É MAIS FÁCIL UM CAMELO PASSAR PELO FUNDO DE UMA AGULHA DO QUE UM PROFESSOR CONSEGUIR AUMENTO DE SALÁRIO NO GOVERNO SERRA

A partir de um projeto horrível, o pior em toda a história da educação paulista, o governo e seu secretário Paulo Renato -que já foi funcionário do Banco Mundial -através das chamadas PLCs instituiram uma porção de regras burocráticas e traçaram juntos um caminho tortuoso e estreitíssimo para que o professor efetivo consiguisse obter um aumento razoável em seu soldo. O suposto caminho para o sucesso na educação é estreito e restrito, apenas 20% da categoria poderá passar por ele. Parafraseando as palavras do Messias: É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um professor conseguir aumento de salário com esse governo. Além de estreito e tortuoso, o caminho que Serra e seu secretário traçaram juntos para o professor efetivo é um caminho espinhoso e árido, quem conseguir alcançar o objetivo proposto, chegará ao final, morrendo de cede e de inanição. O professor até poderá ter ido muito bem na prova de meritocracia, mas isso não basta, os critérios são obscuros e injustos, podendo o professor ser punido conforme o número de faltas durante os anos anteriores à prova, para isto contarão os atestados médicos, as licenças, as abonadas que o professor tem direito, e se tiver se removido de escola nos últimos três anos não poderá ter mérito algum. Veja só! Não se pode nem ficar doente. E tiver acontecido algum imprevisto, uma ameaça de morte ou algum tipo de intimidação ao professor ou professora que tenha levado a fazer o seu pedido de remoção? E o profissional que por força maior teve que mudar de escola, depois de passar seus cinco, dez, quinze ou vinte anos dentro de uma unidade escolar, e agora se encontra nessa situação? Você conhece alguém que sem nenhuma escolha teve que se remover?

Em Jandira, uma professora do interior lamenta ter deixado a sua família tão distante por conta da política desse governo, ela deixou marido, filhos e parentes para ficar adida em um município da periferia da Grande São Paulo e agora tem que ficar cumprindo horário fora da sala de aula simplesmente por que não conseguiu ter suas aulas atribuídas. “Para chegar até Jandira tenho que viajar muito e estou pagando para dar aulas pelo gasto que tenho com a condução”, diz a professora. “Na minha cidade todos os professores estão em greve”, concluiu. Segundo depoimento da professora cujo nome não convém citar para evitar algum tipo de coação por parte do governo a vontade dela era de pedir sua exoneração, porém, alguém a aconselhou esperar um pouco mais. Essa é a meritocracia que o governo impõe sobre os professores e professoras do Estado de São Paulo. Essa professora veio de tão longe, viaja mais de 450 quilômetros de Lins à Jandira e está fora da meritocracia. É justo? Não entra nessa reflexão o fato de ela ser boa ou não naquilo que faz, mas sim o fato de ter se removido por conta de uma política que vai tirando o espaço do professor através da municipalização como aconteceu em Barueri, Santana do Parnaíba e em outros municípios que seguem a mesma orientação partidária do PSDB. Não é o professor que quis mudar de escola, mas foram espremendo esse profissional até que saísse do seu local de origem.

“SERRA NÃO GOSTA DE PROFESSOR”

