Francisco Miguel de Moura - Grande Talento do Piauí

Francisco Miguel de Moura

grande talento do Piauí

Roosevelt Silveira*

(roosevelt.silveira@bol.com.br)

Em fevereiro de 1970, quando havia eu iniciado minha correspondência com escritores não fazia tanto tempo, tomei conhecimento do nome de Francisco Miguel de Moura, piauiense que estreara, em 1966, com o livro de poemas “Areias”, prefaciado pelo ficcionista Fontes Ibiapina, também piauiense, que, embora de talento, não ficou tão conhecido quanto merecia. Escrevi a Francisco Miguel, mas, por coincidência, ele também já me havia escrito, enviando-me seu livro.

Francisco Miguel, ou Chico Miguel, na intimidade, é um nordestino conversador, alegre e às vezes até divertido, que respira literatura. Posso afirmar que se trata de um dos mais férteis escritores que conheço. E não só isso: um dos melhores e mais respeitados do Piauí, tanto assim que seu nome atravessou fronteiras. Creio que não há como se falar em literatura piauiense sem nos lembrarmos dele.

Depois daquela sua primeira publicação, não mais parou. Da poesia partiu para a publicação de crônicas, contos, romances, crítica literária, biografia, etc. É livro após livro. Possuo, em minha coleção, nada menos que vinte e cinco de sua autoria, todos ofertados por ele, com gentil dedicatória. E fiquei ciente de que lançou outros. O bom é que se transformou em um conquistador de prêmios nos diversos gêneros. Isso é sinal de que não é daqueles escritores que publicam por publicar, julgando-se ótimos, mas que, na verdade, não o são. Seus escritos são de primeira qualidade. E ele não se contenta, não fica parado no tempo: começou com poemas rimados, mas, embora não os abandonando, passou para os modernos. Na prosa é um inovador. Sempre cria alguma coisa. Faz exercício com as palavras, dominando-as. Em 2008 enviou-nos um volumoso livro intitulado “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura”, onde são transcritas dezenas de artigos de críticos elogiando sua obra.

Como falei em prêmios literários, em 2005, o governo do Estado do Piauí lançou um volume quase quinhentas páginas, com capa muito bonita, excelente papel, muito bem impresso, onde constam os três romances premiados em 2003 pela Fundação Cultural do Piauí. Francisco Miguel de Moura foi classificado em segundo lugar com “D. Xicote”. Como li os três, manifestei-lhe que, em minha opinião sincera, ele teria merecido o primeiro prêmio pela sua bem desenvolvida trama, pela sua linguagem cativante e inovadora, pela sua criatividade, enfim, por ter elaborado um romance de primeira qualidade, que deveria ser amplamente divulgado por todo o País. Mas, infelizmente como dissemos na coluna passada, há nomes de valor que jamais se projetam como deveriam, devido à pouca divulgação de seus trabalhos, mas, principalmente, por não fazerem parte da chamada “panelinha” literária, que promove quem ela quer. Como seria bom se outros Estados brasileiros seguissem o exemplo do Piauí, incentivando os escritores locais através de concursos, inclusive de livros inéditos, e publicando os trabalhos vencedores!

Se fôssemos narrar mais sobre Francisco Miguel, teríamos ainda muito a dizer. Mas vamos apenas contar uma de suas aventuras: em outubro de 1991 ele convida sua esposa, pega um ônibus e parte para o sul do Espírito Santo no intuito único de ficar conhecendo, pessoalmente, este seu amigo e admirador. Não me lembro mais, mas foram dois ou três dias de viagem. Nosso bate-papo foi intenso. Levei-o para conhecer os colegas do Banco do Brasil, uma vez que, como eu, também era funcionário da mesma empresa, onde ambos nos aposentamos. Foram dias maravilhosos, pois, tanto ele quanto sua esposa, Mécia, são pessoas muito educadas, agradáveis. O tempo passa, corre. Já faz quarenta e um anos que nos conhecemos por carta e dezenove que estivemos frente a frente. Uma pena que nunca mais nos encontramos.

De uma coisa tenho certeza: Francisco Miguel de Moura ainda tem muito a nos brindar. De uma hora para outra tomarei conhecimento de mais trabalhos seus publicados, pois ele é dinâmico. Quem quiser conhecê-lo melhor, visite o blog http://franciscomigueldemoura.blogspot.com. Lá pode ser vista, inclusive, uma caricatura dele feita por meu filho Roger (que desenha muito bem) e outra por mim. Adianto que nasceu em Francisco Santos (outrora Jenipapeiro, município de Picos), no Piauí, em 16/06/1933. É formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduado na Universidade Federal da Bahia, em Salvador.

Ao bom amigo, votos de constante sucesso.

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Nota: Este artigo foi publicado na “Folha do Caparaó” – Cachoeiro de Itapemirim – ES, em 30.01.2011, no espaço da Academia Guaçuiense de Letras, Guaçuí-ES

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*Roosevelt Silveira, funcionário do Banco do Brasil (aposentado), escritor e divulgador da literatura brasileira. Tem livros publicados e participa de outros, mora em Guaçuí – ES, onde mantém a maior biblioteca particular do interior do Estado.