Escolhas que fazemos

Nessa grande aventura, que é viver, devemos ser capaz de saber as consequências dos nossos atos! Veja essa grande aventura do marinheiro Ferdinando Magellan, que era português naturalizado espanhol.

Era um homem corajoso, determinado e disposto a conquistar o que ninguém havia alcançado. Certa vez teve um grande sonho. Queria dar a volta ao mundo pelos mares.

A tarefa era muito mais ousada do que conquistar hoje alguns dos planetas que circundam o Sol. Na época, os oceanos guardavam segredos incompreensíveis. O formato da Terra era um mistério. Não havia tecnologia para suportar as tempestades marítimas.

Na alma de Ferdinando pulsava o desejo de explorar o desconhecido. Ele olhava para o mar que se estendia diante dos olhos e se encantava com a possibilidade de explorá-lo. Ele sonhava com água e barcos todos os dias. Quanto mais aumentava o desejo de navegar pelo mundo, mais perdia o prazer de andar em terra firme.

Como era marinheiro e tinha influência na corte da Espanha, convenceu o rei a financiá-lo. Seu sonho penetrou na mente do rei e criou raízes no território da sua emoção. Assim, obteve dinheiro necessário para a grande aventura. A maior aventura de um homem de sua época.

No início da expedição, eram cinco barcos e 265 homens dispostos a tudo para alcançar a façanha. Ferdinando gritava: “O mundo é nosso! Correremos todos os riscos para conquistá-lo”. Ele incendiava o ânimo dos marinheiros. Eufóricos, todos bebiam vinho e zombavam das ondas do mar. Ao partirem, olhavam para os homens que estavam no porto e se consideravam acima dos mortais.

Todo começo é assim. Quando alguém abre uma empresa, ele e seus empregados ficam animados e sonham com grandes conquistas. Alguns já vêem grandes somas de dinheiro nas mãos sem antes começar a trabalhar.

Do mesmo modo, quando um político ganha a eleição para presidente, alguns ficam tão eufóricos ao seu lado que desprezam os problemas futuros e o tratam como se ele fosse um super-herói. Ser otimista é ótimo, mas o excesso de euforia pode gerar um otimismo exagerado que nos faz míopes para enxergar certas dificuldades. Foi assim com Ferdinando e os homens que o seguiam. Eles não imaginaram os sofrimentos intensos que viveriam.

À medida que entravam em alto mar, estavam conscientes de alguns perigos, mas não de alguns graves obstáculos. Estavam preparados para algumas turbulências, mas não para as mais importantes. Os problemas surgiram e Ferdinando, como um líder, os animava a resolvê-los. Sob seu comando, todos controlavam seu desespero e se dispunham a continuar a jornada.

Porém, os problemas aumentaram. A viagem foi longa e, como não havia como conservar os alimentos, eles foram se deteriorando e diminuindo. Então chegou a fome que gerou agressividade e atritos entre os navegantes. Tiveram de diminuir a ração diária de comida. Depois chegaram as doenças. Quem delas trataria? Não havia médicos nem medicamentos avançados na época. Depois chegou a tristeza. Abatidos pela fome e debilitados pelas doenças, os marinheiros já não cantavam. Ninguém batia palmas nem tinha espírito aventureiro.

Por fim, chegou a saudade. Os mais jovens lembravam-se da cama gostosa de suas casas e da comida perfumada e quente de suas mães. Os que adoeciam se tornavam um estorvo para os demais. No começo, formavam uma grande família, agora desprezavam uns aos outros como se fossem estranhos num espaço tão pequeno.

Um homem deve aprender a chorar. Os que choram não represam a sua dor, por isso aliviam a sua alma. Nos barcos de Ferdinando os que choravam eram tratados como fracos. Ninguém se importava com eles. No continente ficaram os amigos, os filhos, os pais, a namorada, a flor da macieira. No mar estava o desespero de homens que perderam a sensibilidade.

A escola da vida trouxe grandes lições. Foram tão intensas as dificuldades que a aventura se tornou um tormento. O mar ficou pequeno para tanto sofrimento. Se tivessem chance de voltar atrás, a maioria não teria embarcado. Mas agora não havia como retornar. Estavam no meio do oceano.

Um dos marinheiros, que estava no barco de Ferdinando, chamado Sancho, ficou muito debilitado. Delirava e dava gritos ensurdecedores que abafavam o burburinho das ondas. Dizia: “Me levem para casa! Não me deixem morrer!” Sancho queria beijar seus pais, ver as flores arrebentando na primavera, sentir o cheiro da chuva irrigando a terra seca. Era um belíssimo delírio.

Ferdinando Magellan se aproximou de Sancho e se ajoelhou no seu leito. Balbuciando as últimas palavras, Sancho lhe disse: “Capitão, leve-me para casa” Em seguida, fechou seus olhos nos braços de Ferdinando.

O capitão sentiu um nó na garganta e um aperto no peito. Cada homem que perdia apunhalava sua alma. Olhava para os colegas famintos e sedentos eficava inconsolado. Cada grito que ouvia repercutia na sua emoção. Jamais imaginou que a grande aventura se tornaria uma grande tragédia.

Não bastasse a fome, as doenças, a escassez de água e o calor intenso, o oceano mostrou sua fúria. Tempestades abateram os pequenos barcos. As ondas orgulhosas invadiram o convés, romperam o mastro, fenderam o casco. O resultado? Homens foram abraçados pelo oceano e silenciados por ele. Morreram quase todos.

Apenas um dos barcos, chamado Vitória, voltou.

E nele havia apenas uma tripulação de 15 pessoas. Eles conseguiram dar a primeira volta ao mundo em três anos. Isso aconteceu em 1522, quando alguns marinheiros aportaram em Sevilha, na Espanha. Foi um grande feito, mas não havia heróis, só homens sem fôlego. O sonho se tornou em pesadelo.

Ferdinando estava no barco Vitória, quase completou a travessia. Mas não resistiu. Faleceu antes de retornar à Espanha. Ele chorou silenciosamente a sua derrota. Nos filmes de ficção, os heróis, freqüentemente, são coroados pelas suas aventuras. Mas, na escola da vida, os heróis sofrem as conseqüências dos seus atos.A vida é uma grande aventura, mas viver perigosamente pode trazer sérias conseqüências. Todos devemos correr riscos para executar nossos sonhos.

Quem é controlado pelo medo, paralisa-se. Quem é controlado pelos sonhos, nunca deixa de caminhar. Faz da vida uma aventura.

A. Cury

Gatolouco, Augusto Cury e Escola da vida Cap.04
Enviado por Gatolouco em 04/08/2011
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