Meninos da Noite!


Início de noite agradável na cidade!
Tem feito dias frios, chuvosos,
marca registrada de São Paulo, embora fora de época.
Saio pra fazer minha habitual caminhada...
19 hs... Ao invés de caminhar, como sempre,
no Parque Buenos Aires, lugar apropriado,
com várias pessoas , casais, jovens, idosos,
classe média alta, fazendo a mesma coisa,
decido sair pela cidade, já que moro bem
próximo ao centro nervoso da Capital.
Down Town!!! Igual a qualquer um do mundo,
nas grandes metrópoles, assim como aqui!
Só correrias... pontos de ônibus lotados,
as pessoas saindo de seus trabalhos,
ansiosos para voltarem às suas casas
para, no dia seguinte, voltarem à mesma rotina.
Paro na Praça da República...
Alguns vendedores ambulantes permanecem ali, firmes,
com a possibilidade de ainda venderem algo,
um chocolate, água, refrigerante, bijouterias,
aos passantes que descem apressados as escadas rolantes
do metrô, ou correm, ofegantes,
fazendo sinal de mão para pararem os ônibus.
Avenida Ipiranga, repleta de carros!
Motoristas irritados, correndo em demasia,
freando bruscamente quando fecham os semáforos!
Todos têm pressa!!!
E, em meio a esse quadro, típico de São Paulo,
vejo algumas crianças, dormindo, amontoadas,
coladas umas às outras, para se protegerem do frio iminente!
Dormindo, não é bem o termo exato.
Na verdade, estão quase desfalecidas,
largadas, hipnotizadas, pelos efeitos das drogas
que, certamente fizeram uso o dia todo!
O mais provável é que tenham cheirado
a “cola de sapateiro”, que conseguem por poucas moedas,
dadas por alguém que, não resistiu à freqüente frase:
“Tio, me dá um trocado...?”
Olho para aquelas crianças.
Não mais do que 10, 12 anos de vida...
E... que vida, meu Deus!?
Sem teto, sem alimento adequado,
sem seus direitos, que todos pregam,
mas que não saem do papel, da burocracia,
do desinteresse dos poderosos que podem e deveriam
tomar as providências adequadas para que
esses direitos fossem respeitados, de fato.
No entanto, estão ali, sozinhos, ao desalento,
sem nenhuma condição de sobrevivência digna,
sem carinho, sem fé, sem futuro...
Sem esperanças no amanhã!
E... que amanhã!
Vão acordar, juntar os trapos que usaram para se cobrirem,
saírem pelas ruas, sem rumo, parando nas esquinas movimentadas,
de gente apressada passando, a pé, em seus carros, nos ônibus lotados
e, novamente, com seus olhinhos tristes de quem sabe
que foram esquecidos pela sociedade,
por pessoas que até temem quando eles se aproximam...
Estenderem a mão e pedirem:
“Tio, me dá um trocado...?”

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