As personalidades em clara dos anjos

AS PERSONALIDADES EM CLARA DOS ANJOS

Joseane Nunes Nascimento,UNEB – IV

joseanenunes2009@hotmail.com

Orientador: Adriano Menezes

RESUMO

Este estudo propõe uma análise literária do romance Clara dos Anjos de Lima Barreto um dos autores mais polêmicos do Pré-Modernismo por inserir em suas obras temas sociais e retratar aspectos da realidade brasileira, por causa do seu estilo inovador não foi valorizado por alguns críticos da época.

Propomos uma análise do comportamento dos personagens principais da trama enfatizando o preconceito racial sofrido pela personagem principal e os sofrimentos encarnados por ela.

PALAVRAS-CHAVES: Análise Literária, Pré-Modernismo, Críticos e Preconceito

No início do século XX, o Brasil passava por várias modificações que indicavam a modernização da vida cultural, política e social da nação. Com a predominância das oligarquias na política do café-com-leite em Minas e São Paulo, a chegada de muitos imigrantes para substituir a mão de obra escrava aumentando a marginalização com o grande número de escravos recém- libertados que não sabiam qual seria o rumo de suas vidas.

Nesse contexto de transformações surge o interesse dos autores denominados Pré-modernistas em escrever sobre a realidade do cotidiano brasileiro, inserindo em suas obras o caráter social e dentre eles encontramos Afonso Henrique Lima Barreto que nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 13 de Maio de 1881. De descendência humilde seu pai era tipógrafo e sua mãe professora teve a oportunidade de estudar por ter sido apadrinhado pelo Visconde de Ouro Preto, sofreu dramas familiares como à loucura de seu pai, fato que contribuiu para sua entrega ao vício do alcoolismo.

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1Graduando em letras vernáculas 5º semestre – (UNEB)

Barreto iniciou sua carreira literária como colaborador de jornais e revistas estudantis, interessou-se por assuntos sociais, tema que permeia a maior parte de suas obras. Chamou atenção de muitos críticos de sua época por ter adotado em suas obras uma linguagem coloquial, usando o brasileiro simples, ignorando muitas vezes as regras gramaticais, provocando revolta nas academias e nos parnasianos que permaneciam na ativa.

Nessa perspectiva, as realidades sociais e morais, isto é, o conteúdo pré-romanesco, embora escolhido e elaborado pelo ponto de vista afetivo e polêmico no narrador, não parece nenhum modo forçado a ilustrar inclinações puramente subjetivas. O resultado é um estilo ao mesmo tempo realista e intencional, cujo limite inferior é a crônica. (MOISÉS, 1981,p. 95)

O Realismo e o Naturalismo exerceram grande influência no seu caráter crítico e sociais tais correntes estão submersas na composição de Clara dos Anjos por abordar muito cientificismo e determinismo o qual retrata os aspectos grotescos e repugnantes da época. Barreto fora denominado pelos críticos como o romancista da primeira República, um dos maiores escritores do Pré-Modernismo, sendo comparado a Machado de Assis devido a sua coragem de critica a sociedade e nutria a paixão de sempre retratar a cidade do Rio de Janeiro (sua gente, seus subúrbios e dramas) e é nesse contexto de amor a terra natal e criticidade que se insere a obra póstuma Clara doa Anjos apresentando como tema central o preconceito racial muitas vezes vivido pelo autor.

Sendo ele um mestre do sacarsmo, descreve de forma muito íntima numa literatura denunciadora a história de uma jovem humilde filha de um carteiro que apesar dos cuidados exagerados da família é seduzida e abandonada por um rapaz da burguesia carioca de nome Cassi. Pela escolha do tema Massaud Moisés comenta “(...) está a definir a urgência de expressão autobiográfica em que penava o jovem Lima Barreto...” (MIOSÉS, 1981p. 101), pois nessa obra o autor encarna as humilhações sofridas pela protagonista.

