Ser mãe é padecer no paraíso?

Segundo reportagem da revista Época (edição n° 442 de 06/11/06), e declarações de algumas mulheres “sinceras”, sim, ser mãe pode até significar isso: padecer no paraíso, como diz o velho chavão, mas, de vez em quando, é também um inferno.

“Uma grande amiga tem um menino de dois anos, lindo, mas que ainda acorda à noite. Um dia, ela me perguntou: – Quando melhora? Minha resposta foi curta, sincera e direta: – Nunca.”

“Eu não sabia que ser mãe era comer restos de comida e passar o dia catando brinquedos.”

Algumas pessoas podem até achar exageradas as declarações acima citadas, mas, apesar da maternidade ser uma experiência maravilhosa e única (pelo menos para mim foi, ou melhor, tem sido), o que ninguém pode discordar é que não é nada fácil para a mulher moderna, fruto da revolução feminina dos anos 60, ter de abrir mão de parte de suas conquistas para cuidar do(s) filho(s), ou conciliar trabalho e maternidade. Embora, a coisa pudesse ser um pouco menos complicada se a própria mulher não se cobrasse tanto. Elas querem ter um trabalho maravilhoso, ser boas profissionais, bonitas e boas amantes. Mas também querem ter filhos, organizar a família e manter a casa em ordem, diz a terapeuta de família Simone Savaya. Mas o pior é que além de tudo isso, ainda existe aquela permanente briga para saber quem é “melhor mãe”, o hábito de algumas mulheres em criticar as escolhas das outras na criação dos filhos, os eternos palpites das colegas de trabalhos e/ou vizinhas, que, além de incomodarem muito, como revela uma pesquisa realizada recentemente (pelo fundo inglês Tommy’s), ainda causa uma pressão muito maior à mulher para ser uma “mãe perfeita”. Ademais, existe também a batalha entre as mulheres que optaram por continuar trabalhando fora, independentemente da maternidade, e as que optaram por ficar em casa, pois cada uma acha que fizeram/fazem o melhor. Mas, como julgar? Cada um tem seu esquema, sua forma de organizar a vida familiar, diz a psicóloga Simone Savaya. Nenhum exemplo é melhor que o outro.

A mulher moderna também encontra dificuldade quando decide não ter filhos, pois são vistas como uma distorção do padrão “natural”. Uma mulher que não quer crianças é alvo de muito preconceito, assim como é alvo de pena a mulher que não pode gerar filhos. A família e os amigos cobram a maternidade, há pressão de todos os lados. Fora isso, existe também a idéia que liga feminilidade à maternidade. Mas “ser mulher e ser mãe não é a mesma coisa”, diz a socióloga americana Susan Maushart, autora de A Máscara da Maternidade – Como Tornar-se Mãe Muda Nossas vidas e Por que nunca falamos sobre isso. Susan diz ter escrito o livro para “preservar a sanidade” durante os primeiros anos de vida da filha mais velha. Lamenta que, ainda, haja pouca informação sobre os impactos reais da maternidade na vida da mulher.

Também lamento que ainda haja tanto tabu e preconceitos em torno desse assunto, assim como lamento que ainda exista a cobrança pela “perfeição maternal” (cobrança efetuada pelas próprias mulheres, insisto em falar). No entanto, tenho certeza de duas coisas: a de não é preciso ser uma “mãe perfeita” para ser uma “boa mãe” e a de que a maternidade é de fato uma das experiências mais intensas da vida de uma mulher, desde que a decisão seja dela e não fruto de cobranças familiares ou de quem quer que seja.

Nota final: Sentir menos culpa na hora de deixar os filhos com a babá e sair para trabalhar ou até mesmo para se divertir com o marido (namorado ou amante), é a melhor receita para a mulher que não abre mão da experiência maternal mas que também não deseja se colocar em segundo plano em prol dos filhos e do marido. Afinal somente assim poderemos realmente nos sentirmos mais felizes e, o mais importante, criar filhos também mais felizes.

[Texto originalmente publicado no blog http://palavreando.zip.net]

Janethe Fontes
Enviado por Janethe Fontes em 15/11/2006
Código do texto: T291590