DECADÊNCIA NO RECANTO DAS LETRAS

A Internet nos trouxe a benesse de democratizar muitas coisas que antes ficavam restritas somente àqueles que tinham muita grana.

Nós aqui do Recanto das Letras, por exemplo, quando teríamos a chance de publicar alguma coisa com potencialidade de ser lida por milhares de pessoas?

Há uns 10 ou 15 anos isso era impensável. Somente pessoas com grande penetração política conseguiam essa façanha; ser publicado, ser lido.

Contudo, a democratização trouxe também seus malefícios, para contrapor à minha primeira assertiva. Aqui no Recanto das Letras, como um pequeno exemplo, devido à facilidade e à ampla democracia para se juntar ao site como autor, é possível encontrar de tudo.

Tudo mesmo.

De grandes talentos à gente que mal é alfabetizada.

E essa segunda categoria é a mais numerosa, sem dúvida nenhuma. Textos ruins, mal escritos, com erros ortográficos gritantes, mesmo com o Microsoft Word dando aquela força, opiniões extremamente preconceituosas, gente fazendo proselitismo religioso; este site se tornou algo medonho, para usar um pequeno eufemismo.

Neste cenário, ou melhor, nessa carta geográfica das trevas, abstenho-me inúmeras vezes de fazer comentários, pois se eu for colocar a minha opinião nos textos de alguns boçais que estragam este espaço, vou comprar uma grande briga.

E não vale a pena brigar com quem nem mesmo sabe fazer um O com um copo, com quem irá escrever até mesmo os palavrões para me ofender de forma incorreta e deselegante.

Percebi que para ser lido e comentado aqui o critério não é ter talento nem ideias, mas como em todos os segmentos da sociedade, o que rege as relações são a camaradagem, o clientelismo, a bajulação, a falsidade...

Ou seja, se quer ser comentado junte-se a uma panelinha; daí ela estará lá sempre dizendo um monte de bobagens sobre as coisas absolutamente desprovidas de qualquer senso estético ou ideológico que você escreveu.

Mas eu não quero um elogio de uma plateia que só lê em braile quando eu escrevo em alfabeto normal. Não quero, para minha sinfonia, os aplausos de uma plateia surda. Muito assustaria o escritor que recebesse uma crítica literária de um leitor analfabeto.

Junto a isso, percebi também, depois que me interessei por escrever, que a arte da escrita é uma das mais difíceis. Pouquíssimos a dominam, e elevar a escrita ao status de arte é apenas para afortunados.

Aqui no Brasil alguém que saiba escrever corretamente já é um achado, uma raridade em meio a tanta coisa ruim.

Mas de tudo se aproveita alguma coisa; um bom compositor faz samba até de uma nota de um cruzeiro.

Nessa árdua tarefa de aprender a escrever, vi com esses meus olhinhos lindos, que até mesmo pessoas com altos cargos em grandes empresas patinam, e feio, na hora de colocar as letrinhas no papel.

Ri muito e fiquei orgulhoso de mim mesmo, menino da periferia, ao corrigir textos de gente que se veste com pompa, graduados e pós-graduados, mas que quando o assunto é escrita ou pensar mais profundamente, ou sob várias perspectivas outras que não seja a própria, esse pessoal simplesmente muda de assunto.

Doutores de porra nenhuma, executivos que executam somente a língua portuguesa, chefes que pensam apenas de forma quadrada, superficial, carente, pobre, miserável...

E as perspectivas que tenho são ainda mais assustadoras.

É que estamos numa época em que a imagem é supervalorizada em detrimento da escrita. E as escolas de ensino fundamental e médio estão formando um batalhão de analfabetos.

É verdade leitor letrado, é verdade, eu juro! Conheço meninos com o ensino médio completo que não sabem escrever o próprio nome; e o que vem por aí é ainda mais aterrador.

Às vezes penso em por que perco meu tempo escrevendo nesta porcaria de site em que a decadência é a regra; o lugar-comum, o óbvio, o trivial e o mau gosto, aqui, se fazem onipresentes.

Por fim, penso que nem sempre a democracia é uma coisa boa. Em muitos casos ela faz mal, e muito mal. É o caso dos EUA que querem levá-la para todo o mundo, mesmo que todo mundo não queira.

E é também o caso do Recanto das Letras que permite que qualquer um escreva aqui, mesmo que não saiba escrever.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2627783
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