A perseguição as feiticeiras na Idade Média(Artigo 2)

Título: Sobre a

perseguição as feiticeiras na Europa na Idade Moderna

Senhoras e senhores:

O tema ao qual me proponho a discorrer,talvez não seja tão novo para nenhum dos

senhores,todos já devem ter lido algum romance,visto uma peça de teatro,ou então ter visto algum

quadro medieval sobre as feiticeiras,a feitiçaria já é um assunto conhecido no ICS C,e todos

alguma vez já disseram a uma senhora que nos desagrada: "Essa mulher é uma bruxa" ou "Ela se

parece com uma bruxa",porém essas são citações preconceituosas e não condizem com o estudo

que faremos sobre as feiticeiras.

Não podemos falar das feiticeiras sem reportarmo-nos ao Malleus Malleficarum(O Martelo das

Feiticeiras),escrito por Sprenger e Krämer,este livro foi o corolário da perseguição implacável as

mulheres chamadas de feiticeiras e "adoradoras do Demônio".A perseguição as feiticeiras

começou no século XIII e a Europa naquela época era um cadinho de guerras externas e

internas,na Itália,por exemplo,os Estados Papais tentavam dominar Veneza,Florença e

Milão,importantes centros de navegação e exportação para o Oriente e Europa,a França é uma

nação insurgente ainda e luta para ter sua autonomia,o rei lutava contra a Igreja e os senhores

feudais para obter mais poder,e é no século XIII que Dante nasceu,cresceu,e luta pelos Guelfos

em Florença e é exilado,Petrarca,nasceria alguns anos mais tarde e escreveria belos sonetos em

homenagem a Laura,morta pela praga em 1348.A Alemanha naquela época não passa de uma

série de estados chamado Sacro Império Romano Germânico,ou como os senhores pereferem

chamar,o Primeiro Reich Alemão,criado pelo imperador austro-alemão Otto Hohenzollern.Portugal

e Espanha ainda não se formaram como Estados Modernos e lutam para expulsar os

mouros(árabes) da Península Ibérica.A Rússia é uma terra de "bárbaros" tártaros e que é

totalmente desconhecida pelos europeus.

A feiticeira na Idade Média e Moderna,é mais do que uma pessoa que lida com as "artes do

oculto",ela é alguém diferente,e para isso devemos falar das várias nuanças,e não apenas sobre a

suposta doença neurótica das feiticeiras ou da possessão demoníaca,não avançaremos muito

sobre este binômio.

A feiticeira,antes de ser uma mulher com ligação com "demônio",segundo a Igreja,é um depósito

das inúmeras lendas pagãs que a Igreja Católica conseguiu destruir apenas parcialmente.A

feiticeira na Idade Moderna é Circe sem encanto,uma mulher estigmatizada,como hoje é a

prostituta ou uma moça pobre,não há hinos,salmodias e nem poemas dedicados as feiticeiras,e

nem poderia ser diferente,pois há um terror espalhado no qual as feiticeiras poderiam fazer

populações inteiras desaparecer,gados e plantações etc.

Entretanto,as feiticeiras tiveram o mérito( e isso não é pouco!),preservando o culto a Nix e a

Perséfone e Deméter,um culto que até mesmo na Grécia Pré-Clássica e Clássica estava há muito

enterrado na mente grega.Porém, a Nix das feiticeiras,não é a Nix grega,não que Nix tenha

perdido seu mito,origem,porém o Cristianismo apesar de ser patrilinear in strictus sensus,ele

destaca imagens femininas de envergadura como Maria Madalena, Maria, Priscila.O culto a Nix é

tão sufocado que piodemos dizer que não restou muito do mito original, a não ser a imagem céltica

comercial da Grande Mãe.

Quando nos deparamos com estas forças da Natureza, na qual a feiticeira supostamente

controla,podemos encontrar ecos do passado antigo grego.As artes mágicas estão

indubitavelmente no imaginário popular ligadas a: vingança e sedução, sendo que, as duas

caminhas juntas.

Ao analisarmos os inúmeros processos sobre feiticeiras,vemos que a Igreja usou de diversas

fontes para provar que determinadas mulheres eram culpadas: estigmas corporais como marcas

roxas,de nascença, melanomas,defeitos físicos e até assimetria de alguns membros superiores ou

inferiores,talvez fosse fácil analisar uma feiticeira apenas através de defeitos no corpo,porém

quando médicos eram chamados pela Santa Inquisição,muitos não concordavam com os

julgamentos da igreja,um exemplo é Wyler, que acreditava que a feiticeira não era um perigo a

Igreja, e sim a saúde pública.

