A MÚSICA SERTANEJA

Contada em prosa e verso

Quem não gostaria de passar, pelo menos um dia numa Fazenda, moendo cana, chupando laranja ou mimosa tiradas do pé, saboreando um pão feito em casa, um bolo de fubá com uma xícara de café de coador de pano?

... E nas ramadas,

Dos vergéis vão retinir,

As cigarras preguiçosas,

Até não mais resistir...

De manhãzinha, ainda em cerração, beber um leite tirado na hora, pescar num lago ou rio que corta a campina, ouvir os passarinhos, ver a cabocla menina, ainda ingênua, que com sua simplicidade, machuca o peito de alguém ...

... Salve! Salve, Santo Antônio,

Santo bom casamenteiro,

Das mocinhas que ficaram,

Sem casar o ano inteiro...

O carreiro ainda existe. Os bois atrelados no carretão de rodas de pau vai gemendo na estrada cheia de pó. Há muitos anos atrás, quando se ouvia uma dupla caipira na Rádio, alguns ouvintes chegavam a tirar da estação, mas os pioneiros do estilo como: Cornélio Pires que a partir de 1920 percorreu o interior do Brasil fazendo conferências sobre a vida simples do povo caipira fez em São Paulo a primeira apresentação de violeiros no Cine República e foi em 1929, no Rio de Janeiro que ele realizou a primeira gravação de música caipira da nossa história, contando com a valorosa colaboração do poeta Sorocabinha. Na década de 30 foram surgindo Alvarenga e Ranchinho conhecidos como “Os Milionários do Riso”, Raul Torres, Serrinha e Rielli que introduziram o uso do violão porque até então, eram usadas duas violas. Campanha e Cuiabano, Tonico e Tinoco a dupla “Coração do Brasil” Cascatinha e Inhãna, Zé Fortuna e Pitangueira, Tibagi e Miltinho, Teixeirinha e Nhá Chiquinha, Luizinho, Limeira e Zezinha, Moreno e Moreninho, Nonô e Naná, Nho Morais, Irmãs Galvão, Sulino e Marrueiro, Tião Carreiro e Pardinho, , Lio e Léo, Cacique e Pagé (índios de verdade), Jararaca e Ratinho, Nhá Gabriela e Nho Belarmino, Jacó e Jacozinho, Nenete, Dorinho e Nardelli, Pedro Bento e Zé da Estrada, Vieira e Vieirinha, Palmeira e Biá, e tantos outros, não desistiram e foram registrando a história da música regional nos versos ricos de poesias e sentimentos de grandes compositores – alguns já separados do nosso seio, pela morte.

... Mas a lembrança ficou

Na história desta canção.

Do boiadeiro que sou,

Um dia já fui peão...

Páginas sertanejas e populares inesquecíveis de Zé Fortuna, Luiz Gonzaga o Rei do Baião, Teixeirinha, Zé Bétio, Mário Zan, José Russo, Luiz Vieira, Roberto Barreiro e João Pacífico, tão bem retrataram a vida no sertão que mexiam e ainda remexem o coração de quem vive nas grandes cidades.

...O tempo passou tão ligeiro,

Que o sonho se fez passageiro.

Nas horas de dor eu padeço,

Saudade é o meu preço...

Na escassez de temas Pop para a juventude e na invasão de ritmos estrangeiros, foram surgindo novos defensores do romantismo como: Gaucho da Fronteira, Renato Terra, Almir Sater, Sérgio Reis o “Homem do Chapéu”, Marcelo Costa, Cristian e Ralf, Chitãozinho e Xororó (nomes sugeridos por Atos Campos), Tião Carreiro e Pardinho os criadores do pagode do sertão, Trio Parada Dura, Milionário e José Rico os gargantas de ouro, Gilberto e Gilmar, Duduca e Dalvan, João Mineiro e Marciano, Mato Grosso e Mathias, Irmãs Castro e tantos outros.

Não nos esqueçamos que a dupla Tonico e Tinoco foram os primeiros do gênero a apresentar um show no suntuoso Teatro Municipal de São Paulo e que a partir daí, a elite simpatizou-se pelas canções sertanejas. Inezita Barroso, detentora do troféu “Roquete Pinto” ainda divulga amplamente o nosso folclore desde o Arroio até ao Chuí.

... Lá na Festa do Arraiá,

Tinha até “Meu Boi Bumbá”

As morenas repartiam

Muito bolo de fubá...

Milionário e José Rico fizeram uma turneé pelo Japão com grande sucesso. Chitãozinho e Xororó estiveram em Las Vegas, Cristian e Ralf em Nova York. Em todos os especiais de Televisão, novas duplas vem surgindo. Bons programas existem e as rádios AM e FM são, ainda hoje o veículo mais importante para a divulgação dos nossos artistas.

... Adeus, sejas feliz com outro

Que possa lhe dar mais valor.

Não Tenho todo esse ouro,

Que possa comprar seu amor...

Voltar às nossas origens é resgatar um pouco o passado. É sentir, nas coisas simples do homem do campo, a atenuação sonora dos outros sons mais gritados e falados do que cantados que temos que engolir. Dizem que é moda, revolução. Tudo bem! Não somos contra. Os saraus e as discotecas aí estão espalhadas e cada vez mais freqüentadas. Todos têm suas preferências. Acho que as emissoras locais, AM e FM deveriam promover shows com os valores musicais da terra e seus convidados, só assim o público simpatizante se deleitaria com as músicas e com os compositores e intérpretes que estão perdidos por aí por falta de apoio.

... Na estrada, longe, ao volante,

Sempre sozinho a rodar,

Na minha carreta possante,

Saudades tenho do lar...

Vamos fazer uma pausa de vez em quando, pelo menos para relaxar os tímpanos com as melodias que falam muito mais do coração e dos sentimentos do que de moral e revolução. O mundo precisa de paz, de calma, de suas raízes, dos poemas ricos e humanos dos compositores e intérpretes que os compõem com a alma e com o coração. Do Catulo da Paixão Cearense, de Gil a Caetano, Roberta Miranda, Leandro e Leonardo (saudoso Leandro), João Paulo e Daniel (saudoso João Paulo), Gian e Giovani, Ataíde e Alexandre, Sula Miranda, Teodoro e Sampaio, Rick e Renner, Bruno e Marrone, César e Paulinho, Rio Negro e Solimões, Sandy e Júnior, Zezé di Camargo e Luciano, Edson e Hudson onde existe um repositório de canções inesquecíveis. Experimente descobrir e verá que tenho razões para defender e divulgar as coisas nossas.

Aqui termino com mais um trechinho das composições que fiz, esperando que alguém se lembre, algum dia, grava-los.

... Também já fui lavrador,

Da enxada ainda restou,

Os calos de um plantador,

Que a marca o tempo deixou...

Júlio Sampietro
Enviado por Júlio Sampietro em 04/09/2006
Código do texto: T232486