Preciso falar sobre o Alexandre (Ou A segunda morte de Alexandre Melo)
 
Deparei-me hoje, embora não tenha sido surpresa, com um artigo escrito por Marco Aurélio Bissoli, repórter free – lancer, para a Tribuna de Lavras, sem dúvida o semanário mais lido da cidade: Mãe, que teve o filho assassinado por conta do uso de drogas, desabafa. A mãe, no caso, é a mãe de meu sobrinho Alexandre Lopes de Melo, filho de meu irmão Ronaldo, falecido em 2008. Não foi surpresa para mim porque já sabia que essa seria a forma utilizada por ela para combater a dor: escrever. Gritar a sua dor na esperança de ser ouvida por quem faz a diferença nessa questão – outros jovens na mesma situação, o Poder Público, os Legisladores.

O artigo está muito bom. Marco, a quem acho que posso chamar de amigo, é um repórter sério. Não fez sensacionalismo barato, contou a história tal e qual aconteceu, tal e qual foi contada pela mãe e disso sou testemunha porque ouvi a mesma história, sentada em sua sala enquanto víamos as fotos dele, desde bebê, muitas tiradas por mim.  Tenho certeza de que o artigo vai tocar muita gente. Mas não posso negar – foi doloroso ver a foto dele ali estampada, os olhos tristes, como se soubesse que o seu futuro nunca seria presente.

Jane, é esse o nome da mãe de Xande, travou uma longa batalha para tirar o filho desse caminho que começou por volta dos vinte anos, com um intervalo de alguns anos em que ele se manteve sóbrio: o período em que freqüentou uma comunidade espiritual, a Summit Lighthouse. Durante alguns meses, a pedido dele, eu freqüentei a mesma comunidade e esse é meu único consolo. Quando a comunidade se dispersou, ele voltou para a antiga vida. Jane diz ao repórter: “Sou a favor da internação involuntária. Meu filho não tinha mais autonomia em relação à própria vida.” E ela tentou, Procurou ajuda em todos os níveis do Poder para conseguir interná-lo e não conseguiu. Uma vez, uma única vez ele concordou em ser internado. Ficou quatro meses em uma clínica, mal voltou para casa houve um retrocesso. Na semana em que foi assassinado, outra clínica resolveu aceitá-lo contra a própria vontade, mas não deu mais tempo. Ao entardecer do dia 09 de janeiro, em uma casa na proximidade da casa de sua mãe e de seus irmãos ele foi assassinado a golpes de tesoura. Vale do Sol é o nome do bairro onde tudo aconteceu. Vale das Sombras será por muito tempo em minhas lembranças. Ali meu sobrinho Alexandre Lopes de Melo, o Xande, perdeu a vida pela segunda vez, pelas mãos de um viciado como ele. Um viciado que, segundo Jane, foi apenas o instrumento que Deus usou para retirar Alexandre desse mundo escuro em que estava vivendo e levá-lo para a Luz – a Luz da Chama Violeta. E quando digo que ele perdeu a vida pela segunda vez é porque na verdade a droga já o havia matado quando lhe retirou o poder de decisão.