Reflexão do dia

REFLEXÃO DO DIA

Cada estória de vida, pessoal e única, é o mote de nossa existência e o elo com o qual podemos encontrar o companheiro e demais demandas que esperamos concretizar em nossas vida. Parte de nós mesmos a decisão de deixarmos que as nossas expectativas se percam ou seja impulsionadas na busca da tão sonhada realização.

Eu, por exemplo, já trilhei minha vida profissional, já encontrei meu companheiro, já tive meus filhos. Mas não parei. Não consigo parar. Simplesmente porque estou viva e vivo em família, em sociedade, em contato com amigos, em sintonia com a política nacional, etc. E no meio a tudo isso agora consigo realmente me dar tempo para começar a escrever meu livro, um romance que, por preguiça ou medo de falar a verdade, mantive guardado entre minhas frustrações passadas. No que tudo isso vai dar, não sei, mas resolvi dar as mãos a essa estória.

Mas isso não é o assunto aqui. A questão aparentemente óbvia é que somos dotados de instinto de sobrevivência, que faz com que nos levantemos e recomecemos depois dos fracassos. O problema é que muitas vezes nos esquecemos dessa coisa tão natural e simples

Por isso é que para um novo recomeço não devemos nos esquecer de aprender a ouvir as nossas duas vozes interiores: a voz do instinto e a voz da razão. Não podemos somente sonhar com projetos, ou falar de doçuras. É preciso, também, enfrentar a barbárie e a perversão com as quais nos deparamos nas lutas diárias.

Não podemos deixar que a força interna motivadora, seja um objetivo pessoal, amoroso, profissional, essa força que nos mantém vivos a cada dia, possa ser reduzida a um julgamento subjetivo e destrutivo. Não sou nem pretendo ser escritora de autoajuda, mas é sempre bom lembrar que, muitas vezes, nos abandonamos ao fracasso porque nos auto condenamos, seja por auto piedade, por convenções sociais, por falsas morais , ou errôneas crenças em meros pecados. Somente com a força interior, com a garra de fera pela sobrevivência (seja interna nossa ou no confronto com o mundo exterior) é que podemos nos sobrepor às desavenças, às adversidades, aos acontecimentos ingratos, indesejados, inesperados, que nos chegam, assim como muitos dos bons, por destino ou por acaso. Portanto, nas horas de desespero é, sim, preciso reavaliar os julgamentos que nos parecem monstruosos e as posturas que nos parecem instransponíveis. Esconder de si a própria verdade é a morte mais bárbara a qual podemos nos condenar. Se surge uma raiva desesperada, uma vontade de vingança, uma furiosa ânsia de auto confrontar, ouça com a sua razão o que essa voz tenta lhe dizer. Esses sentimentos que, por questões culturais ou morais, muitas vezes tentamos esconder ou omitir de nós mesmos, podem, no fundo, nos conduzir a um caminho mais reto rumo aos nossos objetivos. Não lute contra a voz instintiva. Ouça-a: pode ser a sua voz de sobrevivência tentando lhe dizer que existem, sim, meios de se superar e vencer os obstáculos e os grilhões das dores. É claro que não se trata de sair fazendo qualquer despautério ou loucura por conta desses vislumbres diante de seus próprios tormentos. Mas, por favor, ouça-os com a clareza da maturidade que o raciocínio lógico e coerente pode lhe proporcionar ao se confrontarem, face a face, o eu instintivo com o eu racional.

Como a maioria que recorre a leituras de autoajuda é um público feminino, vou exemplificar um dos problemas de maiores queixumes entre as mulheres: não raro, nos cobrimos de culpas, de sentimentos de fracasso, de pouca autoestima quando um relacionamento amoroso, ou até mesmo uma experiência profissional, não dá certo. Se isso lhe ocorre, faça uma visita a si mesma. Você já se sentiu assim alguma vez, não é mesmo? Desde o papo entre adolescentes, o que mais se escuta é uma pessoa a reclamando daquele ‘cretino’ que a abandonou sem dizer nada, aquela ‘ amiga’ que lhe roubou o namorado descaradamente, etc. E toma-lhe frustrações, tudo de novo. Aí você se recolhe, prende o cabelo, corta as unhas, passa meses encolhida na cama achando que você não é boa de cama.

Agora vamos tentar ver isso por um lado mais racional. Algum relacionamento humano pode não dar certo simplesmente porque só você agiu de modo ‘ errado’ naquele ‘pacto’ nada definido que você travou com o outro a partir do nada? Ora, francamente, se não deu certo é porque os dois estavam em caminhos diferenciados, ou, até mesmo, opostos. Não deu certo porque ambos erraram ao se atreverem em uma tentativa furtuita no escuro. Ambos erraram por não conduzirem juntos os passos que levam à realização das aspirações mútuas. Amor quando tem que dar certo pede antes o toque das mãos, pede o abraço, pede o beijo, pede o olhar mais vibrante, pede aquele a hora do sexo e por aí vai. Do mesmo modo, uma empresa estuda um candidato a uma vaga, pede currículo, chama para entrevista, estuda, investe, treina um profissional. Parece que são assuntos diferentes, mas são dados semelhantes à velha estória darwiniana da seleção natural.

