Sanguessugas

Sanguessuga - s.f. Nome comum a todos os hirudíneos; indivíduo que explora os outros fazendo constante pedidos de dinheiro. (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.)

A cada dia acho que não é piada aquela história que contam, que quando Deus estava criando o mundo e perguntaram a Ele: Senhor, porquê o Senhor colocou em outros lugares terremotos, furacões, maremotos e fez do Brasil um lugar tão tranqüilo. E Deus respondeu: “Espere para ver os políticos que eu vou colocar lá.”

Imagine se além de termos os políticos que temos, tivéssemos que conviver com catástrofes naturais, ninguém merece tamanho castigo.

Com certeza conviver com terremotos, furacões deve ser algo aterrorizante, assustador. Mas às vezes catástrofes podem ser previstas com antecedência, dando chances as pessoas se precaverem, fugirem. Já contra os “políticos sanguessugas” não temos defesas, eles fazem tudo às escondidas, pilham nosso dinheiros nos seus gabinetes refrigerados, cercado de assessores, tomando cafezinho.

Alguém pode dizer: terremotos, furacões, maremotos matam milhares de pessoas. Mas quantas pessoas não morreram com os milhões de reais que foram desviados da área de saúde? Quantas pessoas perderam a vida a espera de uma ambulância, por falta de remédio? A diferença é que enquanto uma catástrofe natural mata de uma vez, a máfia da sanguessuga mata aos poucos. Existe mais uma diferença entre essas duas tragédias, após um terremoto, os lugares atingidos recebem ajuda humanitária, remédios, comidas, enquanto a família do “seu João da Silva” que deve ter morrido no interior da Paraíba ou do Mato Grosso esperando a ambulância “comprada” superfatutada, não deve ter tido nem dinheiro para enterrar dignamente “seu João”.

Teve alguém que disse: “que nunca devemos parar de nos indignar”, mas eu já estou quase desistindo de me indignar: Já me indignei com a falta de segurança: e ainda continuo com medo de sair à rua; já me indignei com PSDB, com o PFL, com o PMDB: ai veio o PT; já me indignei com o mensalão: ai veio a pizza, e o pior, eles comeram sozinhos; já me indignei com a dança da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP): e ela continua desfilando, aliás dançando, pelo Congresso; já me indignei com a corrupção escancarada que se instalou em Rondônia, com conversas gravadas, com provas mais que suficientes para colocar os corruptos na cadeia em qualquer país sério: e somente um ano depois, estão começando a tomar alguma providência; já me indignei com o desvio de cento e cinqüenta milhões de reais da construção do prédio do TRT de São Paulo: e até agora o único preso do caso, o juiz Nicolau, cumpre pena na sua mansão; já me indignei com os quarenta e três milhões gastos só em gasolina pelo Congresso Nacional ano passado, deputado gastando até sessenta mil reais por ano (que segundo cálculos feitos, daria para dá mais de uma volta na Terra): e a única medida tomada foi a diminuição da cota para cada congressista; já me indignei com a crise eterna de saúde: e de todos os dias centenas de pessoas continuam morrendo nos corredores dos hospitais.

É muito difícil se indignar em um país em que o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) votou contra o parecer do relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), que pediu a cassação de setenta e dois envolvidos. O Senador mineiro alegou que o Congresso não tinha tempo de fazer nada, tendo em vista a proximidade das eleições e o julgamento deveria ser pelos eleitores. Os eleitores, como a família do “seu João da Silva”, que nunca ouviu falar em computador, televisão, que tem como único meio de comunicação com o mundo um rádio de pilha e que acha que a morte do “seu João Silva” foi porque chegou sua hora.

Acho que em quase toda instituição seja pública ou privada, assim que fica comprovado ou mesmo tendo indícios que o servidor ou funcionário cometeu atos ilícitos ele é afastado de suas funções, em alguns casos despedido por justa causa, sem direito a indenização. Porque no Congresso tem que ser diferente? Porque mesmo muitas vezes comprovadas as ilicitudes, os congressistas não são afastados? Não são obrigados a devolver o dinheiro? Não perdem o direito as suas gordas aposentadorias?

Com certeza vivemos em dois Brasis, o Brasil dos Comuns para nós, para “seu João da Silva” e o Brasil dos Privilegiados, quase imune às leis, servido de bons advogados, com milhões de dólares do cofre público em paraísos fiscais, que assim como o “007 James Bond” tinha permissão para matar, eles têm permissão para roubar.

Da próxima vez que for revisado o dicionário da Língua Portuguesa, o verbete sanguessuga deverá ser modificado, pois ao contrário do que ele significa atualmente, os sanguessugas de hoje não nos exploram pedindo, eles simplesmente tomam e não podemos fazer muita coisa, a não ser utilizarmos bem uma das nossas poucas armas: o voto, para tentarmos fazer que os danos causados por essas pessoas não causem tantos prejuízos como um terremoto, um furacão, um maremoto.