Doping no DNA ou atletas transgênicos

Doping no DNA ou atletas transgênicos

O super-homem agora pode ser feito no laboratório! Quem nunca pensou em se tornar o super-homem?! Acho que hoje em dia essa ideia estar germinando mais do que capim tiririca, ficando cada vez mais longe dos gibis e mais próxima dos laboratórios. Certamente, em épocas de culto exagerado ao corpo, a valorização demasiada à aparência externa tornou-se o ingrediente principal da indústria estética e farmacêutica, que movimenta toda essa máquina capitalista para promover seu próprio crescimento.

As pesquisas sobre o campo genético desvendado pela ciência estão saindo muito mais rápido dos centros acadêmicos e, incorporando-se em alguns projetos tecnológicos para fins comerciais com uma rapidez assustadora. Isso provoca arrepios pelo fato de que fica difícil acreditar que, em meio a toda essa pressa, se tenha realmente se esgotado o conhecimento pleno da vastidão de todo esse campo científico mitigado pelo estudo acadêmico. Todavia, em épocas de resultados rápidos, o que menos interessa é saber qual a conclusão do estudo, se no seu meio do processo pode-se tirar algo de lucrativo, já tá valendo. E, assim, vão se criando mitos e muitos dos venenos que vem matando as pessoas lentamente sem que essas percebam.

Certamente, o alvo mais objetivado por essa indústria é o atleta de elite, por uma questão obvia, a exposição pela mídia como melhor entre os melhores. O modelo de sucesso garantido tem que se criado por essa e por aquela marca e, claro, que a marca que tiver por trás e pela frente do atleta vencedor vai ver a disparada de suas ações nas diversas bolsas de valores ao redor do mundo.

Para isso vale tudo até perder o escrúpulo e o respeito pelos valores humanos. Não há limite para ambição capitalista. O único freio possível é o sujeito ético, que cá para nós é uma figura em extinção, tendo por base a deterioração dos valores que sustentam a formação básica do indivíduo.

Dessa forma, vem se produzido todo tipo de drogas ao longo da trajetória histórica do esporte de competição. Essa coisa começou na Alemanha nazista com os estudos no desenvolvimento dos anabolizantes para fins de criar os melhores soldados. Posteriormente, quando da divisão do mundo em dois grandes blocos e cada um querendo mostrar a sua supremacia em relação ao outro, essas substâncias anabolizantes foram largamente utilizadas por atletas nas grandes competições em nível mundial, principalmente, pelo pessoal do bloco oriental da cortina de ferro onde as pesquisas utilizadas pela Alemanha nazista foram mais ricamente desenvolvidas e acabaram sendo capitaneada de forma mais incisiva por esse bloco, particularmente, pela Alemanha Oriental, URSS e, posteriormente, pela China e USA. De modo que, praticamente, a maioria das medalhas olímpicas nas décadas de 60,70 e 80 foram literalmente surrupiadas por esse grupo.

Com passar do tempo o esporte de competição deixou toda aquela visão romântica que se subtraia do ideal olímpico de lado. Hoje a coisa é toda fabricada nos laboratórios, desde a roupa até o atleta em si. Uma programação cientifica articulada pela indústria do resultado vem colhendo os louros da vitória. Claro que o C.O.I., constituído de pessoas sérias, vem estabelecendo os limites e as regras para o que pode e o que não pode. Devemos crer que o ideal olímpico deva ainda manter a chama da pira olímpica acessa. Assim, para cada droga que se cria para maquiar os resultados em relação ao desempenho dos atletas, se criam também mecanismos para a detecção da mesma, ou seja, o chamado antidoping.

A ciência que se desenvolve de um lado desvendando os enigmas do fisiologismo é uma só. Da fonte jorra a água pura, límpida e cristalina, agora o curso e os campos que esse conhecimento vai irrigar, aí a coisa é outra história. O conhecimento pode servir perfeitamente a dois senhores. Ele não é o sujeito ético da história. É apenas um instrumento que ajuda no propósito da persecução da meta pretendida.

Assim, fica fácil de entender porque o conhecimento científico irriga primeiro a indústria farmacêutica. Não porque seja ela o “Satã” do sistema, ao contrário, vemos todos os tipos anjos e santos trabalhando eticamente dentro dela. Afinal, quantos sofrimentos não foram estancados e abreviados pelo desenvolvimento de suas drogas? Todavia, a questão é outra, envolve toda essa cifra gigantesca que movimenta o sistema, que chega criar verdadeiros semideuses possuidores de impérios, e uma coisa que o sistema faz bem é autopreservar-se.

Sendo dessa forma, a gente já estava até acostumado a ver essa corrida de gato e rato, doping vs antidoping, ou seja, por mais escondido que fosse o doping sempre se acabava por descobri-lo. Como foi dito antes a ciência é uma só, a que serve para um lado serve também para o outro. Assim, o esporte de alta competição ia sobrevivendo, toda essa corrida de gato e rato ajudava um pouco na tentativa de se manter equilíbrio dentro das competições.

