Pais perfeitos

Quando a gente ainda é bem pequeno pra entender o que é defeito e admira apenas os super-heróis que a gente vê na TV, costuma muito ver os pais sobre esse mesmo prisma.

Nossos pais são super-heróis mais reais, pois eles nos salvam do garoto da escola que quer nos bater, nos acode quando chegamos em casa chorando contando que a “tia” lá da escola nos colocou de castigo, viram uma onça quando alguém da família tenta nos colocar limites. Em suma, são eles os nossos super-heróis, pois são eles quem nos defendem de todos os males que acontecem em nossa vida.

De uma maneira ou de outra, o que parece é que na infância estão bem mais presentes...

De vez em quando um passeio pela praia, uma viagem, compras sempre feitas juntos...

De vez em quando, te leva na escola. De vez em quando te pega dela e leva pra casa...

Te deixa nas festinhas de aniversários dos teus coleginhas...

Te levam ao médico, passam a noite com você quando tem pesadelos, te mimam, te põem pra dormir, mesmo que não dê pra ser todo dia.

Quando você cresce as coisas já não funcionam dessa maneira, pois você já sabe o que é melhor, não é?

Você cresce e por que teus pais também não?

Sim, eles também crescem, ás vezes mais lento que você, ás vezes bem igual, ás vezes mais depressa. O fato é que as despesas com você vai aumentando a cada dia e os pais sentem a necessidade de trabalharem ainda mais.

Muitas vezes é na adolescência dos filhos que estão se fixando no emprego, abrindo novos horizontes, realizando mais alguns sonhos que foram adiados por que você nasceu. De fato, se tornam bem menos presentes.

Ás vezes ainda passeam pela praia, mas ou você ou ele nunca está junto do outro.

Ah, ás vezes ainda viajam, mas ele a negócios e você a passeio, em aviões que insistem em sair em dias e horas bem diferentes.

As compras, ah, você começa a ter coisas mais importantes a fazer. E seus pais? Bem, seus pais começam a acreditar que você nem gosta mais da companhia deles, que passar e te pegar em casa, ou na escola, ou no clube, ou na lan, vai gastar muito o tempo deles.

Quando você entra na faculdade, bem, já tem conquistado o direito de ir sozinho para os cantos e, a menos que esteja bem atrasado, não aceita mais as caronas que teus pais te oferecem quando não estão cansados demais.

Festas? Só com os amigos que te pegam em casa e te trazem no outro dia de manhã, muitas vezes teus pais já tem até saído pro trabalho e você vai dormir, vai cuidar da sua vida.

Médicos? Nossa! Em que mundo você vive pra ir a médicos acompanhados dos pais?

Ás vezes você ainda tem pesadelos. Quem não os tem? Mais já é grandinho demais pra correr pra cama dos pais e dizer: “To com medo!”. Bem, você também já é grandinho demais pra ter medo, não é?

Será mesmo que a gente cresce tanto que não tenha mais necessidade dos nossos pais? Acho, e falo apenas por mim, que não.

Nunca estamos tão crescidos que não precisemos ouvir: “Isso também aconteceu comigo, filho. Mas, vai ficar tudo bem. Eu to do teu lado”.

Sinceramente, não sei qual é hoje o meu maior problema, nem sei bem se tenho problemas, meus pais trabalham desesperadamente pra que eu possa mesmo ter tudo aquilo do que careço, mas gostaria muito de trocar certas idéias com meus pais, de saber como eles viveram, se entraram em conflito, se também tiveram medo.

Infelizmente, por causa da minha faculdade, nem moro mais com eles, mas, sabe, não é muito diferente de quando eu morava. Quase nunca dá pra vê-los, estão sempre tão ocupados com tudo, sempre tem gente por perto querendo instruções deles, deles que deveriam ser meus mestres...

A gente também não ajuda muito. Há até que tenha vergonha de seus pais. Bem, não cabe a mim julga-lo, mas pai e mãe não é aquele ser que sempre vai estar junto de você, mesmo quando não está presente, pelas coisas que te ensinou, pela vida que te concedeu?

Acho que a gente só devia mesmo era tentar chegar mais perto dos nossos pais, olhar mais os nossos filhos.

Deixar que o outro fale quando precisar e falar quando o outro precisar ouvir.

Jamais gritar, mas conquistar a vitória de se fazer ouvir quando for preciso. E saber calar quando as palavras não vão alcançar o que se está sentindo.

A bem da verdade é que, mesmo vendo que os pais tem defeitos, que são humanos, a gente continua querendo que eles nos salve do mundo, que sejam ainda nossos super-heróis.

Mas eles não serão. Não podem ser. São tão humanos e tão pecadores quanto nós...

E os pais também precisam aprender a olhar mais os filhos. Não importa a idade que tenham. Não importam o quanto digam que não precisam de você. Você é seu pai. Seu espelho. Sempre será necessário.

Pai, vamos quebrar essa parede que foi crescendo entre nós. Não vamos deixar que as escolhas que eu fiz, que meus amigos, meu namorado, minha vida, te afaste de mim, por que EU PRECISO DE VOCÊ!

Mãe, vamos acabar de uma vez com os ciúmes e as tentativas de fazer com que a outra seja perfeita e vamos viver a relação que mãe e filha têm pra viver. Vamos deixar que o amor fale mais alto entre nós, afinal, EU AMO VOCÊ!

Clara Belmiro
Enviado por Clara Belmiro em 05/12/2006
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