Esse romance é um clássico da literatura brasileira e passa-se no final do século XIX e início do século XX. Barreto denuncia o preconceito racial e desmascara a sociedade da época utilizando-se do discurso indireto livre em uma narrativa de linguagem simples distante dos preciosismos retóricos. O enredo de Clara dos Anjos gira em torno dos personagens: Clara dos Anjos, a protagonista, o antagonista Cassi Jones e os personagens secundários (Joaquim dos Anjos e Engrácia (pais de Clara), Marramaque (seu padrinho), Menezes (o dentista), e os amigos do antagonista

JOAQUIM DOS ANJOS

Joaquim dos Anjos é o típico chefe de família da sociedade patriarcal, de origem humilde sempre batalhou em busca de estabilidade financeira e familiar, trabalhou em vários locais, mas o dinheiro que ganhava não dava para sustentar uma família, a única ambição era conseguir emprego numa instituição pública, pois dessa forma poderia pensar em casamento e na aposentadoria no tempo da velhice.

O sonho se realizou, “(...) conseguira ao longo de dois anos de trabalho, aquele de carteiro (...) com o qual estava muito contente e satisfeito da vida...” (BARRETO, 2008, p.15). Assim não existiam obstáculos que o impedisse de fundar a tão sonhada família e pouco tempo depois de ser nomeado para o cargo público casou-se com D.Engrácia. Ele além de prover o sustento da casa, tomava as decisões administrativas do lar, porque a mulher não se envolvia, ela se limitava a executar as tarefas domésticas ajudada pela filha.

Joaquim dos Anjos apresenta características que de acordo com Cândida Gancho classifica-se como personagem plano “são personagens com um número pequeno de atributos...”(GANCHO,2002.p16) inserindo-se também numa subclassificação que a autora denomina como tipo são características típicas do personagem que facilitam a sua identificação pelo leitor.

Ele se mostrava muito simpático, confiava nas pessoas não importava quem fosse ele acolhia com benevolência, era respeitado por ser honesto e leal, homem com pouca instrução, mas tinha algum conhecimento, lia os jornais de vez em quando e apesar das tragédias noticiadas ainda acreditava na paz e se considerava feliz.Alimentava grande paixão musical por freqüentar as rodas de modinhas, tomara gosto e aprendeu a transcrever as notas musicais,oficio que ensinou à filha. Aos finais de semana, sua residência era palco dos encontros com os amigos Lafões e Marramaque para fazerem o que mais gostavam : jogarem carteado.

Por causa das suas relações com pessoas do meio artístico, especificamente a música Joaquim aceita a indicação do amigo Lafões para convidar o modinheiro Cassi Jones para se apresentar na festa de aniversário da filha Clara, mesmo sendo alertado pelo compadre Marramaque das artimanhas do violeiro decide recebê-lo uma única vez. Mal sabia que o cantor tão esperado por sua filha seria o destruidor de sua família. Por ter um caráter simples e respeitado, não acreditava que o tal rapaz se atreveria a desrespeitar Clara, não imaginava que a “falsa educação” dada à filha e a falta de conhecimento da realidade a colocavam como mais uma vítima das armações do malandro que destruiria a sua vida.

D. ENGRÁCIA

D. Engrácia, mulher recatada, bem instruída, teve as mesmas regalias dos filhos do senhor que a criara. Porém quando arranjou casamento com Joaquim procurou esquecer o que havia aprendido dedicando-se apenas aos serviços domésticos, filhos e marido. Engrácia parecia ter sido apagada, pois “(...) o seu temperamento era completamente inerte, passivo” (BARRETO,2008, p.60). Ela e o marido não tinham amizades numerosas Engrácia por raramente sair de casa e Joaquim porque se dedicava ao trabalho, família e a música, do mesmo modo criaram sua única filha Clara dos Anjos com amizades restritas e pouco relacionamento social. De acordo com a classificação proposta por Gancho, D.Engrácia também seria uma personagem plana e tipo pois, suas “(...) características são típicas, invariáveis, quer sejam elas morais,sociais,econômicas...”(GANCHO,2002.p16) verifica se durante o decorrer do texto que é dessa forma que a personagem se mantêm.

A mãe de Clara a amava, mas sua relação com a filha limitava-se apenas a “(...) vigiá-la caninamente (...) quase não conversava com ela sobre as coisas da vida, sobre os seus deveres de mulher e de moça...” (BARRETO, 2008. pp103, 105). Sabe-se que o diálogo é a base para um bom relacionamento, seja ele entre casais ou pais e filhos, verifica-se atualmente o grande número de problemas familiares por falta desse fator essencial. Talvez tenha sido esta atitude dos pais de Clara que contribuiu para o desenvolvimento de uma personalidade frágil e ingênua como a dela. Essa falta de ação da mãe da moça pode se explicar no fato de que antigamente, a atividade da mulher se restringia a cuidar da casa e da criação dos filhos, ou seja, eram preparadas para assumirem a responsabilidade do lar após o casamento. A seu modo, ela cumpria este dever, mas não alertava a filha sobre os possíveis perigos da vida.

