O Dia-D de Lula

O Dia-D de Lula

O dia 06 de junho de 1944, também conhecido como Dia-D, determinou o início do término da ocupação Nazista na Europa. Nas praias da Normandia, na França, ocorria uma invasão das forças aliadas, principalmente norte-americanas e inglesas, com o objetivo de obrigar Hitler a ter que lutar severamente em duas frentes, a oriental, contra os Russos, e a ocidental contra os países aliados.

Stalin, ex-ditador da antiga União Soviética, quase implorava a Roosevelt e Churchil pelo início do segundo front, o que de fato veio a determinar a queda do regime nazista.

No Brasil, as eleições presidenciais de 2006 também tiveram o seu Dia-D. Acredito que tenha sido o dia 30 de setembro de 2006, data do debate presidencial do 1º turno, realizado nos estúdios da TV Globo.

Naquele dia comparecerem três candidatos, Heloísa Helena, Cristovam Buarque e Geraldo Alckmin. O presidente Lula, poucas horas antes do debate, mandou avisar que não compareceria.

Escolha certa, caso contrário, os resultados da eleição poderiam ter sido bem diferentes.

Se tivesse comparecido, teria que se confrontar, não com Alckmin, seu principal adversário, mas com a senadora pelo estado de Alagoas, a Sra. Heloísa Helena.

Haveria ali, sem sombra de dúvida, um encontro da ex-fã com seu ídolo de toda vida. É inconteste que Lula tem medo da senadora. Ficar frente a frente seria algo que faria muito mal ao presidente.

Isto porque a senadora sempre foi uma ferrenha lutadora dos ideais do PT. Daquelas que vestiam a camisa vermelha, participavam de movimentos sociais, lideravam greves, lutavam pelos direitos dos menos favorecidos e tinham o Lula como seu ídolo, símbolo de sua ideologia e um carinho muito especial.

Lula presidente a decepcionou. A mudança de rumo de seu governo levou Heloísa ao desespero. Batia os pés, desafiava o partido e defendia até o fim tudo aquilo que o PT sempre defendeu. Acabou expulsa. E expulsa por aqueles que mais tarde se mostraram como a parte podre do PT, como José Dirceu, José Genuíno, Silvio Pereira e Delúbio Soares.

Esta mágoa ela carrega dentro de si. Como mulher e como brava nordestina, não admitia que tal fato tivesse ocorrido, debaixo dos olhos do presidente sem que ele tivesse movido sequer uma palha para ajudá-la.

O reencontro dos dois era anunciado e mais do que esperado, pelo menos por parte da senadora. Mas ele não quis, fugiu da raia, desapontou a imensa massa de telespectadores.

Para as pretensões políticas de Lula, sem dúvida foi a decisão certa. Um reencontro deixaria o presidente em maus lençóis. Deve ter sido aconselhado a não comparecer.

Aquele debate seria a oportunidade de colocar a brava senadora nos calcanhares do presidente. A emoção que lhe é peculiar seria capaz de desmoronar Lula. Isso não se discute. Por mais hábil que Lula seja, ele ainda a respeita, tem grande consideração por ela e não teria como explicar a forma como o PT se livrou dela.

Diante deste cenário, não há dúvida de que o presidente não teve coragem suficiente para enfrentá-la. Fugiu, dizem alguns.

Por mais que a senadora chame o presidente de líder de gang partidária, de vagabundo e outras atrocidades ainda maiores, o Lula não responde. E sabe por quê? Porque ela está certa. O que fizeram com ela não estava escrito em nenhum manual do PT.

Mas o presidente mudou. O poder faz com que as pessoas tenham que optar muitas vezes por descartar os amigos, inclusive aqueles mais fiéis. O presidente, como se sabe, adora colocar a culpa nos amigos para não ter que assumir, ele próprio, os equívocos de seu governo.

Mas com Heloísa é diferente. Ela não errou, apenas seguiu fielmente os ensinamentos de seu mestre. Com isso, o presidente não tinha como enfrentá-la.

Por esta razão, o dia do debate foi o seu Dia-D. O dia que irá marcar a sua consolidação no poder, para desespero de muitos e alegria de tantos outros.

A estratégia política dos companheiros, in casu, funcionou muito bem e garantirá à Lula um segundo mandato.

Pena que não teremos Heloísa na tribuna do Senado Federal nos próximos quatro anos. Por mais lunática que possa parecer, a senadora é mulher guerreira, verdadeira e idealista.

No entanto, no Brasil, o poder é capaz de mudar o governante e seus ideais.

Uma pena!

Ricardo Pimentel Barbosa

Advogado – Vitória-ES