Os "irmãos" do Senhor

Virgem Maria

Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)

Domingo 12 Junho de 2005 às 11:09:34

Sei que algumas especulações, citadas a seguir, por colocarem em cheque a castidade perfeitíssima de São José, muito nos melindrar, a nós católicos. Todavia, quero lembrar que foram mencionadas com um intuito de se tomar ciência das variadas formas de entendimentos que tiveram certos cristãos, ao longo da História, a respeito da integridade virginal da Santa Mãe de Deus. [Estes, em sua turva compreensão, preocupavam-se exclusivamente em afirmar a virgindade de Maria, e não a de José.]

a) Uma das soluções: é que os ditos “irmãos de Jesus” seriam filhos que S. José teria tido dum primeiro casamento. Depois, ele ficou viúvo e veio a contrair novas núpcias com a Virgem de Nazaré. [Se foi dessa forma que aconteceu, então, paralelamente, ocorrera algo de curioso: enquanto, São José se tornou um pai para o filho de Maria; Maria se tornara mãe para os filhos de José.]

Essa idéia, aliás, já se encontrava presente num famoso texto apócrifo, chamado de Proto-Evangelho de S. Tiago, do segundo século. Aliás: “O Proto-Evangelho de Tiago... parece ter sido amplamente utilizado nessa época nas liturgias cristãs. A inúmeras edições gregas e traduções antigas indicam tratar-se de um êxito do tempo”[READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o Triunfo do Cristianismo, 1a edição, Reader’s Digest Brasi Ltda., RJ, 1999, p. 135].

b) Uma outra conjectura é que: S. José sendo tivesse assumido uma postura poligâmica, tendo, simultaneamente, duas esposas. [Lembremos que o mosaismo permitia tal procedimento. E que somente, na sua vida pública, o Senhor Jesus revogou tal ‘prerrogativa’ restabelecendo o que era (e deveria ser) desde o princípio: ou seja, somente a validade da monogamia.] Inclusive, penso eu que, essa suposta segunda esposa de José, poderia ter o mesmo nome da Virgem. Haja vista ser comum o nome Maria no tempo de Cristo; daí, a existência de várias ‘marias’ presentes no Novo Testamento. De sorte que, os irmão de Jesus seriam filho de Maria , esposa do carpinteiro José. Só que, obviamente, não seria a Maria Virgem Santíssima, mas “outra” (uma segunda esposa de São José).

Essa tese, de que São José teria tido mais de uma esposa (ao mesmo tempo), já era aventada na Antiguidade Cristã; como o próprio S. Jerônimo cita em sua obra contra Helvídio (muito embora, o mencionado doutor eclesiástico fosse contrário a tal hipótese): “Se adotássemos a possibilidade, como padrão de julgamento, poderíamos sustentar que José teve várias esposas porque Abraão teve, e também Jacó, e que aqueles que eram irmãos do Senhor nasceram daquelas esposas, uma criação imaginária que alguns sustentam”[http://www.veritatis.com.br/agnus. dei/jervpm4.htm]... Observe-se que, pelo que São Jerônimo dissertou, nem ao menos, precisar-se-ia, no campo especulativo, que São José tivesse que cumprir a lei do levirato; pois mesmo sem precisar cumpri-la, ele poderia ter mais de uma esposa (seguindo o exemplo dos santos patriarcas que foram poligâmicos) – porquanto assim era permitido ao homem; muito embora tal prática já não fosse tão comum entre os judeus no século I.

Era possível que S. José tivesse casado com alguma mulher da parentela de Maria. Por exemplo, ele ter contraído núpcias com uma prima de 2o grau de Nossa Senhora. (De sorte que, os filhos de José seriam carnalmente parentes do Messias.)

Obviamente, tanto a explicação de São José foi casado antes, como a que ele acabou tendo duas esposas ao mesmo tempo, não se coadunam com o “sentir” da Igreja. Todavia, quis apenas confirmar a existência de tais argumentos, os quais preservariam, sim, a integridade virginal de Nossa Senhora (mas não a de S. José). Porquanto o dogma é sobre a Virgindade de Maria.

c) E permitam-me, em acréscimo, ponderar um singelo raciocínio: Santa Maria e São José não poderiam ter adotados filhos? A religião que agrada a Deus não é aquela que presta assistência aos órfãos e as viúvas (cf. Tg 1)? E não é uma grande (senão a maior) assistência o adotar crianças sem lares?... Se tantos casais, bem menos virtuosos que o casal de Nazaré, já tiveram tal atitude, por que duvidar que os abençoadíssimos e justíssimos “pais” de Jesus não a tivessem tido? [E mais: seria possível que o casal de Nazaré ter começa a pegar para criar justamente depois que Jesus completou 12 anos, isto é, a partir dos 13, pois está é a idade da maioridade de um judeu diante da Lei (o Bar-mitzvah). É importante notar que até os 12 anos, ao que tudo indica, a Sagrada Família se restringia aos três {daí, a fortíssima impressão no evangelho de Lucas, ao narrar as idas a Jerusalém por ocasião da Páscoa (cf. Lc 2,41ss.), que o Sagrado Lar de Nazaré reduzia-se apenas a Jesus, Maria e José}. A partir daí, o casal poderia ir adotando várias crianças. Se eles adotassem uma criança a cada 2 anos até os 30 anos de Jesus, teriam adotados 9 crianças...]

E não é o próprio Deus que nos dá o máximo exemplo da adoção; haja vista: “Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos” (Ef 1,5). São José, o pai da Sagrada Família de Nazaré, ao adotar crianças, estaria, por conseguinte, imitando a Deus; bem como Maria, a mãe de tão Sacro Lar. Está escrito: “Tornai-vos, pois, imitadores de Deus” (Ef 5,1). “Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).

[Não é curioso, que é justamente na epístola bíblica de S. Tiago – que muitos consideram o seu autor como sendo o ‘irmão do Senhor’ – que temos uma definição de que a religião agradável a Deus está vinculada ao cuidado para com os órfãos? Será que é porque ele (Tiago) experimentara, na própria pele, o drama da orfandade é que o Altíssimo o escolhera para escrever tal missiva da Escritura Sagrada, enfocando tal temática? Drama que teria vivenciado até José e Maria o terem adotado!]

d) Com todas essas hipóteses (anteriormente citadas), sequer se precisaria recorrer ao argumento de que os chamados “irmãos de Jesus” seriam PRIMOS de Jesus... Muito embora, certamente, existam ainda outras tantas argumentações que também serviriam para dar alguma explicação plausível (ou possível). Lembremos, ainda, que os ditos irmãos poderiam ser “tios” de Nosso Senhor Jesus Cristo; haja vista, tios, na Bíblia, podem ser genericamente chamados de irmãos.

e) O fato, é que, o grupo denominado de ‘Irmãos do Senhor’: “Trata-se dos parentes próximos de Jesus consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento”[CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 5a edição, Editora Vozes Edições Paulinas, Edições Loyola, Editora Ave-Mare, RJ/SP, 1993, p. 124, no. 500].

P.S.: O que escrevi está, e sempre estará, sujeito a um maior e melhor juízo, que é o da Santa Madre Igreja Católica. A qual pode corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário para manter intacta a Sã Doutrina.

Bibliografia

-BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.

-CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 5a edição, Editora Vozes, Edições Paulinas, Edições Loyola Editora Ave-Maria, RJ/SP, 1993.

-http://www.veritatis.com.br/agnusdei/jervpm4.htm.

-READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o Triunfo do Cristianismo, 1a edição, Reader’s Digest Brasil Ltda., RJ, 1999.