Dessa maneira, Engrácia não se manifestava sobre qualquer assunto nem a favor nem contra “(...) A não ser no caso de Cassi, que seu instinto de mãe falara mais alto do que sua inércia natural...” (Id, p.105) disse que não queria mais aquele jovem de olhos lânguidos e de má fama em sua casa, numa atitude sensata e até mesmo espantosa, levando em conta o comportamento habitual.

CASSI JONES

Cassi se apresenta como o típico malandro carioca, tentando sempre se dar bem em todas as situações, não trabalhava no pesado, nem se preocupava com seu sustento, pois isto vinha do suor do pai, entrou em caminhos tortuosos, deixando de lado a oportunidade de ter uma boa educação como a que suas irmãs tiveram. Cheio de artimanhas ,procurava andar bem vestido e acreditava no sucesso que fazia entre as mulheres. Dissimulado, montava uma verdadeira operação de guerra a fim de alcançar seus objetivos, seduzir e abandonar as vítimas. (Id,p.145)

Frio e calculista, eximia-se de toda a culpa das desgraças acontecidas com as moças enganadas por ele, assim “(...)Os suicídios, os assassínios, o povoamento de bordèis de todo o gênero, que seus atos torpes provocaram, no seu parecer eram acontecimentos estranhos à sua ação se haviam de dar de qualquer forma disso ele não tinha culpa” (Id,p.72).

Considerando-se inocente por desonrar mais de dez moças, em seu pensamento ele apenas adiantava algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde, pois elas não seguiriam outro caminho. Encontramos aqui um ponto forte da obra, pois Barreto nos mostra que mesmo na sociedade conservadora e cheia de princípios morais como era a do final do século XIX e inicio do século XX, naquelas famílias tidas como de boa reputação existiam elementos com características vergonhosas como as de Cassi que, devido à sua descompostura ,era desprezado pelo pai e pelas irmãs pois não queriam ficar mal faladas, contava só com o apoio da mãe que lhe acudia em todos os momentos.

Cassi é o tipo de personagem denominado redondo, “(...) às personagens redondas ,ostentariam a dimensão que falta às outras,e,por isso possuiriam uma série de qualidades ou defeitos...”(MOISÉS,1981.p.110) , e assim o malandro conseguia o queria e com Clara não foi deferente aproveitando a oportunidade de conhecer a donzela a qual sabia ser uma jovem muito bonita aquele modinheiro decidiu não desperdiçar a chance, o jovem conhecido nas páginas policiais por desonrar em destruir famílias procurava “em geral, as moças (...) de humilde condição e de todas as cores...” (BARRETO,2008,p.25) investia nas moças com este perfil porque tinha plena certeza de que os familiares não poderiam fazer nada contra ele devido à influência da mãe sempre a postos para tentar livrá-lo das enrascadas em que se metia.

Assim via na moça mais uma vitima dos seus “encantos”, pois percebeu durante a visita no dia do aniversario dela o interesse despertado na moça e decidiu investir tudo para conquistar o amor daquela linda donzela. Mas quão surpreso ficou o rapaz, pois durante a festa, no recital de poesias Marramaque, padrinho da moça que se opôs à sua presença naquele local, recitou uma poesia intitulada “Persistência” e se expressou de tal maneira que parecia direcionar as palavras para ele. Na vida malandra que levava não estava acostumado a ver tanta gente manifestar desafeto em relação à sua pessoa. Inicialmente foi Marramaque, depois Joaquim e Engrácia, mas a maldade do rapaz era imensa, e não tinha obstáculos para impedi-lo de se aproximar de Clara, conseguiu a façanha com ajuda de Menezes ,dentista ,ajudado pela família da jovem que a recompensou contribuindo para o desvio de conduta da filha do carteiro. Sabendo das fraquezas do dentista, Cassi fingindo-se de amigo, o cercou de tal maneira que Menezes não pode se negar a ajudá-lo a conquistar o coração da sua paciente.

