A Presidenta

A pergunta do jornalista a Dilma Rousseff, se preferia ser tratada por Presidente ou Presidenta, após a sua eleição como 36º Presidente do Brasil, foi oportuna apesar de não passar de um fait divers (tradução linear fato diverso, algo sem interesse apenas para entretenimento). Dilma respondeu a sua preferência para ser tratada por Presidenta.

Depois de debates de baixo nível quer no primeiro, quer no segundo turnos, excepção para o último realizado pela Rede Globo em 29/10/2010, os brasileiros elegeram uma mulher como a primeira Presidenta de um País, onde “ a outra metade do céu”, as mulheres, representam mais de 51% dos cerca de 190 milhões de habitantes, quinto maior contingente populacional do Mundo.

Dilma Rousseff vai encontrar um País completamente diferente do que o seu antecessor Lula da Silva encontrou quando foi eleito, um País confiante, ouvido no Mundo inteiro, a 8ª maior economia mundial em termos de PIB nominal em 2009, um crescimento previsto de 7,5% para 2010 (a média prevista para 2010 a nível mundial situa-se em 2,4%), a diminuição dos índices de pobreza apesar de ainda elevados (8,5% da população brasileira é considerada pobre), diminuição acentuada do desemprego (8% segundo previsão da Organização Mundial do Trabalho para 2010), e outros avanços importantes na área social.

No entanto, num Mundo definitivamente globalizado, toda a atenção é pouca para os fenómenos que afetam a todos ao mesmo tempo, como o que presentemente acontece com a chamada guerra cambial, as medidas proteccionistas no comércio internacional.

Dilma Rousseff no seu primeiro discurso após ser eleita Presidenta, apontou o caminho, erradicação da miséria, fortalecer o desenvolvimento económico, utilização dos dividendos arrecadados pelo filão do Pré-Sal em várias áreas, controlo dos gastos públicos exagerados e melhoria dos serviços públicos, melhorar na educação (veja-se o caso do ENEM 2010), na saúde (reforço do SAMU), reforço dos programas sociais (Bolsa Família), enfim, continuação dos programas do anterior Governo, o que, mesmo sem grandes novidades, fez com que a Revista Forbes a classifique em 16º lugar no ranking das pessoas mais importantes em todo o Mundo (à frente do Presidente da França Nicolas Sarkozy, de Hillary Clinton Secretária de Estado dos EUA, ou do Primeiro Ministro Indiano Manmohan Sing).

As classificações valem o que valem, de certeza que a do Brasileirão terá maior sucesso que estas, mas, num Mundo globalizado em mudanças profundas quase ao segundo, todos os Países têm de se adaptar rapidamente aos novos paradigmas, alguns desconhecidos, outros proteccionistas (a chamada e atual guerra cambial provocada pelos EUA e pela China), outros sociais (a situação na Europa, o aumento da idade para a reforma, a falência dos sistemas de Segurança Social, a baixa natalidade)

As acções devem-se sobrepor aos discursos, e nesse campo Dilma Rousseff terá uma longa e difícil luta pela frente, como a diminuição dos gastos públicos, do combate à corrupção em todas as áreas da sociedade (principalmente no poder público), a reforma de um sistema político caduco, esbanjador (só para dar um exemplo, se a Presidenta decidisse contemplar todos os pedidos do 12 partidos de sua base teria de ampliar de 37 para cerca de 58 o número de ministérios), a grande desigualdade na distribuição de renda, a carga excessiva de impostos, a mais alta taxa de juros do mundo, a violência urbana (maior número de homicídios que o de países em guerra como o Iraque e o Afeganistão), violência sobre a mulher, o tráfico de drogas, o aumento de dependentes químicos, até mesmo as reformas da Justiça e Agrária, o aumento da competitividade, a qualidade da Educação.

Um grande desafio espera Dilma Rousseff, não basta continuar as políticas anteriores que obtiveram um bom resultado no geral, é preciso ousar, inovar, ir mais longe, afinal a Presidenta é a Presidenta de todos os Brasileiros, e os tempos mudam rapidamente.

Ricardo Silva in "Gazeta de Noticias do Cairiri