Um país, um povo, uma enorme decepção!

Um país, um povo, uma enorme decepção!

Parece incrível, mas a reeleição do Lula deve mesmo se consumar. Infelizmente, como demonstram as recentes pesquisas de intenção de voto para presidente da República, o candidato Lula, por mais que apanhe, continua subindo.

Não sei se fico desesperado ou incrédulo. Não sei se choro ou rio. Mas afinal de contas, alguém poderia explicar o que está acontecendo neste país?

Ao refletir sobre tais acontecimentos, imagino estar vendo uma situação que é muito comum nos esportes. A tendência do ser humano é querer que o mais fraco vença, para sentir orgulho e poder esnobar o mais forte e preparado. Torcemos, invariavelmente, para aquele time de futebol mais fraco. Para aquele atleta franzino ou para aquele corredor humilde, de tênis velho e camisa rasgada. Algo como a vitória da superação.

Parece-me que a mídia, bem como a grande maioria da população mais esclarecida deste país, pretende querer ver o Lula e seus “companheiros” derrotados. Esculachados e desmoralizados. De certa forma, querem-lhe aplicar um castigo exagerado, ou aparentemente exagerado.

De outro lado, temos a maioria da população brasileira, que parecem assistir ao filme de David contra Golias. A vitória do mais fraco parece fazer aflorar aquele sentimento de “conseguimos”.

Esqueça esse negócio de corrupção, de dinheiro na cueca, de dossiê fajuto, de recursos não contabilizados, de mensalão, de sanguessuga. Isto não importa.

A eleição no segundo turno virou uma disputa do forte contra o fraco. O fraco, por mais que erre, ainda é vítima. O forte é tirano, ameaçador e prepotente.

Chegamos a um ponto onde não sabemos mais o que é certo e o que é errado. O que é ético e o que é imoral. Não conseguimos mais diferenciar o bem do mal.

Revivendo as palavras de Bob Jefferson, o povo parece vivenciar aquele dia do despertar do sentimento mais primitivo. Sobrevivência é a palavra chave, doa a quem doer, custe o que custar.

Vivemos dias obscuros, de difícil análise, de difícil reflexão. Fatos são irrelevantes. O que prevalece são as desculpas, as mentiras que de tanto repetidas, tornam-se verdades.

Antigamente confiávamos cegamente apenas nos Correios, lembram-se? Agora nem isso mais. Propinas rolam soltas nos cantos daquela enorme estatal.

A verdade disto tudo é que não sabemos explicar o inexplicável. Não acreditamos mais em ninguém, não confiamos mais em ninguém, não sentimos mais nada. Somos lançados ao mar e vamos de um lado para o outro conforme a maré.

Não tenho dados estatísticos em mãos, mas o que parece é que 90% daqueles que progridem na vida financeiramente, não estão nem aí para trabalho lícito, ética, suor ou lágrimas. Será mesmo?

Vivemos um salve-se quem puder. Os fins justificam os meios. O sentimento predominante é aquele de “ruim com ele, pior sem ele”.

Perdemos os bons valores. Não conseguimos sequer saber onde procurá-los. E, se por azar um dia achá-los, não sabemos mais como conviver com eles.

Confesso que minha mente está em rebuliço. Não sei mais o que pensar. Chego a achar que todos estão certos e eu que estou errado. Questiono-me. Será necessário o auto flagelo para me colocar de volta aos trilhos?

Talvez eu deva mudar de religião. Talvez mudar de time de futebol. Quem sabe mudar de profissão? Mudar de sexo? Mudar de cidade? Mudar meus hábitos de vida? Mudar de país? Talvez eu deva mesmo parar de pensar. Estou quase convencido de que devo acabar com meus neurônios. Eles estão me levando à loucura.

Não se trata de um desabafo ou de um inconformismo com a derrota iminente. Vai muito além disso. Sinto que estamos perdendo o rumo, perdendo a direção.

Talvez deva acreditar mais no destino. Alguns pregam que este já está traçado, independente de sua vontade, da forma como guia a sua vida, o que tiver que acontecer irá acontecer.

No entanto, neste momento, as poucas palavras que ainda me restam são: um povo, um país, uma enorme decepção.

Ricardo Pimentel Barbosa

Um brasileiro apenas.