Apesar da pouca idade Cassi já tinha aprontado muito, e para lhe tirar o sossego, ele descobriu que alguém teve a iniciativa de catalogar os seus malfeitos e distribuiu um dossiê com datas dos fatos, noticias de jornais e policiais para as autoridades e pessoas de sua vizinhança. Soube que o pai de Clara tinha conhecimento do conteúdo do dossiê e estava disposto a mantê-lo longe de sua filha. Mas nem estas tentativas fizeram-no desistir daquele propósito, demonstrando ainda mais a falta de caráter decidiu se livrar de quem tentasse atrapalhar seus planos “(...) Pensava em Marramaque, o audacioso aleijado que queria se intrometer no seu amor por Clara. Pagaria bem caro...” (Id, p.75) e para continuar com a armação tramou a morte do pobre homem.

Durante algum tempo, comunicou-se com a moça por cartas com ajuda de Menezes, nestas ele jurava amor sem fim, fazia promessas de casamento,de enfrentar tudo e todos para ficar com ela ,mas precisava de um tempo para arranjar emprego e pedí-la em casamento, tinha um bom discurso, preparado para acabar com as dúvidas que moça tivesse em relação ao seu suposto amor marcaram um encontro. Ele estava ansioso em “(...) dar fim “naquilo”, que tanto trabalho lhe dera e estava dando... ”(Id, p.125) tornara-se tão frio que já encarava as seduções como trabalho.

Barreto insere na literatura um personagem mais real, ou seja, comparando-o com os personagens masculinos traduzidos nas obras da Segunda Geração do Romantismo como heróis da nação respeitadores dos bons costumes sociais. A figura de Cassi é totalmente avessa a estas qualidades, é uma descrição bem mais parecida com a realidade social, é o homem incorreto que erra e não é perfeito.

CLARA DOS ANJOS

Clara dos Anjos, mulata do subúrbio carioca, era admirada por sua beleza e inocência. A ambição da donzela era arranjar um bom casamento, tivera uma vida simples, porém com o melhor que seus pais podiam lhe oferecer, não cultivava muitas amizades, além do contato com Dona Margarida, viúva corajosa, pois enfrentou as dificuldades para criar o filho sozinha após a morte do marido. A amiga ensinou Clara a bordar e assim ganhava ela alguns trocados, aprendeu também com o pai “(...) Os rudimentos da arte musical e a caligrafia respectiva...”(Id,p.102). Mas não quis avançar em outras coisas por ter a natureza inconsistente, e isto aumentou após a visita de Cassi em que passou a viver distraído alimentando sonhos de amor. Considerando o perfil da personagem principal sua classificação é plana e tipo pois ,como menciona Moisés “(...) as personagens planas são estáticas por natureza,pois que sua característica principal jamais se modifica...”(MOISÉS,1981.p111)

Ela não tinha maturidade para fugir da lábia de aproveitadores da classe de Cassi sem perspicácia para perceber as verdadeiras intenções daquele rapaz a imaginação curta não a permitia enxergar “(...) Que a nossa vida tem muito de sério, de responsabilidade, qualquer que seja a nossa condição social e o nosso sexo.” (BARRETO, 2008, p.103). De acordo com a afirmação de Barreto, ela poderia pensar em crescer sem apego a conceitos repassados por gerações de que pessoas da sua cor e condição social não poderiam vencer na vida ou pelo fato de ser mulher corria o risco de passar por ridícula perante a sociedade, havia um exemplo ao seu lado a D.Margarida mulher forte guerreira que não se desanimou diante das intempéries da vida e conquistou respeito e dignidade devido a postura correta que tinha.

Clara achava que as pessoas queriam afastá-la do seu amado e nunca acreditava em nada que falavam sobre ele: “(...) Clara na ingenuidade de sua idade e com as pretensões que a sua falta de contato com o mundo e capacidade mental de observar e comparar justificavam, concluía que Cassi era um rapaz digno e podia bem amá-la sinceramente.”(Id,p.104)

Sua certeza estava no sonho de se casarem mesmo com a diferença de cor. Nas cartas enviadas a Clara, o malfeitor a convencia de que este não seria um obstáculo para impedir o amo dos dois, ela era sim o tipo perfeito de moça pra constituir família com ele. As tentativas de afastá-la dele, apresentando-a fatos do seu comportamento, só “(...) fizeram que ela representasse dentro de si mesma, Cassi como homem excepcional que causava inveja a todos...” (Id,p.135). Estava certa de seus sentimentos e dos dele assim consentiram o primeiro encontro na grade da sua casa, os acontecimentos que antecederam o encontro como a morte do padrinho Marramaque despertou-a alguma suspeita em relação ao pretendente, situação desfeita após o primeiro encontro que fora emocionante.

