As dificuldades de aprendizagem

As dificuldades de aprendizagem

Ensinar e aprender são processos que decorrem das relações entre professores e alunos e que se desenvolvem desde tempos imemoriais, com registros de avanços e retrocessos, conforme farta bibliografia existente. De qualquer forma, é inegável que os avanços são muito maiores, em que pese estarmos, inclusive nesta pesquisa, tentando descobrir porque às vezes nós estagnamos e até mesmo retrocedemos.

A educação do homem é a sua preparação para a superação das dificuldades que encontra para viver. É o processo de assimilação do acervo de informações constituído pelas gerações antepassadas e presentes para servir como subsídio nas ações que terão de desenvolver em prol da construção do futuro, o qual se espera ser melhor do que os modelos já vividos.

É cediço que nunca tivemos tanta informação acumulada e registrada como temos hoje. Além disso, com os recursos tecnológicos da Wide Web World, esse legado vem sendo posto à disposição de toda a humanidade. A digitação de uma simples palavra em um software de busca como o Google, por exemplo, proporciona uma infinidade de links que direcionam para um sem-fim de informações. No entanto, embora seja a base essencial para a aquisição, ter informação não é sinônimo de ter conhecimento.

Segundo Tiba :

Para o conhecimento ser construído a partir da informação, essa precisa passar por vários estágios dentro do aprendiz: 1. Recepção da informação dentro de si; 2. Aceitação; 3. Assimilação; 4. Significação; 5. Experimentação; e, 6. Inclusão nas ações.

Esses estágios podem ser quase imediatos ou até demorados conforme o envolvimento emocional. Quando um jovem lê Harry Potter, num instante já discute com seus amigos e ei-lo desfilando conhecimentos, ou quando recebe um iPhone, num instante o assimila e já parte para a prática. Já um aluno precisa receber dentro de si a informação que o professor lhe passa. Ele precisa validá-la para poder assimilá-la. A experimentação é a sua primeira prática do conhecimento recém-construído. Com a prática, além de melhorar suas ações consegue destacá-lo ou sentir sua falta num mundo indiferente das informações vigentes. Como o carro que quando comprado passou a ter significado para o comprador a ponto de este passar a encontrá-lo facilmente no meio de tantos outros indiferentes carros.

A coleta de informação é muito acessível, como já vista. Todavia implica em muitas leituras sensoriais, as quais podem ser voluntárias (intencionais) ou involuntárias (mecânicas). É certo que uma pessoa normal do ponto de vista físico está apta para captar todas as informações do mundo em que se encontra inserida, utilizando-se para tanto os seus órgãos sensoriais. Querendo ou não, os olhos vêem, os ouvidos ouvem, as mãos sentem e etc. Mas, em que pese o valor dessas informações automáticas, o processo de aquisição da informação não pode prescindir da disponibilidade do informante para se informar. É preciso que este queira a informação e que, para tanto, direcione os seus órgãos sensoriais visando a sua aquisição. Já está provado que a percepção é seletiva, isto é, a cada instante o nosso cérebro seleciona um determinado estímulo para perceber conscientemente, ainda que, inconscientemente, nosso cérebro esteja sendo bombardeado por um sem-fim de informações. O que eu quero saber? Que tipo de informação eu preciso? Essas e outras do tipo são perguntas a serem feitas pela pessoa informante.

Aqui surge a primeira dificuldade do processo ensino-aprendizagem: a seleção da informação a ser processada. É certo que a busca passa pelo domínio das técnicas de aquisição, haja vista que, hoje em dia, a obtenção de uma informação específica pode ser comparada à busca de uma agulha em um palheiro. O que e como escolher em um universo de tantas informações? Se o informante não souber procurar o que precisa acabará passando a eternidade procurando.

Segundo Jacques Delors , em um trabalho feito para a ONU, a educação do século XXI deve centralizar-se em quatro pilares: aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser.

Aprender a aprender é um objetivo que está relacionado em primeiro lugar com a busca da informação. Muito mais do que ensinar o que está escrito nas pedras, ao professor caberia ensinar qual o caminho para se chegar até elas. Mais do que dar o peixe, cabe ao professor ensinar o ofício de pescar. Jesus, por exemplo, poderia ter dado milhares e milhares de peixes aos seus discípulos. Ele, inclusive fez isso em algumas vezes. Mas o ponto central de sua obra foi transformá-los em pescadores de homens e de almas. “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens”, disse ele.

