Um milhão e meio
Existem temas quase tabu na sociedade, por medo de serem discutidos com seriedade, porque são temas que podem fazer o político perder votos e passar a ser catalogado, apenas porque é assim mesmo e nada mais, finalmente é mais fácil esconder a cabeça na areia como a avestruz mesmo quando o Rei for nú.
Os temas existem e por mais recusas, fraturantes, extremados que sejam as posições individuais de cada um, mais tarde ou mais cedo reaparecerão.
Sou da opinião que a sociedade deve estar preparada para tudo discutir, sem a necessária moralidade que por vezes leva a extremismos baratos e quando se fala em Aborto, ou apenas em discuti-lo, é como uma bomba retardada, tudo foge, tira a água do capote e o que se lê ou ouve é sempre o mesmo, compromisso com o que já está e ponto final.
Será essa a solução?
Segundo pesquisa do DataFolha encomendada pelo Jornal O Povo e publicada em Setembro deste ano, 70% da população do Ceará é contrária à prática do Aborto.
O Projeto Genoma/2003 afirma que, e por comparação efectuada no DNA, que o embrião é um ser único diferente do pai e da mãe, e que o coração do feto começa a pulsar ao 19º dia após a fecundação.
O Direito à vida é, sem qualquer reticência, algo inviolável, intocável, mas como lidar com o número (apenas estatístico e não confirmado pois a prática do aborto é ilegal) de um milhão e meio de mulheres de todas as classes sociais, apesar de a sua maioria pertencer às classes baixas, abortem no Brasil moderno?
Como acabar com as clínicas clandestinas que praticam o aborto, o contrabando de medicamentos abortivos, a insegurança e sobretudo o risco de morte dessas mulheres, sem levar em conta os efeitos traumáticos posteriores?
Os políticos não gostam deste tipo de tema, preferem “fazer ouvidos de mercador” e quando ele aparece ou por tática eleitoralista, ou por outra razão qualquer, mil e uma promessas, compromissos e Fé renovada servem para afastar tão nefasta situação.
O tema Aborto é delicado envolve principalmente conceitos morais, religiosos, a opinião pessoal de cada um, mas também é um conceito de saúde pública que não pode ser ignorado.
Hoje o tema Aborto é ignorado, mas no amanhã voltará à pauta como um grito surdo não só das mulheres que em condições precárias o praticaram por motivos diferentes de estupro colocando a sua própria vida em risco, mas também por razões de saúde pública que todos defendemos, e nessa altura a sociedade deverá dar o exemplo na base democrática de uma discussão séria, livre de dogmas, influências, opinando sobre este flagelo que a pouco e pouco se pode tornar incontrolável, e é sem dúvida incontornável numa sociedade moderna.
Ricardo Pocinho in "Gazeta de Noticias do Cairiri"