidas, por exemplo e principalmente, no meio selvagem acadêmico.

Como não pretendo perder tempo, nem me digladiar com nenhum ser (ou não) intelectual, gostaria de chamar-lhes a atenção fazendo uma simples comparação neste breve texto. A comparação se daria entre a realidade atual e o mundo de “fantasias”, do tipo em que encontramos estórias de aventuras, fábulas, ficções, contos etc. Imaginem que crescemos ouvindo estórias e histórias sobre o bem e o mal, a luz e as trevas, as guerras e a paz, e a partir daí passamos a construir nossas concepções sobre tais lados positivos e negativos, energias boas ou ruins, ou seja, formamos nossas ideias acerca do que acontece no mundo real. Umas das principais ideias que construímos, se tivermos uma “normal” educação atrelada aos aspectos que me refiro neste texto, é a de que temos que nos posicionar do lado do bem e fazermos coisas boas. Desta forma, a todo instante absorvemos mensagens lindas de que o bem sempre vence, de que no final tudo vai dá certo, que “Deus” está em todo lugar e por aí vai. Aliada a estas ideias, absorvemos frequentemente informações de que vivemos num sistema ideal, que a economia está crescendo e um dia atingiremos o desenvolvimento tão esperado. Entretanto, percebe-se que os fatos se distorcem e as mazelas estão ao nosso redor, onde quer que estejamos. Por outro lado, é óbvio que a sociedade tem conhecimento dos tristes acontecimentos regularmente noticiados pela mídia alienadora e manipuladora. Mas convenhamos que notícias sobre mortes, assassinatos, guerras, catástrofes, se tornaram mais um natural atrativo “masoquista” ou necrófilo a ser visto na tela da TV, o que é um fator socialmente preocupante. E é deste modo que há muito tempo está sendo disseminado um conformismo e um egoísmo no seio desta sociedade.

O que eu quero dizer, é que se estabeleceu dentro da sociedade um pensamento do tipo “não é comigo, então fodam-se”, ou do tipo “liga a TV pra a gente ver o que aconteceu (de ruim) hoje”. Nota-se de maneira clara o egoísmo impregnado na primeira expressão e encontramos o conformismo na segunda. Pois é, meus caros amigos, chegamos a um tempo onde até as tragédias sociais, como as desigualdades e as guerras ambiciosas, que são provocadas por esse sistema de mercado, podem ser vistas como atração (mercadoria) da mídia que faz de tudo para saciar a sede da curiosidade insana de seus telespectadores.

Nesse momento, podemos pensar numa série de questionamentos, sendo que alguns mais relevantes seriam: o que estamos fazendo para que, no final, tudo dê certo? Será que o que está acontecendo mundo afora e ao nosso redor não tem nada haver conosco? Até onde teremos que chegar para praticarmos soluções?

A verdade é que tudo já está muito caótico, a sociedade encontra-se em chamas, e quem não se queimou, ainda irá se queimar. Para que esse fogo não se propague, temos que sair do plano das ilusões que insistem em nos perseguir. É preciso parar de lutar pela obtenção de qualquer forma de poder e nos tornar lutadores “solidários”, seja no ambiente estudantil, seja no ambiente de trabalho, seja em qualquer ambiente. Sei que existe uma minoria arregaçando as mangas, derrubando barreiras e arduamente levantando muros em busca de construir uma nova sociedade. Todavia, essa minoria deve crescer e tomar novas proporções, pois o que se tem visto são seres humanos agarrados em seus “amuletos” esperando que alguma ajuda ou solução caia do céu. Pelo andar da carruagem, é mais provável que uma bomba caia do céu, do que uma ajuda divina. Sejamos realistas e reflitamos sobre alguns pontos onde o fogo está se expandindo: um primeiro ponto seria o de que as culturas tradicionais estão sucumbindo em meio às culturas globais de mercado; outro ponto seria o do que os bens naturais estão cada vez mais se tornando propriedade privada, sem falar na destruição destes bens, e neste caso, o fogo queima literalmente; a violência e a miséria são conseqüência da falta de equidade social e de uma verdadeira e eficaz educação; os movimentos populares de contestação e de luta por melhoria de condições de vida são criminalizados e seus líderes, nos dias atuais, estão sendo torturados e mortos frequentemente. Estes foram alguns aspectos permeados entre vários.

De um modo geral, os poderosos ambiciosos estão em toda parte dominando todo esse sistema desigual no qual vivemos, ou seja, eles alienam, manipulam informações, exterminam, subornam, corrompem, humilham etc. E o que a maioria da população tem feito é baixado a cabeça, fechado os olhos e obedecido ordens e/ou aceitado deliberações impostas autoritariamente. Estamos há muito tempo aceitando de cabeça baixa, o assistencialismo, o clientelismo, a dominação. Contentamo-nos em viver através de favores dos políticos, fazendeiros, empresários, comerciantes, obedecendo as suas vontades e adorando-os divinamente. A maioria do povo vive num estado de dependência, mas não se percebe como dependente porque está embriagado com a droga do contentamento. No entanto, essa realidade pode ser inicialmente mudada através da socialização do conhecimento e de outras ações. Para isso, é necessário dar o primeiro passo, levantando a cabeça e enxergando o que está ao redor. E ao olhar para longe, tentar ver uma mudança no tempo, aonde as nuvens de chuva cheguem e apaguem os pontos em chamas. Por fim, insisto que ao analisarmos e refletirmos de maneira profunda, chegaremos à conclusão de que a luta é o caminho para se obter a verdadeira mudança social, isso sem temer a queda ou a morte, pois estar submisso a alguém ou a alguma coisa, é o mesmo que estar morto.

David Pimentel
Enviado por David Pimentel em 25/02/2010
Código do texto: T2106319
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.