Talvez devamos nos lembrar que a feiticeira não foi apenas um " bode expiatório",pois a

perseguição se aplicou a outros tipos de pessoas,etnias e crenças na Europa, a tese seja ela

histórico-foucaultiana, que a vítima não é mais que uma vítima do poder arbitrário da Igreja e

posteriormente da Psiquiatria,não explica o fator de dualidade da feiticeira,aos olhos dos frades e

membros do alto clero ela não passa de uma aberração,um símbolo da desordem social e

hierárquica, e por outro lado, as pessoas que usaram da sua " ciência", a feiticeira é uma

salvadora,uma milagreira.

A instância psíquica da Idade Média foi abalada em todo o tempo que durou a época mais

misteriosa da Terra;não apenas por conta da pressão social da Igreja,mas cada indivíduo tinha em

seu cerne,um superego exigente,uma necessidade imperiosa de se vigiar, se punir, etc.

Quando olhamos para os medievais e refletimos se tudo que eles pensavam, agiam, era apenas o

imaginário judaico-cristão, milhares de leituras e re-leituras nos abre mais caminhos.

A feiticeira é um objeto supranacional,ela é vista como uma eterna imigrante,assim como os

primeiros judeus que chegam a Europa, ela está entre nobres e aldeões,nos castelos e aldeias.

A feiticeira tem em si quadros depressivos e psicóticos;ela hesita em falar suas tristezas no

julgamento,pois teme que esta tristeza volte-se contra ela,suas supostas visões e audições de

outros mundos, em si,deve ser esquecido e não mencionado.

Ao nos relatarmos sobre feiticeiras, a Idade Média é a única posta, porém em Loudun,houve

casos de freiras,mencionaremos o nome de uma e voltaremos ao caso, que foram consideradas

consortes do Demônio,elas cuspiam a hóstia que lhes era oferecida durante a missa,contorciam-se

no chão em convulsões violentas, blasfemam sobre a capacidade quase nula de homens em

praticar o coito com as mulheres,e xingam toda e qualquer imagem do Santíssimo: isso tudo em

1632 e o nome de uma freira era Jeanne.A não contraposição de outras épocas destas barbáries

que eram cometidas "em nome de Deus",como uma "benção e tentativa de salvar a alma humana

das garras de Belzebu",todos estes discursos cruéis,vazios e horripilantes foram cometidas pública

ou privadamente quase até o século XX,devemos nos lembrar que estes discursos de poder

aliaram-se a outras ciências como Psiquiatria e Biologismo.

A pobre freira Jeanne, a despeito de não ser uma feiticeira,nem mesmo para os padrões da Igreja

Católica seiscentista, o que é curioso, ainda não pode elevar-se à justa condição de vítima,citemos

algumas opiniões de frades e autoridades eclesiásticas sobre a possessão: segundo o padre

A.Lefévre,S.J, "o Diabo ocupa uma posição muito irrelevante no Velho Testamento;seu poder

supremo ainda não se revelara.O Novo Testamento o mostra como o chefe das forças coligadas

do mal".Outro padre chamado Ludovico Sinistrari diz que os seres humanos podem ser possuídos

ou pelo menos obcecados,não apenas por diabos,mas também,com muita frequência por espíritos

e seres mitológicos da Antiguidade.Reportando apenas um trecho deste longo conto de fadas que

foi o caso da " possessão" de Jeanne,o principal responsável, o abade Lactance a levou em praça

pública e começou a interrogar o suposto demônio que estava no corpo de outra pessoa que dizia

que era o mesmo demônio que havia entrado em Jeanne.

Os inquéritos e interrogatórios da Inquisição eram extremamente anti-judiciários,lembra-nos nos

nossos tempos,a demissão de líderes em fábricas ou então a autoridade que a mídia legaliza

como verdadeira.

As autoridades eclesiásticas ao decorrer dos séculos começaram a "relaxar" e trazer outros

conhecimentos para julgar as feiticeiras,foi assim com a Psiquiatria.A Psiquiatria era tão devota de

Deus, ou devemos do dizer do Diabo(?) que um discurso era intercalado a outro.

Não devemos dizer que o problema das feiticeiras seja a sexualidade,isso seria uma falácia

histórica como: a Idade Média é das Trevas, ou,os gregos eram promíscuos,as feiticeiras sofriam

de repressão coletiva,assim como grupos sociais antagônicos de nossa época sofrem o mesmo.

