DISTÂNCIAS DOS ASTROS

DISTÂNCIA DOS ASTROS

O sol, este belo sol de cada dia, tão nosso amigo e conhecido, dista de nós nada menos de 150.000.000 de quilômetros.

Escrevemos e pronunciamos sem dificuldade esta cifra - 150 milhões de quilômetros – mas não formamos ideia dessa extensão.

Metros, quilômetros, léguas – tudo isto nos é familiar.

Centenas de quilômetros – já é distancia enorme ... Mil quilômetros – começa a vacilar a imaginação .... Cem mil quilômetros – desfalece a mais robusta fantasia...

Um milhão, cem milhões, milhares de milhões de quilômetros – calam-se todas as nossas faculdades imaginativas.

Tentemos outro meio de concretização.

Suponhamos que sobre os mares ígneos do sol pairasse um artilheiro que dai disparasse um projétil rumo à nossa terra. Se o projétil conservasse em todo o percurso a velocidade inicial de mil metros por segundo, atingiria o nosso globo só daqui a quatro anos e meio, ao passo que o estampido da descarga, caso pudesse propagar-se no vácuo, só chegaria a ferir-nos o tímpano treze anos e noves meses depois do disparo da peça.

Um viandante comum levaria 10.000 anos; um trem expresso com a velocidade de 100 quilômetros por hora venceria o trajeto terra-sol em 170 anos.

Mas, que é, no fim de contas, o nosso sol? Antes de tudo não é o sol, mas um sol, um dos muitos milhares e milhões que giram pelos espaços cósmicos – sóis a que costumamos dar o nome de estrelas fixas. Muitos desses sóis são dez, vinte, cem vezes maiores que o nosso; devido, porém, às suas enormes distancias, afiguram-se nos como pequeninos pontos luminosos, quando não se subtraem completamente à percepção da vista e dos aparelhos humanos.

Se a nossa imaginação desfalece em face da distância solar. Sacumbe por completo ante as proporções das distâncias intersiderais além do nosso sistema.

Que medida empregar? Metros? Quilômetros? Diâmetros terrestres? Diâmetros solares?

Tudo isto não passa de medidas liliputianas, que nenhuma aplicação prática têm lá em cima, nos domínios siderais. Mais fácil seria medir em milímetros as longitudes e latitudes do globo terráqueo a medir com essas bitolas as imensidades cósmicas.

Necessitamos de outra medida.

Concordou a ciência em criar uma nova unidade métrica para o mundo astronômico: o ano luz.

É sabido que o raio luminoso percorre por segundo 300.000 quilômetros. A distância terra-sol, como foi dito, comportaria, em número redondo, 150 milhões de quilômetros, trecho esse que a luz solar devora em 8 minutos e 15 segundos.

Ora, o espaço em cujo percurso a raio luminoso levaria um ano inteiro é que se denomina ano de luz, e é esta a nova unidade de medida astronômica. Corresponde, aproximadamente, a 9.450.800.000.000 de quilômetros.

Apesar da estupenda velocidade da luz e dos inconcebíveis espaços que ela percorre em um ano de vertiginoso vôo, a luz da estrela ixa mais próxima – alfa centauri – leva mais de quatro anos para atingir o nosso planeta. Quer dizer que, se neste instante se extinguisse a luz desse astro, nós, habitantes da terra, continuaríamos a vê-la ainda brilhar no firmamento por mais de quatro anos consecutivos.

A estrela fixa mais próxima da terra, como foi dito, dista de nós, mais de 4 anos de luz, ou seja, 280.000 vezes a distância do sol. Para vencer esse trecho, um trem expresso de 100 quilômetros horários levaria 25.600.000 anos; um viajante, 2.800.000.000 de anos.

Comtemplamos a formosa constelação do Orion. No centro rutila o áureo boldrié cercado pelo luminoso trapézio, uma de cujas pontas é formada pela estrela Riga, de luz muito intensa. Riga dista de nós 320 anos de luz, o que equivale dizer que os raios luminosos que neste momento ferem a nossa retina deixaram a superfície desse astro 320 anos antes do nosso tempo, lá pelos fins da Idade Média. Enquanto se precipitavam pelos espaços e, parcialmente, ao encontro da nossa terra, com a velocidade constante de 300.000 quilômetros por segundo, continuava a desenrolar-se cá em baixo o drama da humanidade; travaram-se guerras e assinaram-se tratados de paz; nasceram e baixaram ao túmulo milhões de homens, etc. Nesse meio-tempo nascemos também nós, demos muito que fazer e sofrer aos nossos pais, ensaiamos os primeiros passos, aprendemos o beabá e os mistérios da tabuada; lemos a “mil e uma noites” ou os contos de Pedro Ivo; penetramos talvez nas acrópoles do humano saber, onde eruditos professores nos desvendaram os segredos do verdadeiro e do belo – e, certa noite, nos lembramos de contemplar o céu estrelado e demos com um grande astro encravado na constelação do Orion – a nossa Riga. Alegrou-nos o seu meigo cintilar, mas nem sequer suspeitamos que aquelas luminosas emanações não partiam da estrela nessa noite, nem neste ano, nem neste século – mas daí partiram há 320 anos, quando de nós e de nossos pais nada existia sobre a face da terra .... Durante esses 320 anos se aproximavam do nosso planeta com a velocidade de 300.000 km por segundo – e só agora chegaram.

