As consequências do chavismo ocultas numa reportagem patética...

As consequências do chavismo ocultas numa reportagem patética...

Um célebre repórter do telejornalismo brasileiro (Luiz Carlos Azenha, do Jornal da Record), dentro de um supermercado da capital venezuelana, onde as prateleiras estão quase vazias e algumas pessoas circulam com carrinhos idem, tentando explicar o que nem mesmo o governo de Chavez se atreve a fazer - isto é, mostrar a consequência prática de um governo autoritário, doidivanas, vulgar e ladrão, mostrando um saco de farinha e lendo uma mensagem sobre corrupção constante da embalagem, que não tem identificação do fabricante e justificando tal fato como "patriotismo".

É quase inacreditável e, de qualquer forma, risível. Mas, ao contrário do que ocorre naquela famosa propaganda de cartão de crédito, fico perguntando: qual foi o preço?

A Venezuela já foi um país respeitável politicamente e uma economia estável, fincada em política fiscal séria e a sua pungente indústria do petróleo. Mas, veio Chavez e, tentou um golpe de Estado. E Deram trela ao milico, e aí, ele chegou ao poder pelo voto, para, logo em seguida, cuspir na Constituição que havia jurado...

O tempo passou e a crise de abastecimento que castiga o povo venezuelano denuncia tudo o que pode resultar do exercício de um governo autoritário, da prática do populismo infantil e das promessas do que chamam socialismo - qualquer que seja a sua faceta.

Mas, verificar que um tipo grotesco igual ao ditador venezuelano conquiste o poder pelo voto e depois inicie um período de perseguições políticas e vulgaridade governamental, indica apenas que a América Latina é um território onde a democracia não consegue passar da infância, e evoluir para um sistema regular e consagrado pela sua excelência, se constituindo politicamente o continente numa imensa Macondo - envolta em brumas, de que nos falou Grabriel Garcia Marques em seu livro "Cem anos de solidão".

Atualmente, pensar e escrever sobre isso, ainda que tenha muito a ver com meu destino - dá-me bastante preguiça! Nesta altura, todavia, este texto já é algo diferente daquilo que imaginei inicialmente. E, vou em frente.

Todos os governos do mundo costumam se dizer democratas - e isto inclui o governo de Chavez, a ditadura de Kil Song Il (Coréia do Norte)e, aquela coisa exótica e personalista que é o exercício do poder de Al Kadhafi (Líbia). Mas, sabemos, democracia não pode ser expressada através de formas dissimuladas ou converter-se em promessa proselitista, como querem as figuras horrendas que citei.

A democracia, é ou não é. Ela é um ponto de partida e, depois processo, através do qual uma sociedade se cerca de garantias de natureza coletiva e individuais, começando por uma Constituição escrita, para que possa desenvolver todos os seus potenciais, o que é algo muito diferente do discurso dos socialistas de todas as vertentes, que, com diferentes palavras e maneiras, dizem que a chegada ao Xangri-Lá da humanidade é processo para se chegar ao estado de bem estar e, enfim, à ampla democracia - e o que sabemos que sucedeu na URSS e em Cuba ilustra bem as tintas de sua boa intenção e promessa de futuro.

A democracia também não é mero arcabouço de governo estatuída em Constituição ou lei. Sua fórmula foi magistralmente concebida no ocidente, durante as chamadas revoluções liberais tem uma fórmula razoavelmente simples que, estabelece que ela é um ponto de partida, assentado na Constituição. Sendo clássica, sua receita reúne a um só tempo o sistema de divisão do poder em três esferas independentes (Monstesquieu vive!), o sistema de representação popular, a igualdade de todos, perante a Constituição e as leis, as garantias e direitos individuais - aí incluídos o direito de opinião e livre empresa, entre outros fundamentos.

A partir da verificação deste conjunto tais dados, é possível inferir rapidamente se um pais tem uma Constituição e um governo democrático. E, à falta de quaisquer destes itens, se pode concluir sobre o caráter autoritário ou demagógico do governo, o que pode muito bem ser inferido sobre o bem-estar e os direitos da população - o que foi recusado pelo renomado repórter do jornal da TV Record.

Se o tal jornalista estivesse com um pouquinho mais de coragem, um mínimo de senso crítica e menos voluntariedade nas segundas intenções do patrão, teria se lembrado que a China de hoje é capitalista - ou quase, pois aquilo é uma eclética mistura de capitalismo competitivo e favorecimento político e financeiro aos apaniguados do partido único do país (o que se conhece pelo irônico epiteto de "capitalismo de Estado"), tem um nível de consumo de gêneros alimentícios e industriais dantesco, mas vive sobre o tacão de uma resistente e violenta ditadura militar que, ao longo de décadas, foi capaz de eliminar mais de oitenta milhões de "objetivos políticos", que é como comunistas chamam os inimigos do regime, gente hipoteticamente igual a mim e ao quem me lê.

A livre-empresa pode sobreviver nos mais inóspitos ambientes políticos, mas a democracia elimina qualquer possibilidade de contemporização com governos autoritários ou "processos" dos quais ela possa ser reputada de corolário e, o contrário também é uma supina verdade.

Ou seja, democracia é sempre ponto de partida, envolvido por conceitos, experiências e reflexões históricas, filosóficas e políticas. Mas, o processo democrático apenas a movimenta, preserva, moderniza e amplia os horizontes dos sistemas democráticos.

Chavez é um tipo tosco, autoritário e perigoso - e, se seguir na trilha em que mergulhou a Venezuela, mais cedo ou mais tarde sentirá na carne as consequências de tudo quanto causou de agressão e torpeza ao povo venezuelano.

O jornalista já citado, que rezou, ao que parece, pela pauta do patrão – que, sabemos, reza pela pauta do partido de Edir Macedo e seus sócios, o PRB, que, por sua vez, está inteiramente atrelado ao projeto de governo da atual ocupante do Palácio do Planalto, fez uma pantomima ridícula ridícula de reportagem - não pelo que mostrou ou não quis mostrar do país vizinho, mas pelo que indiretamente indiretamente indicou sobre si e da emissora que lhe paga o salário...

Mas, é preciso reconhecer que esta história de contemporização com governos deletérios sob o apanágio de respeito a outros, povos, governos e culturas virou uma praga mundial. Por isso, governos criminosos e cleptocratas conseguem receber um tratamento simpático e indevido - e para perceber isto, não é preciso ir muito longe, pois uma olhada no noticiário nacional de boa parte do comglomerado de informação brasileiro deixa isto bem claro.

Vejam só, como são as coisas - a rede de televisão que dizem ser de uma confissão religiosa cristã apoiando ao governo de um ditador violento, babaca e que se auto-proclama socialista, para agradar ao governo brasileiro.

E eu, mais uma vez, fico pensando que aos quarenta e oito anos, já havia visto de tudo!...