Grande Mestre

Foi só Chico Buarque anunciar que iria voltar à estrada que o alvoroço na porta das bilheterias começou. Sete anos sem subir aos palcos explicaram os tumultos nas filas em frente aos pontos-de-venda, tentativas desesperadas de compra pela internet e reza braba para conseguir um ingressinho de presente ou algo parecido. Foram seis semanas de show em São Paulo com direito a oito apresentações extras.

Na entrada da casa de show percebe-se a ansiedade nos olhos do público nos últimos momentos antes da apresentação. Na platéia, encontra-se todas as idades, dos zero aos cem anos. Todos sentados, as luzes começam a ficar mais baixa, quando uma voz grossa anuncia: “Com vocês, Chico Buarque!”. O cenário branco revela a penumbra de um simples homem encurvado tocando um violão. Até que a luz ilumina a maior e mais esperada atração da noite. A linha de metal de uma escultura suspensa por fios no palco do show "Carioca" reproduz os mesmos contornos das montanhas do Rio. Numa segunda escultura, uma remissão a uma representação planetária, do sol e da lua e logo no centro em meio de luzes vibrantes, Chico Buarque.

Obviamente, o público masculino não lhe tem a mesma devoção que a platéia feminina, que suspira, se descabela e grita toda sorte de elogios ao tímido músico. Logo Chico, em uma entrevista rápida à jornalistas do jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que não está mais com idade em se considerar um “sex simbol”.

O público de Chico garante que só faz sentido ver o cantor subir num palco quando ele tem algo novo a dizer. É esse o motivo que os fãs atribuem à grande demora, como, por exemplo, o espaço entre sua turnê "As Cidades", de 1999, e a nova "Carioca", deste ano. Chico não deixou nenhuma composição de seu novo trabalho, "Carioca", de fora do show. Há de se escutar desde a bela "Ode aos Ratos", até a valsinha "Imagina", uma música antiga de Tom Jobim feita em parceria com Chico, que no disco foi cantada em duo com Mônica Salmaso. No show, sai Mônica e entra Bia Paes Leme, sua tecladista.

O frisson da platéia a cada canção tocada não deixa dúvidas que Chico Buarque é um dos maiores artistas do Brasil com reconhecimento internacionalmente. Em uma das apresentações, próximo ao fim do show, um indivíduo gordinho, com ralos cabelos compridos, sobe em sua cadeira e chacoalha sem pudor uma bandeira da Argentina. As músicas do novo cd fazem o público refletir sobre cada letra e palavra cantada pelo artista. As mais antigas dão aquele gelo na barriga dos mais experientes, pois foram canções que comporam a trilha sonora da vida de muitos presentes. “Morena de Angola” mostra um Chico irreverente e mais seguro em meio dos holofotes. “Futuros amantes” torna os presentes namorados mais apaixonados do que nunca. Muitos acreditam ser uma música mágica.

Chico dá tchau à platéia. O “mais um” é inevitável. A volta do “malandro”, maneira como o cantor ficou conhecido, arranca suspiros dos fãs. Todos cantam histericamente “Hoje o samba saiu”, e “João e Maria” soa como o adeus. Chico recebe flores e presentes e atravessa o palco dando tapinha nas mãos que estão esticadas na sua frente. Fim de show, alguns tentam uma possibilidade no camarim, mas é em vão. Porém, após a um incomparável espetáculo, o público sai mais leve da casa de show e com a imagem de um homem vestindo a uma blusa azul clara dedilhando as mais mágicas músicas em seu violão.

Diego Mendes
Enviado por Diego Mendes em 06/12/2006
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