O ASILO

Sou retrógrado e ultrapassado para certos juízos de valor. Não quero morrer em um asilo para velhos. Peço a meu filho, em minha última vontade de vivo, que não me deixe morrer os restos de meus dias, quando assim for, em um asilo. Deixe-me num quartinho no fundo do quintal, mas não me deixe neste lugar ruim, sem amor e sem calor. No quartinho morrerei de mãos postas com um sorriso nos lábios. No asilo tenho certeza morrerei suando a cântaros. E o suor é salgado. Por isto prefiro a doçura do sorriso, vendo a imagem de meu filho esvasiando-se lentamente da minha retina. Sua mão pegando em minha mão, momento em que eu poderei pedir a Deus que prolongue a vida dele por muitos anos.

Repito. Sou ultrapassado. Não desejo que o filho de meu filho o deixe também em um asilo. Os modernos que me perdoem, mas o amor que é amor vai até os fins e confins de nossas dias. O amor não se deixa quebrar. É inteiriço. Tem o mesmo tamanho no ínicio e no fim. Extrapola a razão. É o "ser e o não ser" da humanidade.

Bem, já que fiz o meu último pedido de vida vou pedir à minha família o que eu quero depois da morte, para uma vida nova e eterna. No meu velório prefiro que não chorem. No meu enterro não quero carros. Carro em enterro é uma demonstração do consumismo de massa. Desejo que as pessoas me acompanhem a pé, ainda que sejam poucas. Desejo ainda que no percurso dêem tempo para que sejam tocadas La Cumparsita e No Mar Negro e entre as duas A Quinta de Beethoven.

Antonio Tavares de Lima
Enviado por Antonio Tavares de Lima em 22/08/2011
Reeditado em 23/11/2013
Código do texto: T3176074
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