Não é fácil assim, sentar e escrever!

(Dedicado a todos os colegas que escrevem e ao ‘jeitinho brasileiro’!)

Só quem escreve sabe como fica a cabeça de um autor quando ele quer escrever e não consegue. Não é pela questão de não saber o que escrever, é por dois motivos: é por ter tanto o que escrever e as pessoas ao nosso redor não entenderem esse nosso momento.

A gente sabe que os autores mais consagrados tem seus locais para escrever, estão ganhando para isso, são reconhecidos e há toda uma rotina para isso. Mas há aqueles em que escrever é vício e a mesa do jantar é um local geralmente adorável de sentar em frente do notebook e ‘mandar bala’. Se não tem notebook, vai no papel e lápis mesmo.

No mundo de hoje, sentar e escrever é como encontrar um pintor retocando a sua obra de olho na paisagem em plena Avenida Paulista, nem todos entendem que você está criando ou escrevendo! Acham que a pessoa não está fazendo nada, não trabalha e não produz.

Uma amiga jornalista que adora escrever contos mora com os pais e é free. Todas as manhãs, ela senta na mesa da sala e escreve até a hora do almoço. Ela me conta que a mãe AVISA: “Minha filha, a Paulinha, avisou que abriu concurso para a Universidade na área de jornalismo, uma vaga! Se não quiser, vá dá aula particular para o Robertinho!”. Eu já falei para ela mudar, sair da mesa do jantar e ir para o escritório, para o jardim atrás da árvore no fundo do quintal. É horrível, amiga!

Tem outra amiga que estava terminando de escrever o final de uma crônica antes que o marido voltasse do trabalho com os dois filhos da escola, estava ela toda empolgada escrevendo sobre “Carnavais, Malandros e Heróis” de Roberto da Matta quando a empregada avisa que acabou o gás perto da hora do jantar, perto das 18 horas e a Dona Rutinha ainda avisa que precisava ir embora porque os motoristas dos transportes coletivos ia começar uma greve naquela noite. Lá vai, a amiga, cuidar do gás e ainda sozinha, aproveitar para passar no banco para pagar a fatura vencida, passar na padaria e terminar o jantar. Detalhe: na manhã seguinte, a empregada dela, Dona Rutinha, não foi trabalhar por causa da greve dos ônibus! A amiga viu a Dona Rutinha no shopping que fica na esquina de sua casa, almoçando no restaurante chinês.

Eu quero ler essa crônica. Eu até já fui pesquisar sobre os ‘Malandros’ para você, amiga, com certeza será uma bela crônica! No Brasil, a gente escreve, pelo menos tenta... mas tem muita gente com ‘jeitinho brasileiro’ nesse país do carnaval! Salve Roberto da Matta!

Nota para o nosso conhecimento:

Roberto da Matta, publicou “Carnavais, Malandros e Heróis” em 1979 onde analisa a sociedade brasileira abordando aspectos como o ‘jeitinho brasileiro’.

Sobre C. Gushiken

Esse texto publicado faz parte do conjunto de pesquisas que está sendo realizada acerca do tema “O mundo dos falsos” (falsidade, a arte de enganar, jeitinho brasileiro, mestres em mentiras, malandragem, mitos, etc). Quem puder enviar material sobre o tema, agradecemos!

Cintia Gus
Enviado por Cintia Gus em 23/04/2012
Código do texto: T3629140
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