A Culpabilização da "Sociedade" e a Inimputabilidade do Homem

Por acreditar no mito do bom selvagem, ou seja, na idéia de que o homem é naturalmente bom, uma das contribuições mais prejudiciais do socialismo para o mundo foi a criação do pecado social ou do sistema, expressão aqui tomada não no sentido de algo cometido contra a sociedade, mas sim atribuído a ela.

Esse conceito que, à socapa, vem solapando as bases morais da sociedade, anda na contramão da autodeterminação do homem e da sua responsabilidade na construção de um mundo melhor. É irmão daquele pensamento que afirma que se eu como um frango por dia e você não come nenhum, a estatística vai provar que comemos meio frango cada um. Quer algo mais perverso e irresponsável?

A humanidade chegou a um nível de caos tão grande que seríamos muito simplistas se afirmássemos que certas ações humanas isoladas poderiam transformar, num piscar de olhos, o mundo em que vivemos. No entanto, deslocar a culpa das mazelas sociais para essa entidade tão vaga e abstrata a que chamamos de sociedade acaba criando a idéia absurda de que ninguém tem culpa de nada. Sim, nada mais lógico: se a culpa é de todos, por que uma pessoa pode ser responsabilizada? Assim, para se chegar ao seguinte aforismo e conclusão inevitável, é um pulo: se a culpa é de todos, é de ninguém!

Quando criança, com toda a pobreza em que vivia, meu pai, quebrado financeiramente, desempregado, com os pulmões tomados pela tuberculose avassaladora e, na época, humilhante, era homem o suficiente para me ensinar: “Meu filho, seja honesto sempre, mesmo com o sacrifício da própria vida. O homem honesto morre, mas não defrauda; perde a própria vida, mas não trai os seus princípios.”

O que vemos hoje é o deslocamento da culpa do indivíduo para essa entidade abstrata, amorfa e fugidia denominada sociedade. “Tadinho, faz isso porque é pobre; perdeu-se porque é carente, não teve apoio.”

Como o ser humano tem uma inclinação para o mal, afirmações assim são um prato cheio para a transgressão, a desculpa perfeita para o desvio, o estopim para a explosão de uma sociedade amoral, irresponsável e inimputável.

O meio em que vive, a sociedade injusta e cruel a que pertence o homem podem exercer uma brutal influência no seu comportamento, chegando ao extremo de quase sufocar a sua autodeterminação. Jamais serão capazes de apagar, porém, o crepitar da flama do livre-arbítrio, a centelha inextinguível da imago Dei que recebeu do seu Criador.