Agora você acha mesmo que vai encontrar tudo isso assim de cara na primeira vez, na primeira tentativa? Tudo certo e pronto, felizes para o resto da vida. Ingênuo não é mesmo?

A construção dos relacionamentos, do amor, é uma tarefa contínua e permanente, até mesmo depois de décadas de um feliz casamento ou até de trabalho em uma empresa. Se tudo continua bem é porque o casal está sempre trocando aquele carinho, aquele beijo, aquele abraço, aquela cumplicidade, além de conversar abertamente sobre os pontos em que discordam e precisam se ajustar para o melhor convívio entre os dois, preservando-se as identidades, as diferenças, mas ajustando-se às necessidades da vida a dois. E olha que até aí são só dois. Imagina quando chegam os filhos.

Só se deixa maltratar pelo amor, ou pela vida, aquele que é perverso consigo mesmo e se deixa maltratar indefinidamente pela dor ou piedade. De onde vem essa dor? Vem de se auto avaliar negativamente em frente ao relacionamento. Ao invés de dizer ‘eu fiz isso ou aquilo errado’, ou, ao contrário, ao invés de acusar apenas o outro com aquela tradicional desculpa “ aquele f.d.p. me usou e me deixou sem nada com se eu fosse só mais uma cachorra”, pare. Pare tudo. Pare de chorar e ouça a voz instintiva que quer lhe acordar. Vá para seu canto e deixe a voz falar. Não a abafe e nem a grite para todos ouvirem o que compete a você resolver. Mas ouça-a. Escreva-a se precisar. E aprenda a entender o que essa voz está realmente lhe dizendo.

Mantenha-se alerta! Quando a sua ‘fera’, ou fúria, se acalmar, ou quando o velho sentimento de vítima for embora e lhe deixar respirar novamente, deixe a sua razão atuar soberana. Analise o que você quer e responda “o que é que eu quero? O que será que o outro quer? Exponha seus objetivos, avalie-os a dois, pensem em conjunto, se for o caso. Pense bem: foi só você mesma a errada? Foi só ele o errado? A resposta, com certeza, não é simples. Não é uma questão de certo ou errado. A questão é que um relacionamento só pode dar certo se ambos estiverem investindo na vida em comum ajustando o compasso e conciliando os ritmos, buscando realmente a construção de uma vida a dois e na qual ambos possam se ajudar e serem respeitados para o crescimento mútuo. Nesse caso, não haverá adeus repentino, brigas desvairadas, uma só noite de sexo desvairado como se isso solucionasse tudo. Haverá união: uma caminho de mãos dadas, superando obstáculos, momentos de dor, momentos de perdas e de ganhos, momentos de conflitos de opinião. Haverá sempre lugar para o diálogo, para os acertos necessários, para aquele ‘ vem cá, meu bem, porque você é o pedaço de vida que me completa” e, portanto, nossa estória prossegue e eu te acho o máximo para mim. Lembre-se de que todo relacionamento é uma construção a dois, na qual ambos preservam suas identidades, seu espaço pessoal, sabendo identificar o momento exato de ceder, de atender a solicitação do outro, ao longo de um caminhar que leva os dois a se tornarem pessoas mais unidas, mais fortes, mais felizes, mais aptas a enfrentarem problemas pessoais ou conjuntos e a crescerem tanto dentro da união quanto em suas identidades pessoais.

Portanto, supere-se. Você sabe que pode. Se aquele cara teve uma atitude egoísta com você é porque o caminho de vocês nunca começou com a intenção de ser um caminhar a dois, ou ambos deixaram que ele se bifurcasse por falta de atenção mútua.

Bem, usei a ilustração do relacionamento amoroso _ com algumas alusões ao relacionamento profissional_ por serem das questões mais pertinentes na vida que preocupam jovens e adultos. Porém esses contornos, aparentemente simples, são maneiras simples de repensarmos o porquê de projetos ou expectativas de vida se realizarem de modo bem sucedido, ou não. Seja no campo pessoal, amoroso, social, político, lembre-se de que há sempre você e a outra parte. O estudo, os amigos, o companheiro, a família, o trabalho, a sociedade, a vida política de seu país, tudo isso são elementos dos quais você é parte integrante e na qual precisa estar inserida. Tudo converge em uma construção a ser continuamente avaliada e melhorada por todas as partes envolvidas.

Portanto, arrume-se e vá à luta. E lembre que há tempo pra tudo. Construa e viva.

( A partir de um poema que li hoje por essas páginas do Recanto)