Que distâncias inconcebíveis não separam os astros!

E quando os raios luminosos que neste instante irradiam de Riga alcançarem o nosso globo, onde estaremos nós? Quem se lembrará do nosso nome? Do nosso ser físico não restará um osso sequer, e nenhum mortal do ano 2.271 terá notícia de que no presente ano foi publicado este livro sobre as maravilhas do universo.

Outra tentativa de concretização:

Tome o leitor uma folha de papel e marque um ponto no centro, que representa o nosso sol. À distância de 1 centímetro marque outro ponto, a terra; 30 centímetros distante do primeiro ponto está Netuno, o mais longínquo dos nossos irmãos planetários conhecidos. Onde teremos de localizar a estrela fixa mais próxima? À distância de 1 quilômetro! E o primeiro grupo sideral da Via-Láctea? A distância de mais de 19.000 quilômetros, isto é, muito além do Japão, porquanto o diâmetro terrestre não chega a 13.000 quilômetros.

E a primeira nebulosa espiral? A quase 127.000 quilômetros do ponto inicial.

E não nos esqueçamos de que demos apenas 1 centímetro para a distância terra-sol, que de fato comporta 150 milhões de quilômetros.

A astronomia registra casos em que subitamente assoma um novo luzeiro no firmamento. Não fará isto suspeitar que existem – sabe Deus em que profundezas do universo! – sois ou estrelas fixas a distância tão enormes que só agora a sua luz chegou a atingir a terra – depois de quantos séculos, milênios e bilênios de vertiginosa carreira?

E, no entanto, é provável que tudo isto seja apenas o princípio das imensidades.

Conheces a via-láctea, meu leitor. Em noites serenas alveja por cima de nós com tanta visibilidade que parece até iluminar misteriosamente os escuros maciços da terra. Como já dissemos, essas enigmáticas fosforescências da gigantesca faixa equatorial celeste não são, na realidade, outra coisa senão o impetuoso flamejar de milhões e bilhões de sóis, os vôos triunfais duma infinidade de sistemas solares, sem comparação maiores que o nosso – do contrário, nem os veríamos – com todo o aparato dos seus planetas e planetoides, dos seus satélites, luas, anéis e cometas...

À força de engenhosos cálculos e pacientes deduções conseguiu o homem verificar que a luz de algumas dessas fosforescentes nebulosas da via-láctea leva 30.000 anos para alcançar o nosso modesto planeta.

Mais ainda: a constelação de Andrômeda está à distância de 1.000.000 de anos luz.

Na Coroa Boreal verificou a ciência uma constelação de 600 nebulosas situadas a tal distância que suas irradiações levariam 130.000.000 de anos para chegarem até nós, percorrendo, nesse período, cerca de .........368.581.200.000.000.000.000.000.000 de quilômetros.

E será que com isto atingimos o limite do universo?

Certo que não. As últimas praias da vi-láctea não marcam, certamente, a extrema balisa do cosmos; talvez que apenas assinalem uma insignificante linha divisória entre uma e outra província do mesmo reino. Se o amigo, colocado numa dessas longínquas atlântidas da via-láctea ou nebulosas espirais, alongasse os olhos para as regiões além desses arquipélagos celestes, para além de todos os mares, ilhas e continentes do universo – novos mares, novas ilhas, novos continentes cósmicos emergiram sem cessar das esvaídas profundezas do cosmos. Novos sistemas solares, novos mundos, novos universos se sucederiam numa série interminável.... E, ainda que andasse e voasse por toda a eternidade, com a velocidade da luz ou do pensamento, nunca poderia dizer. Estou no fim! Porque o universo é de inconcebível extensão e amplitude – e o nosso sistema solar não é sequer um átomo dessa imensidade...

E, tomado de assombro e de pasmo, em face duma palpável Onipotência, exclamaríamos com o profeta:

“Ó Israel! Quão grande é a casa de Deus, e quão ingente o lugar da sua possessão! Grande é ele e sem fim, excelso e imenso! Despede a luz – e eis que a luz se lança!... chama-a pelo nome – e ela lhe obedece a tremer ... As estrelas derramam fulgores, lá das suas altas atalaias, são chamadas, e respondem: eis-me aqui! Este é o nosso Deus – e não há quem se lhe compare!” (Bar. 2, 25 ss).

MARAVILHAS DO UNIVERSO – HUBERTO ROHDEN

Pedro Prudêncio de Morais
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 13/12/2011
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