As torturas,privações de alimentos e bebidas,a despeito de ainda ser vistas como uma fase

anterior a execução da feiticeira, era também obtida pelos padres como confessionário;uma

confissão que forçaria a este suposto demônio a se entregar;mas sem querermos estender o

assunto espiritualmente,talvez devamos nos perguntar: Tudo bem, a crença em Demônios naquela

época era indubitável,porém como um demônio sentiria dor no corpo de outra pessoa? Temos um

enigma que jamais será desvendado.

A feitiçaria é este entrechoque de ideias quando mencionamos, a feiticeira é esta mulher do

campo, dócil no princípio, amorosa aos filhos e marido,boa dona-de casa, excelente

administradora do lar e se tem servos,uma boa patroa e ao se transforamr em feiticeira, pois a

transformação é tão mágica quanto as ações,ela é aquela mulher que sai da cama à noite em

companhia de Diana e Hemerodius para procurar vítimas para magias maléficas,ela deita-se com

demônios e forma com ele seres animalescos e que vivem escondidos nas trevas da floresta.

A feiticeira porém é reprimida e ela apenas pode viver no mundo em que sonha,sozinha e à

noite.Se deseja trair seu marido,não o pode fazer durante o dia,pois a vigiam, se deseja sair para

conversar com alguém,isto apenas pode ser feito após as tarefas que terminam muito tarde e que

a impossibilitam de ter um lazer.Esta repressão transforma-se não numa psicose,a mulher daquele

tempo não se assemelha a nossa que reinvidica sua liberdade, a mulher do medievo, entretanto,

só conhece Deus, Diabo, homens e filhos,mas transmuta-se num poder espiritual.Ela pensa: "Já

que eles me colocaram nesta posição subalterna,não tenho direito a falar,me expressar e ir para o

lugar que quiser,usarei dos artifícios que eles temem: a magia negra para deixá-los assustados.

A mulher sempre foi temida nas sociedades patrilineares,o medo que os Argonautas tem por

Medeia,já nos mostra uma época patriarcal,mas deve-se ler este medo como um

"assombramento",uma certa veneração pelos poderes mágicos.Medeia ao entregar os dentes do

dragão que Jasão matara com a ajuda dela, causa assombro diante dos companheiros ao ver os

dentes se transformar em guerreiros ao serem jogados a terra, o " assombramento" neste caso é

apenas algo surgir do nada, e não julga-se mal a mulher por tais práticas.

A situação porém no medievo inverte-se completamente, pois: 1) O homem conhece ou supõe

conhecer todas as práticas mágicas feitas por mulheres, este foi o principal objetivo ao se escrever

o Malleus,uma instrução para se combater as práticas da feitiçaria praticada pela mulher;2) A

magia não tem mais valor mitopoiético, apenas social, e quando mencionamos social, queremos

mostrar os prejuízos que ela pode acarretar; a saber: destruição nos campos,doenças e todo tipo

de malefício.

Citarei apenas outro fator que causou medo no Ocidente e que tem correlação na Idade Moderna,

este é apenas um simples e conhecido acontecimento biológico da mulher.Apesar dos médicos

dos séculos XV e XVI,sempre acrescentarem que qualquer alteração ou supressão do ciclo

menstrual feminino traria problemas de humor, gastrointestinais, vasculares, a Igreja usou isto

como uma prova cabal e inquestionável da inferioridade da mulher.O medo da menstruação é não

tanto por ser um sangue sujo, contaminado,mas que ele poderia acarretar a loucura, caso fosse

tocado ou na pior das hipóteses,misturado a beberagens para se curar doenças.

No caso Jeanne,o que nos chama a atenção é que sob situações de repressão social e

psiquícas,o ego suporte toda a carga da doença,o id desempenha uma função

incomensuravelmente grande,o superego está intacto,tanto que após as dissociações da

mente,quando Jeanne sabia de tudo que praticava durante as crises, julgava-se,condenava-se e

não acreditava nos relatos feitos por outros.

Para finalizar,devo dizer que a feitiçaria na Idade Média é algo que ao mesmo tempo é farsesco e

romântico,os poetas e escritores do século XIX apenas ressaltam no imaginário popular as bruxas

dos contos de fadas de Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve, etc.

LuHessBuss Moonshadow
Enviado por LuHessBuss Moonshadow em 10/05/2011
Reeditado em 05/05/2023
Código do texto: T2961590
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