Textos são cartões de visita

No passado, os cartões de visita eram itens fundamentais nas relações. Para serem recebidas, as pessoas entregavam o seu cartão de visita nas mãos do empregado, que o levava para o anfitrião, que a partir daí decidia o seu grau de importância, se receberia ou não a visita. O cartão de visita se encarregava de dizer aos outros quem você é. Hoje em dia, os textos que produzimos têm função semelhante.

Como se diz, o papel aceita tudo, a internet aceita tudo. Muito se fala da liberdade inalienável de publicar o que quiser, dizer o que quiser e se auto-intitular especialista no que quiser. Discursos contrários – de ser prudente, de pensar antes de publicar, de abrir mão de dizer certas coisas – são rapidamente taxados de preconceituosos ou repressores. Se a pessoa escreve errado, o que é que tem? Se ela quer escrever mesmo sem entender muito do assunto, qual o problema?

O problema é que um texto que tem a nossa assinatura nos representa. A internet tem o agravante de não ser perecível, de uma publicação de anos atrás poder voltar à tona a qualquer momento. Ao contrário de um simples cartão, um texto chega até mesmo àqueles que não gostaríamos de visitar, transita de maneira incontrolável. Por mais invasivo que seja, nosso conteúdo pode ser acessado por empresas e avaliado da maneira mais tacanha e preconceituosa o possível. O que escrevemos pode chegar antes mesmo de nós – e nos representar tão mal que nem tenhamos a oportunidade de nos apresentar pessoalmente.

Mesmo para quem não tem uma profissão ligada à escrita – mesmo que seja apenas um currículo – uma publicação não deixa de ser um material de trabalho. Antes de colocar algo com o seu nome por aí, lembre-se que nem todos lerão com olhos compassivos, nem todos perdoarão os erros de concordância, nem sempre será possível voltar atrás, justificar que estava com pressa, que estava brincando ou que apenas não revisou antes de publicar. Todo o cuidado tem que ser tomado antes – depois de lido, geralmente já não há mais o que fazer.

Livros e afins

seravat
Enviado por seravat em 29/03/2012
Código do texto: T3582273