Porém a bola da vez é o chamado doping genético, esse sim vai conseguir apagar a chama da pira olímpica se nada for feito. O doping genético é a preparação laboratorial de células humanas que permitem reações endógenas que ajudam a uma melhor performance física. Por outras palavras, é fazer trapaça (como é sempre quando se fala de doping), mas desta vez sem ter, sequer, que recorrer a substâncias ilícitas, pois doping genético provoca a formação de uma substância dopante no próprio corpo. Como essa produção é fisiológica, não exigindo a ingestão ou injeção de substâncias proibidas, o doping genético é invisível e indetectável, e, ainda mais eficaz.

O doping genético é um dos maiores desafios do combate à dopagem. O conceito surgiu formalmente em 2003, na lista adotada pela Agência Mundial Antidopagem, e assume-se como umas das prioridades para os novos tempos. Por outro lado, era tudo que queria a indústria dos resultados, algo que pudesse dar ao atleta um atalho para chegar à glória rapidamente sem correr o risco de ser desmascarado em público. Afinal, a vergonha, a exposição, a execração pública, a publicidade negativa e anos de treinamentos jogados na vala são golpes muito duros de suportar, mesmo para aqueles que sabem o que estão fazendo, que dirá para o pobre coitado do atleta ignorante que apenas servia ao propósito dessa indústria vergonhosa.

Há que se ressaltar que o doping genético provoca alteração do DNA do atleta, ao receber células com o DNA transgênico através de inserções regulares e pontuais, todo seu DNA assume características idênticas ao do transgênico, forçando, por consequência, o corpo a produzir a substância endógena desejada para a melhoria da performance.

Essa ideia surgiu das experiências de cura com algumas patologias graves de origem genética, utilizando a inserção de genes normais no genoma do indivíduo em lugar de genes defeituosos, ou seja, a finalidade era ligar genes e desligar outros, a chamada “geneterapia”. Com isso, descobriram que o metabolismo fisiológico poderia funcionar dentro de determinados parâmetros. O DNA transgênico - ou DNAt - é transferido para o corpo muitas vezes utilizando-se dum retrovírus como meio de transporte - para criar substâncias que melhorem o desempenho, tais como a eritropoietina (EPO), para a formação de glóbulos vermelhos.

Dessa maneira, o corpo do atleta dopado geneticamente acaba produzindo sozinho o seu próprio esteróide anabolizante, sem a necessidade de se introduzir nenhuma substância estranha no organismo. Fazendo do próprio corpo o fornecedor absoluto do seu doping.

Já existem denúncias da utilização de doping genético, poucos meses após o enceramento dos jogos olímpicos de Beijing, uma rede de televisão alemã fez uma denúncia através de um documentário que a China e outros países teriam sido beneficiados de doping genético para obter suas marcas.

O “doping genético”, segundo o documentário, seria obtido através de um tratamento com células-tronco que melhorariam o desempenho desses atletas. O procedimento seria realizado em um hospital chinês ao preço de US$24 mil.

O tratamento seria completamente seguro e fortaleceria a capacidade pulmonar dos atletas pela disseminação dessas células-tronco pela corrente sanguínea, fortalecendo outros órgãos também, melhorando o desempenho como um todo.

Ainda, segundo o médico chinês, que foi flagrado com uma câmera escondida, seriam aplicadas 4 injeções intravenosas, mas quanto mais, melhor. Em conjunto às células-tronco seria aplicado o hormônio do crescimento (GH), mas o mesmo médico ainda alerta: o GH está na lista oficial do doping e, portanto, deve ser usado com cautela.

As autoridades chinesas evidentemente negam as acusações, mas nada ainda foi esclarecido. Todavia, o fato é que a “geneterapia” está aí não mais como uma ficção, mas como algo real e ao alcance da indústria de performance fabricada.

Provavelmente, se nada for feito no sentido de poder detectar os genes transgênicos, os próximos jogos olímpicos e os de 2016, no Rio, correm o risco de ficarem maculados na história como os jogos dos atletas transgênicos.

É evidente, que na medida em que avança o conhecimento científico sobre o genoma, genes de impacto na velocidade, nos músculos, na disposição cardiovascular, na resistência, podem ser perfeitamente identificáveis, mapeados, reproduzidos e utilizado pela engenharia genética. Alguns atletas, dispostos a encarar os riscos para saúde, acabam se submetendo a uma técnica ainda experimental, e já estão procurando os cientistas para saber quando poderão se utilizar dessa nova técnica.

Devemos acrescentar que a biologia é uma ciência extremamente complexa, e a engenharia genética é apenas uma de suas muitas ramificações. Dessa forma, ao ligar ou desligar um determinado gene inicia-se dentro da estrutura orgânica uma nova cadeia de reação que jamais existiria em condição de normalidade, abrindo, como consequência, um novo campo de observação científica ainda não conhecido para ciência biológica. O final e a mensuração de todas essas reações em cadeias é um trabalho para toda eternidade, ou seja, a ciência biológica é infinita. Por isso as coisas em biologia nunca são tão simples assim, sempre é necessário um longo caminho a percorrer antes de se chegar ao um determinado postulado.

Todavia, uma pequena luz no fim do túnel já pode ser vista. Na Alemanha, cientistas desenvolveram um teste de sangue capaz de detectar, com segurança, mesmo se o doping genético ocorreu até 56 dias antes. Vamos esperar para ver. E que o super-homem se mantenha nos gibis ou quando não, seja ele o produto da conspiração do universo natural para poder dar seus saltos evolucionais.

(Fábio Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 23/04/2011
Reeditado em 13/09/2018
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