Segundo Freire :

Vivemos na era da informação. Nunca foi tão fácil para tantas pessoas estarem tão bem-informadas acerca de tantos assuntos. Em 2009, o número de brasileiros com acesso à internet em casa ou no trabalho foi de 44,5 milhões segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online. Considerando todos os cidadãos com 16 anos ou mais a pesquisa indica a existência de 64,8 milhões de pessoas, com acesso à internet em qualquer ambiente, seja residências, escritórios, escolas, lan houses ou bibliotecas.

A internet tornou-se a principal via para pesquisas, relacionamentos, comunicação, estudo, namoro, partilhas e entretenimento para a geração digital, ou seja, pessoas nascidas no início dos anos 1990, portanto hoje com até 19 anos de idade. Cedo pela manhã, já vasculham a rede, respondem e-mails, checam seu Orkut ou Facebook, assistem ao último vídeo-febre do YouTube, fazem uma rápida busca no Google para o trabalho de escola e enviam uma mensagem do que estão fazendo no Twiter. Tudo que acessam é de maneira rápida, e as chamadas são mais importantes que o conteúdo. É uma geração que tem uma inegável visão de 180º da superfície. É o que chamo de geração “navio”! As notícias são tratadas como fim e não como início da discussão. Essa geração discute acontecimentos, eventos e significados, mas não partilha conhecimentos e, na hora de apresentar argumentos, reproduz fatos acontecidos.

A geração digital apenas navega na superfície do mundo, apercebendo apenas dos detalhes mais acentuados, de minúcias que possuem pouco valor para a solução dos graves problemas vividos pela humanidade.

Nesse sentido, um dos primeiros problemas da aprendizagem perpassa pelas formas de aquisição da informação. E para solucioná-lo, a pesquisa aponta para a necessidade de o professor trabalhar técnicas pertinentes à aquisição da informação, ao invés de transmiti-las aos alunos. Mesmo porque, hoje o aluno pode ser muito mais informado do que o professor, embora seja obvio que este deva ter mais conhecimento do que aquele.

Por outro lado, ao se discutir a dificuldade de aprendizagem dos alunos faz-se necessário repensar sobre o verdadeiro papel do professor no processo ensino-aprendizagem. É de observar que este não é um transmissor de conhecimentos e muito menos de informações. Mas é assim que a maioria da classe se comporta.

Segundo Freire :

Vivemos em um país em que o professor finge que ensina, simplesmente repassando informações sobre o tema, e o aluno finge que aprende, avaliando bem o professor, por não exigir raciocínio e análise crítica sobre o tema em questão. Ao final, o professor é bem-avaliado pelos alunos, mantém seu emprego e o aluno acumula informação – o que lhe dá a falsa sensação de que aprendeu. Uma estudante de pós-graduação deixou bem claro para mim o sentimento da geração “navio”: “Professor. Me poupe! Eu não tenho tempo para pesquisar, estudar e fazer este trabalho. Eu estou em um curso de pós-graduação ou em um jardim de infância?”

A aprendizagem passa pela aprovação da informação captada. Se o aluno não reconhecer que precisa da informação recebida, ele não envidará esforços para assimilá-la. Aqui entraria a questão do interesse do aluno. Segundo FONTOURA, “aprende-se o que interessa; o resto decora-se para passar nos exames e se esquece no dia seguinte”.

É preciso detectar quais são os interesses reais dos alunos e replanejar as ações para que essas correspondam àqueles e assim se atinja o grau de predisposição para assimilar as informações recebidas, para dar-lhes um significado concreto no dia-a-dia de cada aprendiz.

Além disso, após a significação, os alunos devem fazer experimentações com os novos significados, no sentido de verificar a possibilidade da incorporação dos mesmos nas ações que vier a desenvolver. Se não houver incorporação, não haverá aprendizado.

Segundo Tiba :

O maior canteiro de obras para a construção do conhecimento deveria ser a escola. As matérias dadas atualmente pelos professores chegam como respostas a perguntas não formuladas, cujas perguntas não existiram para os alunos. É um desfile de carros para olhos desinteressados. É quase ouvir um professor ler um dicionário. É receber um que-cabeças montado e ter que guardá-lo em algum lugar que vai ser logo esquecido. Não estimula o Circuito da Recompensa, nem libera a dopamina que lhes dê uma motivação para a ação. Não constrói o conhecimento. Os alunos precisam ser desafiados, estimulados, questionados, “dopaminados” para “construir” soluções e respostas.

O que se observa é que a superação das dificuldades apresentadas pelos alunos deve implicar uma mudança de postura no processo ensino-aprendizagem, no sentido de se incluir técnicas de abordagem das informações e temas que reflitam o verdadeiro interesse dos alunos.