Belô se tingiu de vermelho



Já estava com saudades, confesso.De repente me veio à memória tempos idos.Flagrei-me emocionada, olhando a imensa carreata que abraçava o centro da cidade, efusivamente.Bandeiras e buzinaços, alegria nos rostos de pessoas de todas as cores e idades.

Voltei lá nos tempos de antanho, quando o sonho passou a fazer parte da minha vida, quando deixei de ver a minha lida como apenas um fardo, quando me vi parte de algo maior e deixei de me incomodar com uma simples pedra no sapato.

Assim, de supetão, no meio desta manhã. Me reencontrei com minha emoção de cidadã.Aí enquanto chamava a minha atenção caras e bocas, risos e olhares, me veio à mente também a Adélia (Prado) com o seu belo poema “Com licença poética”.E não mais que de repente, alguém me entrega uma bandeira (da Dilma), vermelha, verde e amarela,e pensei nos verso dela (da Adélia):” Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.”

Meio sem gracinha, posto que foi inesperado o ato, peguei a bandeira e segui atrás da carreata por algum tempo. E me vi de novo num passado recente, enrolada na bandeira vermelha, em meio a milhares de pessoas num comício de Lula aqui em BH. A gente acreditava, a gente queria um país melhor e mais justo.

Participei de vários comícios políticos e em todos eles me alimentava da energia daqueles que não se acomodaram, que não se fecharam em copas, que não enxergavam apenas seus umbigos.Foi quando entendi que os inimigos do povo não eram os patrões, nem o governo.Era o medo aliado ao desconhecimento da real situação do país.Medo alimentado pela ditadura que, no intuito de fazer do povo uma massa de manobra, promovia as falsas aparências, vendia a idéia de um país fictício, pois até nas escolas nada era falado a respeito do que se passava na nação.

E foi na participação política, mesmo que acanhada, se comparada a tantos que lutaram ferrenhamente, eu aprendi e muito a respeito do que se deve querer para o país.Então passei a entender que o anjo da Adélia mandou muito bem.Essa espécie ainda envergonhada   ( mas não só de mulheres) deve sim carregar bandeiras, sociais,éticas,humanitárias.Só assim a gente vai mudando o país, vai moldando-o à nossa semelhança. A gente vai construindo nossa identidade e vai se reconhecendo enquanto povo.

Fiquei feliz nesta manhã de sábado.Afinal , Belô não podia me frustrar.Aqui o PT nunca perdeu uma eleição, não seria agora que minha cidade iria amarelar.Diante do belo movimento, sei que a onda vermelha recobrou a vergonha adormecida.Contra boataria selvagem e perversa, a gente responde com alegria e verdade, só com o alarde da participação cidadã.

E imaginem o quanto não ficou bonita nossa cidade, ao somar o vermelho vivo e festivo com as cores lindas do Brasil.Assim, de forma quase pueril, ao som do buzinaço, o estardalhaço democrático deu o seu recado.BH não afina e nem se rende ao oportunismo eleitoreiro.
amarilia
Enviado por amarilia em 23/10/2010
Reeditado em 20/10/2014
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