Tenho observado ultimamente algo que muito tem me inquietado. As pessoas andam cada vez mais tensas, preocupadas e deprimidas. Não sei se é conseqüência de uma sociedade consumista, de um sistema capitalista perverso que privilegia apenas a força produtiva, a beleza e os estereótipos. Acho que a situação é bem mais complexa e não cabe em minhas considerações nenhum tipo de reducionismo.Mas venho dando tratos à bola nestas filigranas do comportamento humano.

Quando um grupo se reúne, sempre tem alguém que puxa o fio da fofoca.E os comentários sobre a vida alheia começam e vão abrindo passagem para outros tantos, cujos personagens sempre são os ausentes da vez. E quem tem o hábito de ouvir muito, além de falar ( como eu), percebe que todos da roda se condoem das mazelas alheias, citam exemplos de casos tristes, cada um mais comovente.Até aí, tudo bem. É dá natureza humana a compaixão, ou pelo menos deveria ser.É saudável e faz parte do sentimento cristão a gente se comover e ser solidário.Mas...

Sempre gostei de estar entre amigos,seja para um happy hour nas sextas-feiras, um encontro para um café à tardinha, ou mesmo numa visita rápida de final de semana para uma conversa informal.Sou caseira por excelência, por isso gosto de receber e fazer visitas casuais.Gosto de gente, de manter contato, de estreitar os laços afetivos.No entanto, venho me aborrecendo ultimamente com a constatação de algo meio perverso.O riso, as boas gargalhadas, a descontração vêm dando lugar às admoestações, às cobranças que vão se tornando intermináveis.É um tal de: Nossa, quanto tempo! Por que vc não me liga mais? Puxa! Esqueceu dos amigos? Parece até que você não quer saber da gente...E assim vai. O abraço gostoso do encontro, o beijo gratuito, as boas-vindas sinceras e festivas vão desaparecendo.É como se o direito à privacidade, de cada um viver suas escolhas ameaçasse a harmonia do grupo, comprometesse a amizade.Falando assim até parece algo inverossímil, não?

Se cheguei a essa triste constatação somente agora, é porque talvez seja este o momento da minha vida que tento ser o mais leve possível.Venho tentando desacelerar e fazer o que eu gosto.E sou grata a Deus por conseguir colocar em prática pequeninos sonhos.Entre eles(talvez o mais importante) a experiência de viver uma história de amor sem cenas tórridas de ciúme, sem muitas cobranças. Talvez por estar com o coração prenhe de amor e já não correr feito uma maluca para um lado e para o outro, tenho me tornado mais metódica, intuitiva e observadora.Ah, e já não atendo prontamente a todos os convites para sair.Resolvi atender mais aos meus desejos do que aos dos outros. E nesse processo tenho visto as pessoas do meu convívio como elas realmente são.No início fiquei tristinha pela que vi sob essa nova ótica.Mas agora, passado um certo tempo, venho me entendendo comigo mesma e com as minhas pessoinhas queridas.É que a maioria não se dá conta de suas fragilidades, de suas imperfeições, de suas carências.É sempre mais difícil voltar-se pra si mesmo e conhecer seus demônios, seus defeitos do que ver tudo no outro.E mais difícil ainda é aceitar que o/a outro/a esteja feliz, esteja amando sem poréns, sem neuras.Quando alguém consegue romper com o círculo vicioso das neuroses e tenta viver o amor possível , essa pessoa se torna alienígena, passa a não pertencer ao grupo, deixa de ser re-conhecida
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Tenho vivido isso na pele, mas, felizmente, tenho aprendido a lidar com a situação.Confesso que não é simples.Não se submeter às cobranças egoístas, sentir-se deixada de lado por algumas pessoas não deixa de incomodar.Acredito sim na convivência harmoniosa, na amizade verdadeira, na determinação da gente ser o que é, buscando aprender sempre sem, no entanto, abrir mão de si mesmo(a).Assim, vou vivendo a minha felicidade, torcendo muito para que todos possam sentir o mesmo.Vou seguir convivendo com minha turma, fazendo todas as concessões possíveis, desde que as mesmas não me anulem como pessoa, como mulher.
Se cada um tentar se conhecer bem antes de fazer qualquer tipo de julgamento alheio, se todos tentarem conhecer de perto suas reais carências, talvez a satisfação pessoal,o contentamento verdadeiro possam fazer parte da vida de forma efetiva, apesar de todos os percalços a que estamos sujeitos o tempo todo.

Ser ou estar feliz exige uma cumplicidade com a felicidade de todas as pessoas.Afinal habitamos o mesmo mundinho de meu (nosso) Deus.Se um fio da imensa teia cósmica a qual estamos presos se romper,afetará diretamente cada um de nós.
amarilia
Enviado por amarilia em 12/04/2012
Reeditado em 04/05/2012
Código do texto: T3608494