Desconstruindo o papel do homem e da mulher na pós modernidade.

Com a inserção maciça da mulher no mercado de trabalho, as suas conquistas femininas consolidadas, total libertação sexual, a mulher transforma sua vida pública e privada. Vive agora um grande dilema. Como conseguir conciliar o padrão tradicional de boa mãe, esposa virtuosa, voltada para o mundo doméstico, com o papel de mulher atuante em seu próprio espaço, carreira profissional em ascensão, defendendo o controle sobre a sua vida? Isso ainda é um entrave dentro desse lugar que agora ela conquistou, pois continua a se ocupar das atividades domésticas, cuidar dos filhos, é responsável pelas agruras do dia-a-dia, assumindo uma jornada dupla ou até tripla de trabalho.

Inseridas nesse novo papel, há que se reconhecer que muitas mulheres ficaram stressadas, mais competitivas, preocupadas com necessidades que antes não tinham valores, como o dinheiro, a beleza, o consumo, sucesso, carreira... E, como não podia ser diferente , dentro dessas novas exigências, conseguimos conquistar também novos desejos,novas ambições, novas culpas.Há mais insatisfações nas relações,e a busca pela satisfação plena pela felicidade tem trazido muita solidão à mulher.

Sem dúvida estamos vivenciando uma mulher com características totalmente diferenciadas das que viveram até a metade do século XX, isso é fato. Muitos códigos de conduta foram mudados, novos valores foram se incorporando junto à transformação dessa nova mulher. Surgem múltiplas e novas formas de conjugalidades tornando mais flexíveis papéis antes determinados. Homens e mulheres têm a oportunidade de reinventar o novo casal, o casamento, a família, a vida que desejam.

Por outro lado, enquanto a mulher desbrava sua vida, se transforma, muda seu papel, a concepção do masculino como sujeito da sexualidade e do feminino como seu objeto é um conceito arraigado e de longa duração, mas ainda convive dentro do mundo contemporâneo. Portanto, desconstruir esses papéis não tem sido nessas últimas quatro décadas, uma tarefa amena.

Coexistem na nossa sociedade pós-moderna, a construção de dois papéis para o masculino. O primeiro o “macho”, ritualizado como agente de poder, o domínio sobre o feminino, ser da ação, da decisão, da chefia, do prover, das conquistas, do sexo. O segundo, um homem que vem se reconstruindo e assumindo um novo papel de gênero, passando a lidar com suas emoções e sentimentos, deixando vagarosamente os antigos padrões, mas ainda desconfortável, pois para se desconstruir, há necessidade de muito amadurecimento emocional. É nesse momento que reside a dificuldade masculina, levando-o ao desespero e conflitos. Muitos são os casos de agressões familiares cometidas por homens que por não possuírem mais o poder da dominação financeira e sexual sobre a parceira as agridem. Única forma de se sentir “Senhor”.

Dentro dessa configuração social encontramos uma quantidade muito grande de violências contra a mulher intrafamiliar e sexual afetando a saúde física e mental das vítimas, tais como: lesões, traumatismo,DST, asma, disfunção sexual, distúrbios alimentares, depressão, ansiedade, abuso de álcool e drogas. Nolasco diz: “[...] considero que o envolvimento dos homens em situação de violência está relacionado ao esforço empreendido pelo sujeito para manter sua forma de homem dentro da cultura da qual faz parte. “( NOLASCO, 2001.p.14)

Essa transformação realmente é verdadeira. Muitas foram às conquistas do papel feminino. Poder partilhar dessas novas estruturas conjugais, dessa desconstrução de casamentos realizados para a emancipação da mulher, única forma de efetivação do sexo, foi sem dúvida uma mudança paradigmática especial.

Segundo Perlin (2008), ”O casamento deixa seu papel de organizador, ele vive, pela primeira vez na história, o papel afetivo-sexual, ou seja, agora sim as pessoas se casam por amor e afinidade sexual. Isso é revolucionário. (...) O próprio amor está se transformando, num sentido mais igualitário e menos fantasioso. Para Giddens (1992) esse novo formato foi denominado de amor confluente, o qual “presume igualdade na doação e no recebimentos emocionais, e quanto mais for assim, qualquer laço amoroso aproxima-se muito mais do propósito de amor puro”.

Longe de conclusões rígidas ou fechadas, estamos em meados de uma grande transformação, o que na verdade não configura algo diferente do grande percurso da história da humanidade, já que mudanças são constantes e fazem parte da dinâmica do desenvolvimento da humanidade. Talvez o mais dramático entre tantas mudanças, não sejam elas próprias, mas a velocidade com que estão acontecendo. Homens e mulheres não encontram terra firme há um bom tempo... Será que encontrarão ou se adaptarão â fluidez e à flexibilidade?

sô Ziccardi
Enviado por sô Ziccardi em 28/03/2010
Reeditado em 26/10/2010
Código do texto: T2163128