Criando laços

“A vida é a arte do encontro,

embora haja tanto desencontro pela vida.”

[Samba da Benção, Vinícius de Moraes]

Eu já disse aqui (veja o link n° 1)que não podemos dizer que a internet afasta as pessoas, quando muitas estão juntas por causa dela. Na ocasião daquele texto, comemoramos durante vários dias o aniversário da Leila Míccolis na sua comunidade no Orkut . Pessoas do Brasil e do mundo estiveram “presentes”em uma festa que só foi possível pelo tipo de encontro que a internet pode proporcionar.

Encontros sempre aconteceram, mas não com a quantidade de pessoas com as quais podemos nos tornar amigas nos chamados “ sites de relacionamento”. Nem com a forma com que fazemos. Não clicamos nas pessoas nas ruas e as adotamos como fazemos na internet. Ninguém entra em um ônibus achando que vai ficar amigo do passageiro do banco de trás ou do motorista. No Orkut as pessoas entram em tópicos que dizem “adicione a pessoa antes de você”. Pode aparecer alguém e dizer “vou adicionar todos vocês desse tópico”. Imaginem a situação no ônibus: “Atenção passageiros, não estou vendendo bala, quero ficar amigo de todos. Aceito MSN , Yahoo Messenger e afins”.

Nas ruas, só vemos as pessoas. Não existe um perfil colado na testa dizendo as qualidades e o álbum de fotos das pessoas. Não temos a mesma coragem de abordar pessoas como temos ao abordar perfis na internet, onde parece natural abordá-las em suas páginas, porém de modo diferente de como conversamos no ponto de ônibus ou no supermercado. Mas a internet também é um espaço público e muito se tem discutido, como falei aqui (veja link n° 2), sobre quem bisbilhota o espaço alheio sem o mínimo de educação.

Interagimos com amigos que não conhecemos pessoalmente, trocamos mensagens, idéias e, quem sabe, sonhos, sentimentos e endereços. As amizades, como os amores, ultrapassam muitas vezes as conversas virtuais e acontecem os encontros reais, os “orkontros”, já que falamos do Orkut .

Sabemos que a internet que tem coisas boas e ruins. Tem vírus, fraude e identidade falsa; mas tem amigos. Viver dentro e fora da internet é um risco. Muitos falam que pessoalmente as pessoas são diferentes. A linguagem da internet permite que editemos nossos perfis como queremos, passamos a parte mais interessante e legal de nós mesmos, afinal queremos provocar o interesse do outro.

Identidades são criadas o tempo todo e nem sempre coincidem com a pessoa real. Às vezes o clima criado é tão ilusório ou atraente que decepciona no encontro ao vivo. Ou não. Vai acontecer sempre. E cada um terá uma história boa e ou ruim para contar. Ou um amigo terá, ou um amigo do amigo.

Alguns relacionamentos não acontecem na vida real, mas será que é porque as pessoas trocaram o mundo de carne e osso pelo virtual? Nem sempre. As pessoas podem morar em estados, cidades ou países diferentes. Quem sabe até em planetas diferentes, afinal, já vi no Orkut perfis de pessoas que se diziam alienígenas... O que vai marcar o limite entre o bom e o mau uso da internet nos encontros reais? Não sei, cada um que tente achar sua medida.

*Dedico esse texto a Chris Herrmann e Leila Míccolis, pelo encontro.

(Texto publicado na Coluna Orkultural n° 30)

* Link 1:

www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/cron/cb/2006/060214.htm

* Link 2:

www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/colunistas/cherrmann/ch0017.htm

Solange Firmino
Enviado por Solange Firmino em 25/11/2006
Código do texto: T300600