Amigos ouvintes (Arnaldo Jabor)

POLÍTICA NACIONAL

“Se esses canalhas prevalecerem, sempre voltará o dragão do atraso com sete cabeças e dez chifres e sete coroas em cada cabeça. A prostituta da miséria brasileira virá montada nele, berrando blasfêmias, vestida de vermelho, segurando uma taça cheia de abominação de suas fornicações. Ela estará bêbada com o sangue dos pobres, e sua testa estará escrito: “Mãe de todas as meretrizes. Mãe de todos os ladrões que paralisam nosso país”. Portanto, só nos resta maldizer, como na bíblia: que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas. Que vossos cabelos com brilhantinas vos cubram com uma gosma repulsiva. Que vossas gravatas bregas vos enforquem. E que vossos bigodes apodreçam no ar de Brasília”.

A sujeira representada pelo terno e a gravata, a podridão ocupando os assentos vazios da masmorra de Brasília. Jabor um dos críticos mais respeitados da televisão brasileira por sua voracidade na fala, culto, dominador da oratória sabe como ninguém o lugar exato de cada palavra e conhece os atalhos certos para atacar inteligentemente encantando os ouvintes com sua dialética bem moldada. Que essas pragas jogadas aos corruptos de Brasília tomem o rumo certo um Brasil ético, decente e livre da corrupção clama por isso.

POLÍTICA INTERNACIONAL

“A história, às vezes, tem ataques epiléticos. Já tivemos de tudo em matéria de loucura, violência, tragédia. Isso continua nas guerras, que explodem no Iraque e no Oriente Médio, ou no terrorismo, mas há uma coisa nova no ar: a imbecilidade no poder. Parece que os idiotas foram transformados em ídolos, em deuses das multidões. Basta um sujeito ser bem estúpido, parvo, babando na gravata as piores bobagens, que é eleito ou então transformado em líder político”.

Aqui Jabor faz um menção a Bush por conta do terrorismo que se alastrou diante do seu governo ocasionando a quedas das torres gêmeas no 11 de setembro inesquecível, mas ainda pelo fato de atacar o Iraque em busca do petróleo e de contratos bilionários. Menciona maior ironia ainda o presidente Venezuelano ao dizer que sua cara, mas parece a cara de segurança de show de rock, ainda menciona o Boliviano Evo Morales e diz que o mais idiota de todos é Iraniano Mahmoud Ahmadinejad criticando a sua negação ao holocausto ocorrido na segunda guerra mundial. Infelizmente idiotas no comando tem em toda parte, assim como os adoradores de idiotas existem em toda parte.

AMOR E SEXO

“O sexo é muito mais complicado do que parece. Se continuar assim, daqui a alguns anos muita gente terá adotado o implante de eletrodos, porque ser feliz sexualmente com Bush no poder, e homens bomba explodindo, está cada vez mais difícil. Sem crescimento econômico, então, nada cresce. Com desemprego subindo, tudo desce”.

Critico sagaz de Bush por ser um idiota no poder dos Estados Unidos segundo ele, por ter deixado em todos o pavor da guerra contra o Iraque e reservadamente com o Osama Bin Laden. Neste trecho Jabor mistura sexo com política e percebe que sexo e política são duas grandezas inversamente proporcionais.

VIOLÊNCIA

“Esta surgindo no Brasil um novo tipo de crueldade. Não se trata de sadismo apenas. O sadismo pressupõe prazer planejado, perversão de fruir o mal, a violência. Não, não é isso. É apenas descaso, brutalidade banal. Mata-se por nada, destrói-se o outro como se cospe, como quem chuta uma pedra. Não há ideologia, misticismo, fé, loucura. Nada. Apenas a morte gratuita, sem nome”.

Aqui Jabor faz menções aos atos brutais ocorridos em meados dos anos de 2005 a 2006 como o caso de Suzane Von Richthofen que matou os pais a sangue frio. Este é o novo tipo de crueldade que Jabor menciona surgir no Brasil, esse mal que faz correr lagrimas dos olhos, pudor da alma, arrepio na pele, que choca, deprime e vem as perguntas:

Que mundo é esse? Onde vamos parar?

PERSONAGEM

“Picasso era um gênio meio maluco que nasceu com a missão de reexplicar o mundo para nós – aqueles que veem menos do que seus olhos negros e profundos viam. A viúva de Picasso disse que ele não podia ficar com a mão parada. Mexia em tudo. De um peixe comido, tirava a espinha e fazia uma cerâmica. Um selim de bicicleta, transformava em cara de boi. De um beijo na praia, uma fome voraz entre corpos – transformava uma mulher em flor e uma flor em mulher”.

Este é um trecho que mostra a beleza poética das palavras de Jabor um poeta real, de verdade cravado na televisão brasileira cantando outro poeta, o poeta das artes Picasso foi o maior de todos em sua arte, foi chamado de maluco por Jabor talvez pela beleza excessiva de seus quase 36 mil quadros sem contar com as esculturas e cerâmicas. Isso tudo de quadros mostra o artista que foi dedicado a sua arte, dedicado em expor sua imaginação nos quadros com cores diversas, talvez tenha sido arco-íris.

CINEMA

“Um dia, disse a Stuart: “Você não tem medo de ser preso e torturado?”. Ele respondeu: “Medo eu tenho, mas preciso ir em frente”. E eu: “Mas, se for preso, aguentará a barra?”. E ele: “Se for preso, não digo nem meu nome”. E não disse.

Stuart foi preso meses depois de nossa conversa e se recusou a dar qualquer informação sobre companheiros de luta. Foi torturado como poucos durante a ditadura. Como morreu? Dentro da Base Aérea do Galeão. Foi arrastado por um jipe, com a cabeça amarrada junto ao cano de descarga, inalando gás carbônico na frente de soldados e oficiais. A morte desse herói foi uma das piores violências da ditadura”.

A luta pela democracia em nosso país se deu através desse fato ocorrido tragicamente com o Stuart e tantos outros e mostra a coragem dos jovens da década de 80 de lutarem por seus ideais. Foi por isso que Stuart Angel morreu de forma brutal porque queria a todo custo sua liberdade e a de todo o povo brasileiro, queria a todo custo à liberdade de expressão e isso o custou a sua vida, mas foi fiel a seus amigos até o final.

DIA A DIA

O Brasil foi feito assim. A corrupção é uma regra, e a honestidade, uma exceção. Hoje, com a democracia, a opinião pública ligada on-line e a informação imediata, está mais difícil enganar o povo e a opinião pública. Pode ser que agora possamos sair do século XVII. Feliz ano de 1656.

Uma ligeira ironia como é de costume em todos os finais dos textos de Jabor. Enfatiza um Brasil atrasado que vai ganhando ares de informatização, segundo ele a informação chegou ao Brasil através dos meios de comunicações fica bem mais difícil a empreitada dos corruptos para enganar.

É bastante empolgante a leitura do livro amigos ouvintes de Arnaldo Jabor, um livro que se torna importante pelo relato dos principais fatores ocorridos de 2002 a 2008, na política nacional e internacional, cinema, dia a dia e violência, com um dom incrível na oratória, a dialética maravilhosa consegue superar e satisfazer o publico ouvinte e leitor ao mesmo tempo. Além de trazer uma dinâmica inteligente aos comentários jornalísticos.