A mudança do masculino no mundo contemporâneo

"O homem que minha mãe preparou

Não servia mais quando virei adulto"

Nosso trabalho até aqui vem apontando a transformação da mulher no decorrer desses quase 50 anos, sua nova situação diante da dominação masculina, seus direitos adquiridos na sociedade pós-moderna, e a garantia de uma nova vida. Diante dessa visão do feminino e das demandas criadas na divisão dos papéis de gênero, há que se voltar também para esse homem contemporâneo.

A partir desse capítulo faremos uma reconstrução do tempo diante desse homem que hoje se configura dentro da pós-modernidade, suas raízes, as ideologias masculinas construídas culturalmente, nos atendo com a diversidade do discurso da masculinidade.

Até bem pouco tempo, com papéis bem definidos, o homem tinha plenos poderes sobre seu espaço, o lugar que lhe cabia e o que a ele era pertencente. Agora “a tradicional divisão de papéis entre homens e mulheres está em cheque”.

O pós-modernismo vem desconstruir a figura do homem “procriador de gentes e de tabus” deixando-o perdido em uma crise existencial da qual ele está vulnerável com sua verdadeira função dentro da família, da vida da mulher, e dentro do momento social. A igualdade contemporânea dos sexos surgiu como contestação do patriarcalismo histórico e o destituiu de sua secular condição de sexo forte, tornando-o perdido dentro de uma nebulosa de contradições.

Certamente, diante de séculos de poder, com um sistema de ações e crenças que coloca o masculino em destaque no que se concerne a relações assimétricas de gênero, como esperar que haja uma desconstrução imediata. Todas as ideologias masculinas estiveram voltadas e articuladas até aqui na força das inúmeras manifestações socioculturais de poder.

Quando se fala em gênero masculino associa-se sua ideologia aos privilégios, a opressão dentro de sua posição relativa aos gêneros e ao sexo. A intenção não é desqualificar e reduzir esse comportamento adquirido ao longo de séculos a um reducionismo de um homem bárbaro, voltado exclusivamente para a total autoridade ou a selvageria de um homem das cavernas Ramirez (2005). Entretanto podemos compreender que devido as nossas raízes o comportamento do masculino esteve voltado ideologicamente à visão da sexualidade como elemento comum de poder e prazer.

As mudanças da mulher principalmente nessas duas últimas décadas em relação ao seu comportamento diante a relação de trabalho, sua liberdade sexual, o investimento na educação, a procriação repensada, as novas formas de vivenciar essa mudança de papéis de gênero, trouxe consigo a necessidade desse sujeito social repensar seu comportamento. Para Jablonski (2005, p. 159) “o que nós queremos são companheiras, construindo uma relação entre iguais” e continua, citando Mark Twain: “A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau”, essa frase é uma alerta quanto à nova identidade do masculino.

“Uma grande ironia surge neste momento: O homem cujos valores se confundiam com os valores universais, é hoje recolocado em outra condição, a de representante de uma minoria. (...) passa por uma crise de identidade, estigmatizado por elementos afoitos e despreparados como impotência sexual. (...) O novo lugar que ocupa aparentemente secundário, medíocre, desvantajoso, retira-o do lugar de único provedor e, por isso mesmo, único mártir (...) longe de negar a sua busca de identidade, procura construí-la sem detrimento das identidades de outros grupos em nome dos quais egoísticas e autoritariamente falava.” (SANTIAGO, S. 1995)