Maiores de 16 e menores de 18 anos; Quem somos nós?

Maiores de 16 e menores de 18 anos;

Quem somos nós?

(Publicado no “O Mossoroense” em 09 / 08 / 1990)

Convencidos de que apesar dos avanços democráticos possibilitados pela nova Constituição, o jovem brasileiro continua alienado do processo político, no que se refere a conscientização do seu voto. Faz-se necessário que acordemos para o nosso papel no desenvolvimento futuro do país.

Estamos mais uma vez diante das eleições estaduais, onde os discursos políticos enfocam o jovem como a principal prioridade de governo. Aí vem a pergunta que devemos nos fazer: porque o jovem? Qual o objetivo dos políticos em direcionarem suas esperanças para nós? Acontece que o jovem é fácil de manipular, exatamente pela falta de conscientização política. A maioria se deixa levar pelo oba-oba das campanhas, escolhendo muitas vezes o seu candidato pela logomarca, vinheta musical, produção de vídeos e outros adereços que influenciam o jovem, fazendo com que ele deixe de analisar as plataformas políticas e o passado dos candidatos.

O jovem está sempre disposto, sem custo financeiro, a participar das movimentações promovidas pelos seus candidatos, despejando energia para realizar pedágios e distribuir santinhos no corpo-a-corpo. Com o estímulo musical ele desloca-se por quilômetros atrás dos trios elétricos, culminando com uma super animação nos showmícios. São esses jovens que elegem os candidatos.

Quando o político eleito por esse jovem decepciona, os problemas dos quatro anos subseqüentes causados pelo voto inconsciente, não irá afetá-lo diretamente, recaindo sobre a parte adulta da população. Ele permanecerá em transe durante o período que separa uma campanha da outra.

O jovem torna-se um instrumento de manipulação política, respaldada pela nossa Constituição. A prova do descrédito a que os jovens são submetidos, está muito clara na nossa Carta Magna em seu capítulo IV, artigo 14, parágrafo 1º, onde colocam os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, junto aos analfabetos e idosos com mais de 70 anos, como sendo o seu voto facultativo. Nesse caso, na parte teórica, nosso voto se torna irrelevante. Vota quem quiser.

No parágrafo 3º, onde são apresentadas as condições para a elegibilidade, temos: 35 anos para Presidente, Vice-presidente e Senador; 30 anos para Governador e Vice-governador; 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual, Prefeito, Vice-prefeito e Juiz de Paz; 18 anos para Vereador. Está expresso na Constituição que o jovem maior de 16 e menor de 18 anos, não é elegível. Talvez, pela alegação da falta de maturidade. No entanto, apesar de ser inelegível e imaturo, este jovem é eleitor, numa suposição que o mesmo tenha o discernimento de escolher de forma acertada o melhor candidato.

No parágrafo 4º, chega à vez do jovem maior de 16 e menor de 18 anos ser outra vez enquadrado: São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Neste caso, estamos nós outra vez sem valoração política nenhuma. Somos inalistáveis, portanto inelegíveis.

Percebam porque nos colocam num grupo junto aos analfabetos e idosos com mais de 70 anos. Esses dois grupos de eleitores são na grande maioria facilmente influenciados por diversos fatores que os políticos profissionais sabem muito bem como manipular. O idoso com seu voto facultativo, é levado pelo neto para votar no candidato que o neto pediu, já foi influenciado pela mídia. O analfabeto vota pelo cabo eleitoral que recebe dinheiro de determinado candidato para aliciar esse grupo de eleitor. Na verdade, o voto do jovem está ligado à festa que as campanhas nos proporcionam.

É através da inocência desses grupos que os políticos profissionais se perpetuam no poder, sem que sejam ameaçados pelas nossas consciências numa eleição futura.

Temos que acordar para isso!

Precisamos perceber que estamos sendo usados pelos maus políticos, como forma de degrau para que eles subam rumo ao sucesso e, nós nos alienemos cada vez mais em direção ao fracasso e a mediocridade social, vivendo um futuro mambembe sem identidade política.