Não havia nada mais a ser feito, ela se entregou ao moço e estava entregue à própria sorte, nem imaginava que a atitude de Cassi foi de caso pensado e ela era mais uma vítima na lista dele. Clara foi educada sem nenhum contato com as adversidades possíveis da vida seus pais a mantinha numa redoma supostamente protegendo-a dos perigos que a cercavam. A imaginação da moça restringia-se ao gosto do pai por modinhas de viola e preferia as de temas amorosos tanto que a sua concepção de amor é “(...) O amor tudo pode, para ele não há obstáculos de raça, de fortuna, (...) e o estado amoroso é a maior delicia da nossa existência“(Id.p.62}. Tal visão pode-se classificar como absurda levando em conta o contexto da situação que enfrentaria.

Ao perceber o engano e o abandono ela se desespera porque estava grávida e sozinha, insegura e com medo da reação dos pais procurou D. Margarida para relatar os fatos ocorridos pedindo-lhe ajuda, a amiga contou o ocorrido para Engrácia e decidiu ajudá-la com a família do fugitivo, sem saber que estava prestes a enfrentar a pior situação de sua humilde vida. Assim foi Salustiana, mãe de Cassi quem a humilhou e a desmoralizou por causa da cor e condição social, pois já era de costume tratar dessa maneira as vítimas do filho, quando estas exigiam amparo, “--Qual é sua negra? meu filho (...)--casado com gente dessa laia?...”( Id,pp.150,151).

A mãe do rapaz não teve piedade do sofrimento de Clara que contou com a solidariedade de Manoel Azevedo, pai daquele sedutor, que, envergonhado pelos atos do filho pediu-lhe desculpas.

Assim Clara percebeu o quanto era insignificante diante da sociedade, restava-lhe apenas revestir-se de coragem e enfrentar os desafios futuros.”(...) Isso por consequência da educação que “recebera, de mimos e vigilância era errônea...” (p152) . A atitude de seus pais pode ter sido o fator preponderante na formação da personalidade frágil, pois ela não tinha maldade no coração sendo incapaz de discernir entre um amor verdadeiro e uma aventura.

Como Pré-Modernista que foi Barreto nos apresenta mais uma inovação com a descrição de mulher, diferente das apresentas em obras dos estilos anteriores ao seu como o Romantismo, mas, que ainda alimentava o sonho de casar-se e constituir família. Descreve uma personagem fácil de ser enganada, porém aponta aspectos que ela poderia se apegar e construir um final diferente, por exemplo: as poucas pessoas do seu círculo de amizade eram “instruídas”, alfabetizadas e se Clara fosse interessada, tivesse a mente centralizada em outros objetivos e acima de tudo se valorizasse como pessoa, teria a chance de virar a página do preconceito racial e social que tanto sofreu

Clara dos Anjos é uma obra rica em linguagens na qual Lima Barreto adota o português brasileiro. Utlizando-se deste artifício o autor denuncia o preconceito da sociedade brasileira e encarna o sofrimentos da personagem principal fato que demonstra o caráter autobiográfico presente na maior parte de suas obras

Podemos perceber que o autor insere vários temas no decorrer da narrativa tornando a obra ainda mais interessante, pois ele transita desde a topografia do Rio de Janeiro retratando bairros ,famosos da cidade amada, à desvalorização da figura da mulher retratada na figura de Clara no momento em que os intelectuais estavam em busca da auto-afirmação da nação brasileira

Verifica-se o descritivismo como mais uma característica do estilo do autor. Ele o faz de maneira ímpar a ponto de influenciar o leitor a visualizar cada cenário da obra

REFERÊNCIAS:

ALENCAR, José de Iracema: Lenda do Ceará. São Paulo. Ática, 1985

BAARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo. Martin Claret, 2008.

BOSI, Alfredo. O Pré-Modernismo: A Literatura Brasileira. São Paulo. Cultrix, 1981.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo. Cultrix, 1985.

CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens São Paulo. Atual, 2003.

GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. São Paulo. Ática, 2002

MOISÉS, Massaud. A Análise Literária. São Paulo. Cultrix, 1981.

josy nunes
Enviado por josy nunes em 13/08/2010
Código do texto: T2436095
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