As TV 's dos Alienados

Hoje vemos que os jovens brasileiros estão completamente alienados com o mundo que está a sua volta, principalmente por causa da mídia que prega o consumismo e o hedonismo ao extremo. E não é só a Globo e a Veja que costumam alienar os jovens brasileiros, mas também uma emissora muito conhecida dos jovens. Uma emissora que diz ter música até no nome. Ela se chama Music Television Brasil, ou, trocando por miúdos, MTV.

A emissora surgiu nos EUA em 1981 com um conceito novo na época: divulgar música através de um novo conceito de arte, o videoclipe. No início ninguém acreditava na proposta, mas com o tempo os artistas e os chefões das gravadoras americanas acabaram aceitando. A emissora queria atingir o público jovem, justamente o mais alienado. E conseguiu. Seis anos após a fundação da matriz, em 1987, a MTV pisava em solo europeu. E no dia 20 de Outubro de 1990, entrava no ar a MTV Brasil, a primeira MTV da América Latina.

Nos primórdios da MTV Brasil, a programação da emissora era bem diferente dos dias atuais. Era uma emissora totalmente underground, ou, melhor dizendo, alternativa. Tinha VJ´s (leia vee-jays, os apresentadores) que sabiam alguma coisa de música, e contava com alguns VJ´s que atualmente são estrelas da Globo, como Zeca Camargo e Maria Paula. A emissora só tinha sinal UHF para São Paulo e Rio de Janeiro(o resto do país tinha que assistir via cabo, pela TVA) e sobrevivia com pouquissímo dinheiro.

Mas as coisas iriam mudar a partir de 1995. Nesse ano era realizado o primeiro VMB(Video Music Brasil), a premiação de videoclipes da emissora. Isso levou a um aumento da procura de pacotes da TVA, e, consequentemente, um aumento na audiência da MTV.

A cada ano a audiência aumentava, até que em 2001 a audiência chegou no auge. Isso se deve a qualidade da programação da época, que, ao invés de apelar, inovava em vários pontos. O carro-chefe da emissora era o Piores Clipes do Mundo, um programa que satirizava os clipes considerados de baixa qualidade, apresentado por Marcos Mion. O programa, que era apresentado nas noites de terça-feira, concorria fortemente com o Casseta & Planeta Urgente, da Rede Globo, e chegava a ultrapassar a atração global em alguns momentos. O programa também conseguiu ressucitar Supla, que voltou a fazer sucesso depois de anos no limbo.

Mas a grade de programação começou a piorar a partir de 2002, com a ida de Mion para a Band. O Piores ficou a cargo de João Gordo, que deixou o programa com cara de freak show. O Riff, Lado B e o Nação, programas especializados de música, que anteriormente eram apresentados no sábado a tarde, foram para as madrugadas dos dias úteis. O VMB, antes apresentado por Mion, foi apresentado naquele ano por Fernanda Lima, que como apresentadora e atriz, só é um rostinho bonito. Naquele ano, que também era de eleições, a MTV também entrou na onda, e criou um programa, o Tome Conta do Braisil, sem pé nem cabeça, apresentado por Cazé Peçanha. O programa, inclusive, trouxe José Serra, então candidato presidêncial, para uma entrevista. Também naquele ano, a MTV criou o Caça-VJ, um concurso para escolher um VJ da emissora. Em cima da hora, a emissora decidiu abrir mais uma vaga. Os ganhadores foram o cearense Leonardo Madeira e o curitibano Rafael Losso, que ainda hoje são VJ's da emissora.

Em 2003, a programação dava sinais de melhora. Naquele ano, a emissora criou fins-de-semana especiais, que eram exibidos as nove da noite de Sabádo, com clipes que marcaram época. Nas tardes de Sábado existia o Comando MTV, onde o telespectador, via Internet, escolhia a matéria ou o clipe que iria ao ar. Mas ainda existiam falhas na grade, como o Disk, apresentado por Sarah Oliveira, que nunca deveria ter sido elevada a VJ, o Fica Comigo e o VMB, ambos apresentados por Fernanda Lima. Mas parecia que essas falhas iriam ser consertadas.

Que nada. 2004 foi a mesma coisa. Mas as coisas ainda iriam piorar.

Em 2005 a MTV iria começar sua queda livre. Naquele ano foi feito um concurso para escolher o apresentador do Disk. Dos cinco candidatos, todos eram do estado de São Paulo(quatro da Capital e um do interior). A ganhadora foi Carla Lamarca, que só tem o rostinho(e o corpo) bonitinho. A loira só durou um ano no cargo e se mandou para o jornalismo da emissora.

Neste ano, a queda livre da MTV foi mais aguda. No lugar de Carla Lamarca, foram contratadas as gêmeas Keyla e Kenya Boaventura, as K-sis. Na verdade, isso foi um jabá dado pela MTV para alavancar as vendas do disco delas. As duas eram uma negação como VJ's. Com o sotaque mineiro(elas eram de Juiz de Fora) forte e imitando os trejeitos da canadense Avril Lavigne, as duas duraram sete meses no cargo, e a MTV não quis renovar o contrato. Foram substituidas por Luísa Micheletti, que parece não estar muito acostumada com as câmeras.

Nesse ano também, a MTV viu sua audiência sendo tomada pela PlayTV, uma emissora dirigida por André Vaisman, ex-diretor de programação da MTV. A emissora decidiu misturar música com animes e videogames, e deu certo. A MTV tenta desesperadamente tirar audiência da rival através de um factoíde: o Instituto Purifica, mas não consegue. E parece que a MTV está mais enrolada ainda, por causa das acusações da PlayTV de controle acionário estrangeiro na MTV, que pertence ao Grupo Abril.

E agora, MTV...

A MTV tentou alienar os jovens brasileiros com artistas de baixa qualidade, como as boy bands e as bandas emo. A PlayTV tenta também alienar, com os artistas dance e com o funk carioca. No fundo é uma disputa por audiência.

Precisamos é de uma emissora musical que trate bem a todos os públicos e que trate a música não como um produto para audiência, mas como disseminação de uma arte. Isso passa pela qualidade da música. Precisamos é de qualidade musical, tanto em falta no nosso país e no mundo.

Ivan Cella
Enviado por Ivan Cella em 09/12/2006
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