Essa foi a afirmação do ex-secretário vereador eleito na cidade de São Paulo e ex-integrante do PSDB, o deputado Gabriel Chalita. No Twitter Chalita criticou a política educacional de José Serra (PSDB). “Projeto do governo de São Paulo mostra que Serra não gosta de professor. Nada de aumento agora. Projeção de aumento mediante prova em alguns anos”, afirmou Chalita. Apesar das críticas que sofreu durante o período que passou como secretário, Chalita nos traz uma reflexão quando diz: “Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes, mesmo que não germinem no tempo certo... Mesmo que pareçam frágeis frente as intempéries... Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas. O espírito de um mestre nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis como desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores, aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz. Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em um terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamante”. Como secretário Chalita experimentou um pouquinho da quilo que acabara de dizer: o professor nunca desiste mesmo de seus sonhos e de seus ideais e é por isso que tem razão quando diz que Serra não gosta de professor, porque é a única categoria que de fato constitui uma ameaça real ao futuro político de qualquer governo. Foi assim com o PMDB. Dizíamos nas passeatas: “P-M-D-B nunca mais vai se eleger” e assim foi. E agora gritamos: “P-S-D-B nunca mais vai se eleger”, e assim será. Esse grito profético dos professores tem muita força e seu eco irá incomodar muito. Nossos alunos serão os multiplicadores desse grito, os pais e a sociedade hão de responder nas urnas. Serra não será presidente desse país! O que ele faz com a educação não é digno de um homem que pretende governar o Brasil. “A valorização por mérito é lamentável” diz Gabriel Chalita, que agora integra aos quadros do PSB. Essa proposta absurda conhecida como PLC 29 que cria a Valorização Pelo Mérito foi aprovada na ALESP (Assembléia Legislativa de São Paulo) em 21 de outubro de 2009, e prevê reajuste de até 25% para docentes da rede estadual de São Paulo que tiverem melhor desempenho em prova aplicada anualmente, mas será analisada toda a vida funcional do professor, tempo de permanência e assiduidade na escola.

Segundo Gabriel Chalita, “O ponto central de uma avaliação deve ser o aluno. A iniciativa vai estigmatizar o professor. Se o docente precisa ser avaliado para receber aumento, por que não avaliar os engenheiros, os médicos ou os políticos do Estado para receber aumento”? Ao fazer esse questionamento, o ex-secretário diz: “Não sou contra formar professor ou avaliar, muito pelo contrário. Acho que o processo avaliativo sempre é bom, mas o ponto central deve ser o aluno. Não acho que o professor que tirar dez na prova é o que tem melhor desempenho dentro da sala de aula. Esses critérios são obsoletos em termos educacionais, mas são mostrados como inovação”. A realidade das escolas é muito diversa, heterogênea e complexa e esse projeto imposto arbitrariamente não leva isso em consideração. Para o ex-secretário, essa política é equivocada. Para ele “O professor não tem que decorar teorias pedagógicas. Tem que saber dar aula e se relacionar com seus alunos”, o que quer dizer que provinha ou provão não servem para medir a competência e nem a capacidade de um professor. Esse critério já vem sendo contestado por alguns teóricos referente ao modo de avaliar o aluno. Aliás, a prova punitiva, classificatória sempre foi rebatida e colocada como um método excludente, por que agora é permitido usar esse critério com o professor? Está na cara que esse é o método da exclusão profissional. Quanto o governo não economizará? Ao invés de aumento para todos, só para alguns... Essa proposta é tão ruim, que levou aos professores a entraram em greve, é tão ruim, que não inclui os aposentados. Coitados, passaram a vida inteira dando aulas e agora, o governo olha pra esses professores com desprezo.

Aos professores mais jovens... Você conseguirá passar pela porta estreita do Serra, professor?

O ESTADO COMEU A CARNE E AGORA NÃO QUER ROER O OSSO

“Porque gado a gente marca Tange, ferra, engorda e mata. Mas com gente é diferente… Se você não concordar, não posso me desculpar. Não canto pra enganar; vou pegar minha viola, vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar.” (Chico Buarque, 1968)

Em 2008 fizemos greve para derrubar a PLC 19, ela foi retirada de pauta de votação mas a bomba viria depois no governo de José Serra, ele transformou a PLC 19 em Lei 1093/2009, que institui a prova dos OFAs. Professores temporários ocupantes de função em sala de aula passam mais anos como contratados que um simples operário, tem professor temporário desde quando entrou na educação, um metalúrgico, um cobrador de ônibus por exemplo, passam apenas três meses e depois são efetivados na empresa. Tem gente na educação trabalhando e sendo humilhado, massacrado pelo governo há 20 anos e outros mais que isso, só que agora a coisa ficou pior, quem não passou na prova não pegou aula e irá ganhar por 123 horas-aulas um salário de 500 reais. Tem professor cumprindo essas 12 horas na escola, sendo alvo de chacota de professores estudantes ou mais novos que se enquadram na categoria ó. Um professor relatou ao comando de greve numa escola (Osvaldo Samartino) de Jandira: “tem professor se gabando de ter passado na prova e tirando o sarro de professor que não conseguiu ir bem, às vezes o professor tem até se calado para não criar atrito com os colegas mais novos que estão tirando o sarro deles”, afirmou. Veja o que o governo conseguiu fazer com a categoria dos professores: ele dividiu os professores por todas as letras do alfabeto (F, L, Ó), e a categoria Ó só terá aulas esse anos, porque, segundo os critérios ficará afastada por 200 dias, sendo desligada em dezembro, perdendo direito a férias, décimo terceiro salário, bônus etc. Veja:

