OLHAI OS LIRIOS DOS CAMPOS

Esta citação bíblica foi dita por Jesus aos seus discípulos no sentido de preparar as pessoas a respeito da preservação de suas qualidades de vida, não permitindo o egoismo, o individualismo, a cobiça, a soberba, a arrogância e cultivando o que é belo, o frutífero, o substancial, o edificante, e com isso o amor em plenitude.

Estamos esquecendo de regar os lírios dos campos que são nossas crianças desprotegidas, que sofrem desde pequenas agressões, violências, abusos sexuais e com isso vão perdendo suas vitalidades, não mostrando suas belezas, seus perfumes, suas alegrias e tornam-se sombrias e tristes e suas pétalas murcham, como se tocadas pelo outono que vem anunciando o inverno rigoroso.

Os perigos rondam seus lares, muitas vezes míseros barracos das periferias onde o crime, a prostituição e as drogas são os ingredientes que lhes são oferecidos e um dia podem nele ingressarem, pois são as únicas alternativas que conhecem.

São filhos e filhas de pais ausentes, pois as mães geradoras de vidas, a mais sublime das virtudes, são abusadas sexualmente ou então se prostituindo e geram criaturas inocentes que não recebem amor, carinho e seus documentos constam apenas o nome das genitoras, pois os pais biológicos simplesmente desconhecem, para suas tristezas e isso causam transtornos psicológicos irreversíveis, pelas gozações e chacotas que sofrem dos amiguinhos, marcando suas existências para sempre.

Qual o garoto que não gosta de ter um pai herói, o companheiro para as brincadeiras, o defensor das situações de perigo, quem o leva para assistir uma partida de futebol, por exemplo? Ou a menina que brinca com a mamãe, trocando a fraldinha da boneca, aprendendo a cozinhar, mirando-se no espelho?

Sentem-se imbuídos do desejo de roubar, ter um bem que jamais a mãe poderia lhes oferecer, como um tênis de marca, um celular ou um outro objeto de desejo que toda criança naturalmente sonha ter e isso é um direito que o Estatuto da Criança e do Adolescente lhes assegura, pois todas são iguais perante a lei.

Um inimigo passa a rondar as suas existências e lhes acenam com propostas irrecusáveis diante de suas situações de misérias e sofrimentos, pois não lhes restam outras alternativas e um dia experimentam "viajar" nessa nau que parece ser mais atrativa, dando-lhes euforias momentâneas que nunca antes experimentaram e caem então no vício das drogas, dominantes e sem retornos.

O crack passa a ser o companheiro do pai ausente, da mãe que lhes ignoram e toma então posse definitiva daquelas crianças já atingindo a fase de adolescência e para permanecerem no maldito vício, tornam-se violentos, roubando, matando, pois na condição de "di menor" a lei é branda, recolhendo-os em abrigos que nada acrescentam em seus currículos, à não ser aprender mais na escola do crime onde atingem o mestrado após completarem 18 anos e depois de soltos, voltam novamente na cena do crime, agora muito mais violentos e bem mais experientes.

Não conseguem se libertar do vício da droga assassina e para suprir suas demandas, roubam, matam vítimas inocentes, pais de famílias, mulheres, pessoas idosas, pois perderam todas as referências, o ódio impera e desconhecem o amor que seria mais apropriado na fase linda de suas existências, a juventude bonita. O fim é a figura que se definha, múmias ambulantes que perambulam pelas ruas, sujas, sem nenhum escrúpulo, perdem seus tetos, suas cidadanias, passam fome até que sucumbem vítimas do próprio vício, de traficantes que cobram suas dívidas ou em confrontos com os policiais, defensores da lei e da sociedade, que muitas vezes também sucumbem no cumprimento de suas missões.

18-01-2012

Nota:- O presente artigo de minha autoria foi publicado no Jornal Cruzeiro do Sul, edição de hoje, do qual sou colaborador.