Prefácio de Lenita Rimoli Esteves

OBAÔBA, gente nova no pedaço!!!!

Embora seja extremamente jovem, Marcos Baô é meu conhecido de longa data. Desde muito antes de ele se chamar Baô. Eu estive perto dele quando ele tinha cerca de seis anos, e costumava “dilisgar” o telefone. Depois, ele ressurgiu, mais de dez anos depois, dessa vez para ser meu aluno. Não é interessante? Pena que foi só por um ano...

E agora, ele vem Baô. Na verdade, ele é Baô. E me deu a honra de escrever o prefácio de sua obra de estréia na ficção, embora já tenham circulado informações de que ele andou escrevendo outras coisas por aí.

Mas deixando de lado a ligação afetiva, eu aceitei escrever este prefácio porque gostei do que li, um “rascunho” dos contos que agora se apresentam ao leitor. Baô mostra ter umas características singulares de escrita, atributo fundamental para um artista. A singularidade talvez seja o traço mais distintivo do artista; mas ao mesmo tempo, ela precisa ser aceita e apreciada.

É por isso que eu acho que esse rapaz tem fôlego e futuro. Nas suas frases é possível “pescar” muita coisa preciosa, e percebemos que um certo estilo artístico pessoal começa a tomar forma. Baô cunha palavras que caem bem em meio a seu texto, como em

...resolveu que a rotina da cidade era quem absurdava e não o teor alcoólico na sua corrente sangüínea,

ou então,

Virgínia, menos por desconfiança que por irritação, taxativou:

—A gente só vai comer, seu Armando, com esse assunto resolvido.

Baô também tem um jeito interessante de montar seus diálogos e não usar verbos dicendi. Taí, talvez eles não sejam mesmo necessários. Pelo menos, não fazem falta no texto dele. As analogias também são interessantes:

fechou os olhos e aspirou o ar como se tivesse acabado de fazer amor, ou comer brigadeirão.

Outras vezes, as frases são sucintas e diretas, criando um efeito muito sugestivo:

Eu perdi um amante, ele desinventou um amigo. Em outras palavras, com as suas aliás, “um viado filho da puta”, foi como fiquei para ele. Eu? Só fui coerente!

Mas o que logo ganhou minha simpatia foi como ele descreve e enumera alimentos, comidas. Baô é tão expressivo que ficamos com vontade de provar aqueles quitutes:

Fritou quibes, coxinhas, empanados de frango, de legumes, batatinhas também, adorava! Nas panelas com o filete de azeite refogou alho, cebola, tomates picados e partiu para a preparação dos molhos, enquanto vigiava o cozimento das massas e controlava a fritura. Quando já estava tudo sob controle foi preparar bolinhos de chocolate, recheados com pequenos tabletes de chocolate também, para acompanhar o sorvete.

Ou então, ainda:

Geléias incríveis, tortas salgadas, queijos dos mais diversos tamanhos, café aromatizado por chocolate, amêndoas, refrescos gelados dos mais variados sabores.

Neste livro há contos que brincam com o fantástico e o absurdo, outros que exploram o dia-a-dia com toda a sua falta de graça, as relações amorosas e de sedução, as relações de poder, tudo com boa dose de humor. O último conto, o mais longo e denso, é um belo exercício na técnica do monólogo interior, que vale a pena ser apreciado.

Faço votos que o livro envolva o leitor, como conseguiu me envolver. A redação de Baô tem personalidade e com certeza irá florescendo e se aperfeiçoando cada vez mais.

Lenita Rimoli Esteves

possui mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e doutorado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1999). Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Letras Modernas. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Tradução, atuando principalmente nos seguintes temas: tradução, psicanálise, ética, tradução literária e James Joyce.