Os ACTs é que depois de uma Resolução de 17/07/2009 qualquer professor que entrar no na Rede depois dessa data terão novas regras:

a) professor entra no 1ª dia letivo e sairá no final do ano, porém terá que ficar afastado da rede por 200 dias, somente depois de um ano ele poderá voltar;

b) Terá direito a 02 folgas abonadas;

c) Licença Nojo 02 dias;

d) Licença casamento 02 dias;

e) ele assinará contrato, que vale por 200 dias, vai acabar as portaria de admissão, etc...

Existem outras regras para este novo professor contrato a partir de 17/09/2009 (denominado de categoria O).

O governo comeu a carne e agora não quer roer o osso. Ele quer descartar o professor mais velho porque esse professor tem vários qüinqüênios, adicionais e gratificações que um professor novo ou estudante não tem, é por isso que instituiu a prova, é para descartar o professor que está para aposentar. Depois de sugar tudo que o professor tinha para oferecer, agora fica fácil descartá-lo. Tem diretor de escola que defende a prova para o OFA mas é contra a prova de meritocracia, por quê? Certamente deve ter algum parente ou amigo que foi bem na prova do OFA, por isso defende, mas quem defende essa maneira de descartar os professores mais velhos não enxerga a verdadeira intenção nefasta do governo.

E se esses que defendem a prova estivessem na mesma condição desse professor ACT velho? Será que passaria?

Será que gostaria de se aposentar com um salário de 12 aulinhas, ou seja, 500 reais?

Para alguns diretores e quem mais defendem a prova dos OFAs...

“Pimenta nos olhos dos outros é refresco!”

Não se pode sair por ai descartando as pessoas assim. Quem comeu a carne deveria agora roer o osso também, ou seja, se não entendeu, vou traduzir: o Estado deveria arcar com a responsabilidade de proteger esse professor em fim de carreira, tratá-lo com dignidade e permitir que se aposente como um trabalhador que tem seus direitos garantidos.

A APEOESP e outros sindicatos ligados à educação não defende prova para professor, defende CONCURSO PÚBLICO e classificatório, não eliminatório para todos os professores. Porém o governo quer garantir concurso apenas para 10 mil professores e com carga horária de apenas 10 horas. Qual será o salário??? Tem mais de 90 mil professores na rede. E os que passaram em outros concursos recentes, por que não chamar esses professores? Não interessa ao governo, é por isso. O governo com sua truculência têm conseguido humilhar muitos professores, graças aos seus “capitães-do-mato” que se encontram ocupando cargos de elite como diretores (não todos, é claro) que tem pressionado os professores com falácias sutis e melindrosas, que levam a desmobilização da categoria contra essas medidas. São como “capitães-do-mato” sim, pois trabalham para um governo que escraviza, desmotiva e divide toda uma categoria em letras como os professores não fossem nada. Os escravos na época colonial viviam sob a mira dos bacamartes, os professores vivem sob a mira do governo que tem em seus capitães-do-mato a maior força. Diga não a essas medidas e saiba que quem faz a escola são os professores e os alunos. Sem alunos não há escola e sem professor não existe aula, então, por que não reagirmos?

Alunos e professores, uni-vos!

Que toda a sociedade escute o nosso grito e nos apóie... Queremos uma escola melhor para todos. Queremos dignidade e respeito!